25 de março de 2019
O Financial Times, tradicional jornal britânico ligado ao sistema financeiro, publicou artigo na seção “A grande leitura/Américas” sobre a atuação da milícias no estado do Rio de Janeiro e faz a vinculação com o assassinato da vereadora e ativista Marielle Franco (PSOL).
Segundo o jornal, as milícias são gangues paramilitares assassinas, lideradas por policiais e ex-policiais, que surgiram nas últimas duas décadas como uma ameaça à segurança pública e à integridade do Estado.
Marielle, que foi chamada pelo diário de “Alexandria Ocasio-Cortez da política brasileira”, é descrita como uma oradora pública articulada e carismática e que tinha uma campanha contra a corrupção e a violência policial. Para o jornal, sua atuação a tornou uma estrela em ascensão da política do Rio de Janeiro, uma conquista improvável para uma mulher negra e gay de uma das favelas da cidade.
O Financial Time relata que dois homens foram presos como suspeitos de assassinato, ambos ex-policiais, e a apreensão da “maior quantidade de armas ilegais já feita no Brasil” na mesma operação no chamado “Escritório do Crime”.
O assassinato de Marielle, continua o periódico, também levanta questões desconfortáveis para Jair Bolsonaro, o novo presidente de extrema-direita do Brasil. “Figuras de longa data na política do Rio, Bolsonaro e seus filhos têm uma história de se associar com pessoas próximas de membros conhecidos e suspeitos da milícia”, explicou.
Além disso, o veículo britânico ressalta que os holofotes sobre as milícias se chocam com o plano de segurança que Bolsonaro está propondo e a filosofia que o ajudou a ser eleito.
O presidente acredita que a polícia deveria ter mais liberdade para contra-atacar suspeitos de crimes. No entanto, enfatiza a publicação, a morte de Marielle sugere que a raiz de pelo menos parte da violência que atinge tantas cidades brasileiras é o “olho cego” que as autoridades lançam sobre as milícias, que, por sua vez, agem como um Estado quase paralelo.
O FT recorda que, no início, as milícias ofereciam proteção às empresas locais a um preço modesto que muitos estavam dispostos a pagar. De lá para extorsão foi um passo curto, e logo as milícias estavam vendendo proteção contra si mesmas. Eles se expandiram para outros serviços: transporte público informal, distribuição de gás de cozinha, TV a cabo pirata, venda e aluguel de imóveis comerciais e residenciais e muito mais.
A linha de negócios mais lucrativa para as milícias tem sido o setor imobiliário e direitos de terra, conforme a reportagem, justamente a questão principal do trabalho da vereadora na época de sua morte.
Nos últimos 20 anos, muitas novas milícias foram formadas: um estudo do ano passado descobriu que estavam presentes em 165 favelas e em outros 37 bairros da cidade do Rio, áreas da cidade que abrigam uma população combinada de mais de 2 milhões de pessoas. “Eles distribuem a justiça muitas vezes horrível e letal, projetada para dar o exemplo, às vezes para o comportamento criminoso, às vezes para atos de desobediência, como comprar gás de cozinha do distribuidor errado”, pontua a publicação.
O texto de 36 parágrafos, acompanhado por muitos gráficos, mapas e fotos, continua dizendo que a presença dessas milícias assombra a cidade e cita uma pesquisa do mês passado que descobriu que os moradores do Rio tinham mais medo das milícias do que das gangues de drogas.
*Com informações do Estadão Conteúdo
Nenhum comentário:
Postar um comentário