3.25.2019

Bozo estimula celebração do golpe militar de 1964; generais pedem prudência





Presidente orienta Forças Armadas a comemorar aniversário 

do golpe militar de 31 de março









Tânia Monteiro, O Estado de S.Paulo
25 de março de 2019 | 05h00
BRASÍLIA - O presidente Jair Bolsonaro orientou os quartéis a
comemorarem a “data histórica” do aniversário do dia
31 de março de 1964, quando um golpe militar derrubou
o governo João Goulart e iniciou um regime ditatorial que durou 21 anos.
Generais da reserva que integram o primeiro escalão do Executivo,
 porém, pedem cautela no tom para evitar ruídos desnecessários
diante do clima político acirrado e dos riscos de polêmicas em meio
 aos debates da reforma da Previdência. 


Jair Bolsonaro
Jair Bolsonaro e militares Foto: Marcos Corrêa/Presidência da República
Em um governo que reúne o maior número de militares na Esplanada
 dos Ministérios desde o período da ditadura (1964-1985) – o que já
 gerou insatisfação de parlamentares –, a comemoração da data
 deixou de ser uma agenda “proibida”. Ainda que sem um decreto
 ou portaria para formalizá-la, a efeméride volta ao calendário
de comemorações das Forças Armadas após oito anos.
 Veja onde estão os oficiais das Forças Armadas no governo no
 "mapa dos militares".
Em 2011, a então presidenta Dilma Rousseff, ex-militante
torturada no regime ditatorial, orientou aos comandantes
da Aeronáutica, do Exército e da Marinha a suspensão de
qualquer atividade para lembrar a data nas unidades militares.
O Planalto pretende unificar as ordens do dia, textos preparados
 e lidos separadamente pelos comandantes militares. Pelos
primeiros esboços que estão sendo feitos pelo ministro da
 Defesa, Fernando Azevedo e Silva, o texto único ressaltará as
 “lições aprendidas” no período, mas sem qualquer autocrítica
 aos militares. O período ficou marcado pela morte e tortura
de dezenas de militantes políticos que se opuseram ao regime. 
O texto também deve destacar o papel das Forças Armadas
no contexto atual. De volta ao protagonismo no País, militares
 são os principais pilares de sustentação do governo Bolsonaro.
 Por isso, generais da reserva disseram à reportagem que no
entendimento da cúpula das Forças Armadas e do próprio
presidente, a mensagem precisa ser “suave”. Eles afirmam
que não querem nenhum gesto que gere tumulto porque não
 é hora de fazer alarde e/ou levantar a poeira. O momento,
dizem, é de acalmar e focar em reverter os problemas econômicos,
 como reduzir o número de desempregados.
Investigações. A suspensão da festa em comemoração a 1964 por
 Dilma coincidiu com a criação da Comissão Nacional da Verdade.
 O grupo foi criado pela presidente em meio à pressão da
Organização dos Estados Americanos (OEA), que condenou
 o Estado brasileiro pelo desaparecimento de guerrilheiros na
 região do Araguaia, e da Justiça Federal, que cobrava a entrega
 de restos mortais a familiares de vítimas da ditadura.
Embora não tenha avançado nos esclarecimentos dos episódios
 mais emblemáticos do período, a comissão desagradou aos
 militares. Na época, segundo relato de oficiais, ficou estabelecido
 uma espécie de acordo informal com o Exército – comandado
à época pelo general Enzo Peri – de que não haveria “perseguição”.
Oficiais afirmam que Dilma, na ocasião, chegou a dizer:
 “Não farei perseguição, mas em compensação não quero exaltação”.
Do outro lado, integrantes da comissão chegaram a demonstrar
 desconforto com a postura do então ministro da Defesa,
 Celso Amorim, e dos comandantes das Forças Armadas de,
 segundo eles, não se esforçarem na busca de informações.
O relatório final do grupo foi entregue em dezembro de 2014
 e considerado um fiasco por pesquisadores e parentes de
desaparecidos políticos. 
A partir daí, as comemorações nas unidades militares minguaram.
 A lembrança da passagem do 31 de março ficou limitada às
atividades do Clube Militar, com sede no Rio, formado por
oficiais da reserva. 
Em janeiro de 2016, o então chefe do Comando Militar do Sul,
 o atual vice-presidente Hamilton Mourão, deixou o posto com
 um discurso em que citava a derrubada de Goulart. Ele lembrou
 que assumiu o cargo em 31 de março de 2014. “31 de março,
grande data”, disse. Ao lado dele estava o substituto, general
Edson Pujol, hoje comandante do Exército. 
Cabeceira. O próprio Bolsonaro já declarou ter como ídolo um
dos símbolos do regime militar, o coronel Carlos Alberto Brilhante
 Ustra, morto em 2015. Ustra foi comandante do DOI-Codi do II
 Exército, em São Paulo, onde teriam morrido 45 prisioneiros. 
Durante a campanha, o presidente disse que seu livro de
cabeceira é A verdade sufocada, uma versão de Ustra para
os assassinatos de opositores do regime. Na época da campanha
eleitoral, generais chegaram a sugerir que Bolsonaro não repetisse
 a afirmação.
Ao votar pelo impeachment de Dilma, Bolsonaro citou Ustra no
 discurso, causando polêmica. “Perderam em 64, perderam agora
em 2016. Pela família, pela inocência das crianças em sala de aula,
que o PT nunca teve, contra o comunismo, pela nossa liberdade,
 contra o Foro de São Paulo, pela memória do coronel Carlos
Alberto Brilhante Ustra, o pavor de Dilma Rousseff, pelo
Exército de Caxias, pelas Forças Armadas, pelo Brasil acima
de tudo e por Deus acima de tudo, o meu voto é sim”,
 declarou na ocasião em plenário.

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