To emotiva hoje. Sensível. Me apego a coisas bonitas que me chegam, coisas engraçadas, perguntas triviais de amigas sobre a quantidade de açúcar na receita do bolo. Coisas leves assim. Ainda persisto tomada pela fé de que somos melhores do que quem nos desgoverna. Sigo acreditando que coletivamente podemos transformar o presente e o futuro.
Hoje falei sobre Covid-19 para pessoas sem comida em casa, sem saneamento básico, sem casa segura e sem direito a nada. Estava aflita e cheia de medos. O que falar? Como falar? Como contribuir numa situação tão adversa? Antes que perguntem, falei a essas pessoas através da
Bruna Silva Rodrigues
, já que eles não têm acesso a essas discussões.
Bruna, uma mulher negra, periférica e militante, estava preocupada por que a TV só falava “pros brancos da classe média”. Era a minha preocupação, também.
A resposta para as minhas angustias, obviamente, veio de quem está lá. De quem viveu e ajuda pessoas que ainda vivem esta realidade. Bruna e eu construímos estratégias, pensamos soluções, trouxemos os protocolos técnicos para a realidade dura das comunidades. Ela sempre puxando minha orelha, adequando a minha linguagem metida a besta a uma linguagem que fosse mais acessível. Eu tentando ajustar orientações e entender que ali tudo será feito na medida do possível.
Sabe, meus caros, eu luto por um mundo justo onde nenhum homem, nenhuma mulher precise escolher entre morrer infectado por um vírus ou morrer de fome. Eu acredito na construção de uma nova mentalidade hegemônica. Faço trabalho de formiguinha estimulando pessoas a pensarem fora da caixinha. E, enquanto a gente não supera este modo de produção que oprime pessoas em condições miseráveis enquanto outras ostentam luxo, a gente tenta lavar a mão com a água reservada dentro de uma garrafa de plástico, a gente ensina a ferver água pra jogar na roupa que se usou na rua, a gente inventa máscara pra proteger os trabalhadores que não tem opção de ficar em casa, a gente orienta sobre não levar a mão ao rosto e sobre proteger nossos mais velhos.
Meus irmãos e minhas irmãs, entendam! Não há luta antirracista, não há luta por direitos da população LGBT ou da população indígena, ou das mulheres, não há luta por direitos dos animais que não precise questionar este sistema e o modo de produção que nos esmaga.
Há uma luta que precisa tomar fôlego e força. Há uma luta que precisa ser a luta de todos nós. Pensem nisso. Não há saída, não há reforma, não há remendo que torne este sistema minimamente decente. É preciso superá-lo e torná-lo obsoleto. Precisamos de novas alternativas. E a gente só constrói isso coletivamente.
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