Estudo ajuda a entender mecanismo de funcionamento da memória.
Pesquisa foi feita inserindo eletrodos em 13 voluntários epilépticos.
Agora é científico: os criadores de "Os Simpsons" já podem dizer que sua série de desenhos animados é mesmo memorável. A verificação vem de um estudo conduzido por cientistas dos Estados Unidos e de Israel, que ajudou a entender exatamente como a memória humana funciona -- e a coisa não é tão diferente assim da memória de um computador.
A equipe, encabeçada por Hagar Gelbard-Sagiv, do Instituto Weizmann, em Revohot, Israel, aproveitou a oportunidade que surgiu quando médicos foram inserir eletrodos no cérebro de 13 pacientes epilépticos que não reagiam a medicamentos para identificar a localização da origem de suas convulsões.
Os cientistas usaram a situação para tentar medir diretamente a ativação de neurônios enquanto os pacientes assistiam a clipes de diversos programas de televisão. Com isso, eles podiam ver onde exatamente eram disparados neurônios durante a "gravação" da memória desses clipes no cérebro.
Mais tarde, após uma pausa para "zerar" a atividade cerebral, os voluntários eram encorajados a relembrar livremente os clipes que haviam visto. Ao mesmo tempo, eles tinham de dizer imediatamente após se lembrarem que clipe eles estavam mencionando. Enquanto isso, os cientistas continuariam monitorando seus cérebros.
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E aí o resultado: os mesmos neurônios que foram ativados fortemente quando o voluntário via um clipe voltavam a ser ativados durante o processo de relembrar. Essas memórias se formam no hipocampo, região do cérebro localizada nas partes laterais do órgão. E o curioso é que a medição da atividade cerebral permite ver que o "arquivo" está sendo acessado até um segundo e meio antes que o próprio voluntário declare ter se lembrado dele.
E quanto aos Simpsons? Pois foi o programa mais vividamente lembrado -- ou seja, o que provocou a mais intensa ativação de um certo grupo de neurônios, tanto durante a exibição inicial como no processo de rememorar.
Os resultados, publicados on-line pela revista científica americana "Science", ajudam a compreender o funcionamento da memória e também aludem a um novo conjunto de perguntas fascinantes.
Por exemplo, existem neurônios especialistas em processar certo tipo de memória, algo como, por exemplo, neurônios especializados em comédias? Os resultados não trazem as respostas, mas sugerem que pode ser o caso. Alguns dos mesmos neurônios que se ativaram fortemente durante "Os Simpsons" também mostraram forte ativação durante "Seinfeld". "Não está claro no presente se os múltiplos clipes a que um mesmo neurônio responde podem estar ligados por alguma regra de associação abstrata", dizem os pesquisadores, em seu artigo.
O que é uma ótima notícia para eles, que ainda terão muito trabalho pela frente com futuros experimentos.
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