A
sociedade deixa suas garras à mostra sem o mínimo pudor. A lógica é
invertida e o certo precisa lutar para mostrar que ele de fato está
certo. A coerência cada vez mais é um produto raro e os bons valores
estão evaporando facilmente, pois sua temperatura de ebulição está bem
diminuída. Talvez, a maldade humana foi capaz de modificar a entalpia e a
entropia dos componentes do bom senso. O adequado é deixado de lado
para que os desejos e interesses pessoais sejam exaltados. Já nem faz
sentido brincar com a famosa frase do General Caio Júlio Cesar (Tu
quoque, Brute, fili mi? – Até tu, Brutus, meu filho?). Ao utilizá-la,
ele manifestou a sua decepção frente ao comportamento dos outros.
Atualmente, existem mais “Brutus” do que podemos mensurar. Na verdade,
os “Brutus” se proliferaram nesta sociedade adoentada. Alguém saberia
responder quantos Brutus existem atualmente? Quais de nós já fomos,
somos ou seremos Brutus? Nesta brutalidade humana, a “Brutusgênese”
cresce vertiginosamente.
O neologismo, por mais
que soe estranho, faz-nos pensar como o correto e o bom são produtos
cada vez mais raros. Lembrei-me de Bertolt Brecht e do seu espanto
quando ele pontuou “que tempos são estes em que temos que defender o
óbvio?”.
Não faz sentido eu ter
que escrever ou ter que defender a liberdade de expressão em todas as
suas formas. Portanto, é bizarro gastar um tempo desumano para falar do
preconceito e da opressão às minorias. É contraditório para os
princípios humanísticos ficar salientando que todos, exatamente todos,
têm o direito sagrado de serem felizes e de serem respeitados,
independentemente, de acreditar em Deus, venerar Alá, louvar Iemanjá ou
não crê em ninguém. Por que eu preciso defender a liberdade de escolha
sexual se é óbvio que todos nós precisamos buscar nossos sonhos e nossa
plenitude. Que mal tem em ser feliz? Se você não escolheu o mesmo
caminho do outro e não compactua com a forma de pensar dele, por que sua
vontade tem que dominá-lo? Por que precisamos ficar atacando a
intolerância numa tentativa de lembrar socialmente que este
comportamento é um micróbio de virulência macabra.
Não é preciso lembrar o
óbvio, pois a obviedade deveria estar naturalmente incorporada dentro
de nós. Os dias de hoje necessitam que nós repitamos que os valores
mesquinhos da humanidade estão errados. Claro que estão e sempre
estiveram, mas, para evitar esquecimentos, repetimos de forma
redundante. A redundância seria um artifício de não nos contaminarmos
por estes comportamentos desviantes? Será que está tão distante de nós
aquilo que nós mesmos, ideologicamente, atacamos? Será, que a depender
dos ventos, não seremos levados na mesma direção do grotesco? Triste
esta constatação, mas precisamos defender o óbvio para lembrar que o
perverso não deve prevalecer. Seria um dantesco risco social se não
utilizássemos estes freios.
Precisamos repetir o
sufixo fóbico ou fobia em algumas palavras, todavia, a meu ver, esta
necessidade recorrente de sufixação só confirma o quanto nós podemos ser
maus. Esta sufixação gramatical demonstra nada mais e nada menos que os
princípios e valores estão deturpados gerando tribos violentas e
dominadoras além de guetos de exclusão. Usa-se do vernáculo para tentar
corrigir as posturas. Seria a derivação sufixal a melhor forma de
controlar nossos ímpetos agressivos, excludentes e preconceituosos?
Enfim, é necessário construir uma força tarefa para dizer que o
diferente pode e deve ser aceito? Muito triste perceber que precisamos
artificializar o que deveria ser natural e espontâneo. No entanto, esta é
a nova lógica e, infelizmente, precisaremos ficar repetindo e
defendendo o óbvio. Portanto, faz todo sentido a poesia de Renato Russo
quando ele dispara que “nos deram espelhos e vimos um mundo doente”.
Por Régis Eric Maia Barros
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