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Steffens
se calou. Mandei ainda uma mensagem pela manhã perguntando apenas:
“mandou?”. Eu queria saber se ele tinha me contatado pelo whats. Eu
sabia que não, mas era uma forma de forçar o diálogo. Sem resposta,
insisti no fim da tarde, deixando claro que eu escreveria sobre o caso e
que desejava ouvi-los.
“caro,
não recebi seu contato e nem o da empresa. Eu pretendo escrever sobre o
Vakinha e gostaria de ouvi-los. Meu fone é esse, como já informado:
XXXXXXXXXX
me dê um alô no zap, por gentileza?
obrigado”
me dê um alô no zap, por gentileza?
obrigado”
Estou esperando até agora.
O
Vakinha permitia que a milícia dos 300 captasse dinheiro em sua
plataforma havia semanas. Eu e a Tatiana Dias fomos atrás da história
antes que o grupo armado batesse a meta. Nossa ideia era denunciar o
óbvio caráter criminoso antes que aquelas pessoas conseguissem colocar
as mãos no dinheiro. Mas a velocidade de captação da grana foi tão
rápida que não deu tempo de encontrar algo. O ticket médio dos doadores
ao grupo era estranhamente alto: quase R$ 100 por pessoa. Em muitos
casos como aquele, há fraudes, ou empresários que usam sistemas como o
Vakinha para financiar clandestinamente grupos que atentam contra
democracia. Ainda não sabemos.
Enquanto eu tentava um canal privado com Steffens, o Sleeping Giants, que tinha começado a pressão sobre o Vakinha, seguiu tuitando sobre o caso. (Saiba mais sobre eles aqui).
O
Vakinha ficou “fazendo a egípcia”, como tuitou o Sleeping Giants. A
plataforma de financiamento disse que o caso era “complexo” e que
estavam analisando a situação juridicamente. Uma postura clara de ‘sua
opinião é muito importante para nós’, esperando que fossemos esquecer
deles. Pois não esquecemos, e logo depois, com mais pressão pública, o Vakinha anunciou: o financiamento à gangue dos acampados estava “retirado”.
Vitória!
(Não, espera.)
O Andrew Fishman mostrou que não:
“É
correto retirar a campanha do site. Agora esclarece uma coisa muito
importante para nós, por favor: o dinheiro arrecadado vai ser devolvido
para os apoiadores ou a milícia armada que usufruiu do seu site vai
poder ficar com a grana?”
Silêncio. Então o Andrew cobrou quatro horas depois; e 16 horas depois. Mas para o Vakinha, o caso estava “resolvido”. Mas resolvido como?
O
grupo de Brasília havia arrecadado mais de R$ 77 mil na plataforma. O
que seria feito desse dinheiro? Já tinha sido sacado, no todo ou em
parte? Seria devolvido aos financiadores? Seria depositado em juízo para
que a justiça decidisse o que fazer?
Nesse meio tempo, Sara Winter, em vídeo, ameaçava descobrir a identidade de empregados que trabalhassem na casa do ministro do Supremo Alexandre de Moares,
para algum tipo de vingança. Só se falou naquilo, no país, o dia todo.
Os donos do Vakinha vivem em um aquário? O Vakinha está financiando
essas pessoas – e lucrando com elas, já que embolsa mais de 6% do
dinheiro arrecadado? E mais: mudará sua política de uso para evitar que
grupos paramilitares usem sua tecnologia para ameaçar o país? Afinal, o
Vakinha concorda com eles? É o que parece. Até agora, silêncio.
O
dinheiro privado dos doadores, e que passa por uma empresa privada como
a Vakinha, não tem imunidade para fazer o que bem entender. Ao tirar
proveito de parte da transação entre financiadores e um movimento
golpista, a Vakinha se torna responsável e precisa se explicar à
sociedade. A estabilidade democrática é mais importante do que o sigilo.
O
e-mail de Flavio Steffens pode ser encontrado ao lado de outros grandes
feitos de sua carreira no LinkedIn. Flavio parece um cara legal: ele
ajuda animais de rua. Eu também ajudo animais de rua, até adotamos um
aqui em casa. Seu currículo me causa empatia genuína. Seu contato está
ali para que pessoas falem com ele sobre esses temas, imagino. A
reclamação privada que Steffens fez a mim deixa a impressão de que, para
enaltecer sua própria história, toda a publicidade é válida, inclusive
publicar seu e-mail pessoal em uma rede social aberta. Eu poderia mandar
uma mensagem para ele elogiando o Bicharia, que, segundo seu currículo
público, é uma “plataforma de crowdfunding para ajudar animais
carentes”. Ele diz, no LinkedIn: “Sem investimentos, conseguimos
impactar o mercado: tivemos mídia e arrecadamos mais de R$ 800 mil para a
causa animal.” Isso me deixa feliz.
Mas
no momento estou mais preocupado em manter esse país em pé. E isso
passa por cortar o financiamento de milícias armadas que atentam contra
os finos pilares que ainda nos mantém em algo parecido com uma
civilização. O fale conosco do Vakinha está aqui,
para quem quiser falar com eles. Os empresários que cobram moralidade
da política precisam de escracho público para ter alguma ética? Tudo
bem, estamos aqui pra isso. Depois a gente cuida dos cachorros.
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