Alívio, mas nem tanto
Inflação é a menor em duas décadas, mas a sensação de preço baixo não chega à classe média. A culpa é da alta de despesas em serviços como saúde e educação
access_time
19 jan 2018, 06h00

MAIS EM CONTA - Os alimentos ficaram 5% mais baratos no ano passado (Robson Fernadjes/Estadão Conteúdo)

O Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) do IBGE leva em conta o orçamento de famílias que ganham entre um e quarenta salários mínimos. É uma média tirada com base em um amplo espectro. Nessa família imaginária, os gastos com alimentação e bebida representam quase um quarto do orçamento mensal. Quanto menor a renda, maior o peso das despesas com comida; na outra ponta, brasileiros com salários mais altos gastam menos, em termos proporcionais, com alimentação e costumam desembolsar mais com educação, saúde e lazer. Um cálculo do Ipea dá a dimensão do impacto distinto: a inflação das famílias cuja renda mensal é inferior a 900 reais ficou em 2,2% em 2017, abaixo portanto do índice geral, de 2,95%. Para as famílias com renda superior a 9 000 reais, a variação chegou a 3,7%, bem acima do índice geral.
Famílias com crianças em idade escolar são diretamente afetadas pelo reajuste das mensalidades nas escolas. Para os idosos, reajustes de planos de saúde e medicamentos consomem boa parcela do orçamento. Como serviços médicos e de educação subiram bem acima da inflação média no ano passado, o aumento atingiu em cheio a classe média. Os planos de saúde individuais, com 8,2 milhões de usuários, sofreram um reajuste de 13,5% autorizado pela Agência Nacional de Saúde (ANS). Essa é uma tendência que vem de alguns anos: de 2012 a 2017, a alta chegou a 85%, quase o dobro da inflação geral do período, de 44%.
A incorporação de novos tratamentos
e medicamentos no rol de coberturas obrigatórias e o aumento do número
de exames requeridos pesam para as operadoras, o que acaba sendo
repassado para as mensalidades. “São reajustes aquém daquilo que
julgamos adequado para cobrir o aumento de gastos”, diz Reinaldo
Scheibe, presidente da Associação Brasileira de Planos de Saúde
(Abramge). O indicador de custos médico-hospitalares, que serve de
referência para o setor, teve variação de 20,4% em 2016.

O cenário geral para os preços permanece benigno nos próximos meses. O Banco Central deverá reduzir novamente a taxa básica de juros, a Selic, na reunião de fevereiro. Olhando mais à frente, porém, focos de pressões inflacionárias voltarão a aparecer. “O aumento no número de pessoas empregadas e a recuperação dos rendimentos são fatores que deverão levar a remarcações de preços no futuro”, diz Marcio Milan, economista da consultoria Tendências. Para que os brasileiros possam se beneficiar de forma mais homogênea dos preços estáveis, será preciso que o governo faça os ajustes necessários para reduzir o custo Brasil e abrir a economia à concorrência.
Mas a grande realidade é que a inflação só baixou, porque o povo está sem grana para gastar e aí os produtos não aumentam, é meio óbvio.
Nenhum comentário:
Postar um comentário