1.30.2013

A gripe que assusta os EUA

Uma das mais graves epidemias nos Estados Unidos leva o governo brasileiro a orientar turistas a tomar precauções na viagem

Mônica Tarantino

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PROTEÇÃO
Em Nova York, houve filas na porta das farmácias para tomar o imunizante
contra a gripe depois que o governo liberou a vacinação nesses locais
A população americana enfrenta a mais agressiva epidemia de gripe dos últimos quatro anos. Na semana passada, o registro de cinco vezes mais casos nas primeiras semanas de 2013 do que no ano anterior levou à declaração de estado de emergência em saúde pública no Estado de Nova York. Foram 20 mil casos entre o final de dezembro e 5 de janeiro deste ano. Outras cidades, como Boston, também reconheceram a gravidade da situação. A medida liberou a vacinação em farmácias, o que não era permitido. A grave situação em um dos principais destinos de férias dos brasileiros levou o Ministério da Saúde a divulgar orientações àqueles que planejam embarcar para as cidades americanas e regiões onde a doença se expande, como o Canadá. O órgão não recomenda o cancelamento de viagens, mas indica cuidados a serem adotados por todos os turistas, como evitar locais com grande aglomeração. Devem-se precaver especialmente as pessoas que apresentam condições que favorecem a ocorrência de casos mais graves – idosos, crianças menores de 2 anos, grávidas e quem está com a imunidade afetada (em tratamento oncológico ou com sintomas associados a Aids, por exemplo).
Na opinião do infectologista David Uip, diretor do Instituto de Infectologia Emílio Ribas, referência no País, essas pessoas com maior risco de sofrer com as complicações da gripe e que não têm urgência de ir aos Estados Unidos devem adiar a viagem. Segundo ele, não adianta tomar a vacina de 2012, embora a epidemia estrangeira tenha provocado grande procura nas clínicas de imunização e hospitais do País por turistas rumo ao Exterior. “Eu não recomendo. A vacina de 2012 imuniza contra cepas de vírus que podem ter variações em relação às que estão circulando no Hemisfério Norte. Por isso sua proteção é muito pequena”, diz o médico. O infectologista Jessé Reis, do serviço de Consulta do Viajante do Fleury Medicina e Saúde segue a mesma linha. “A vacina protege contra 14,5% dos vírus que circulam lá. Além disso, os efeitos só aparecem a partir de um período de sete a 14 dias”, afirma Reis. Uma das empresas fabricantes do medicamento estima a chegada dos novos imunizantes às clínicas privadas em fevereiro. A vacinação pública está prevista para abril. Essa posição não é consenso entre os médicos. O infectologista Artur Timerman, do Hospital Edmundo Vasconcelos, em São Paulo, diz que quem não se vacinou em 2012 deve tomar o imunizante antes de entrar no avião. “A vacina confere uma proteção parcial que pode ajudar”, afirma. Quem optar pela vacina deve também observar o prazo de validade do medicamento, pois o imunizante disponível é o que foi dado em 2012 e foi preparado apenas para uso durante a temporada de gripe daquele ano. De acordo com nota da Secretaria de Vigilância da Saúde (SVS), até mesmo pessoas que tomaram a vacina e apresentam sintomas devem procurar o médico. Segundo a SVS, os efeitos protetores sofrem redução significativa após seis meses da aplicação da vacina.
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A apresentadora Solange Frazão, 50 anos, foi uma das turistas brasileiras acometidas pela gripe americana. Na volta dos EUA, ela foi internada no sábado 12 no Hospital São Luiz, em São Paulo, com febre alta, tosse e dificuldade de respirar por culpa do vírus influenza B. Outras quatro pessoas do grupo de dez que a acompanhavam adoeceram. “Meu caso foi o mais grave. Sou resistente, mas passei muito mal”, conta Solange. Ela tomou o antiviral oseltamivir (o Tamiflu), antibióticos e faz fisioterapia respiratória. Teve alta na quarta 16 e se recupera em casa.
Um fator que ajuda a explicar o alto número de casos nos Estados Unidos e também no Canadá é a predominância do vírus influenza A (H3N2) entre os micro-organismos em circulação, informou o CDC à ISTOÉ. Segundo o CDC, as temporadas em que prevalece o H3N2 são mais graves, com aumento das hospitalizações e mortes. Outro motivo é a circulação de vários sorotipos do vírus da gripe ao mesmo tempo. “Essa associação é incomum”, diz o infectologista Timerman. Além do H3N2, registram-se nos EUA casos por influenza B, por um influenza A que não foi tipificado (e não faz parte da vacina atual dada no Hemisfério Norte) e pelo H1N1, causador da pandemia de 2009, mas que agora responde por apenas 1% dos casos. Até agora 20 crianças e 60 adultos morreram por gripe, conforme o CDC.
Para reforçar seu arsenal, na semana passada a agência reguladora americana FDA aprovou uma nova vacina contra a doença produzida por engenharia molecular, o que elimina o cultivo do vírus em ovos, como é a técnica tradicional. O método já é usado na produção de outras vacinas.
Foto: Andrew Kelly/ REUTERS

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