MÉDICOS APROVAM RIGOR EM LEI DA BEBIDA
24/06/2008
Restrição é forma de frear consumo de álcool antes de dirigir e representa uma tendência mundial, dizem especialistas. Cada dose de bebida leva em média 1 h para ser eliminada do organismo; concentração no sangue depende de sexo, peso e hábitos da pessoa. Esqueça o jantar romântico acompanhado de vinho ou a cervejinha no final do expediente com amigos se você for dirigir depois, aconselham os médicos. Com a nova lei em vigor, um simples copo dessas bebidas poderá ser motivo de multa, suspensão do direito de dirigir e retenção do veículo. "Se a pessoa bebe alguma coisa durante o jantar e depois pega o carro e, em seguida, é parada [em uma blitz], o risco [de ter sinais do álcool no organismo] é muito grande", afirma a toxicologista Vilma Leyton, professora da Faculdade de Medicina da USP e membro da Abramet (Associação Brasileira de Medicina do Tráfego). Segundo ela, cada dose de bebida demora em média uma hora para ser eliminada do organismo. A concentração de álcool no sangue depende do peso da pessoa, do sexo e do hábito de beber. Vilma defende o rigor da nova lei por considerar a única forma de as pessoas frearem o consumo de bebidas antes de dirigir. "Um copo de cerveja ou uma taça de vinho já pode alterar os reflexos", diz ela. Ronaldo Laranjeira, médico psiquiatra, professor e coordenador da Unidade de Pesquisa em Álcool e Drogas da Unifesp, explica que a tendência mundial é pela "tolerância zero" em relação às bebidas. "Nos EUA, isso já acontece para a faixa etária até os 30 anos", afirma. Na Suíça, segundo o médico, estuda-se hoje se o carona -aquele que viaja ao lado do motorista- poderia ou não beber. "Entende-se que, bebendo, ele poderia prejudicar a habilidade do motorista." Para o médico Milton Steinman, da Sociedade Brasileira de Atendimento Integrado ao Traumatizado e do pronto-socorro do Hospital das Clínicas, mesmo que adote a tolerância zero, o Brasil ainda vai demorar para colher os frutos. "Se a gente fica só em medidas teóricas, do ponto de vista prático não colhe nada. Só colhe um monte de corpos. No finais de semana, os IMLs ficam abarrotados com jovens mortos alcoolizados." Laranjeira afirma que toda a população terá de mudar comportamentos. "Eu mesmo, se tomar uma ou duas taças de vinho, vou ter que esperar, para cada dose, uma hora para ele [o álcool] desaparecer." Um levantamento feito por Vilma Leyton no IML de São Paulo em 2005 mostrou que 44% dos 3.042 mortos em acidentes de trânsito no Estado ingeriram álcool antes de dirigir e tinham entre 1,7 ou 2,4 decigramas de álcool por litro de sangue. "Isso é muito mais que uma cerveja", diz ela. Outra pesquisa conduzida por Ronaldo Laranjeira às sextas e aos sábados com cerca de 5.600 motoristas em cidades como São Paulo, Belo Horizonte, Vitória, Santos e Diadema revelou que 30,3% deles tinham álcool no sangue constatado no teste do bafômetro, sendo que 19,3% tinham níveis iguais ou superiores a 0,06 decigrama de álcool por litro de sangue permitido por lei. Um estudo da Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia, que ouviu mais de mil universitários do Rio e de SP, chegou a resultado parecido: 36% deles voltam para casa dirigindo, mesmo depois de consumir bebidas alcóolicas. -
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