Na véspera do julgamento pelo Senado, Dilma diz que há um golpe em andamento
Na
véspera do início do seu julgamento por crime de responsabilidade pelo
Senado Federal, nesta quinta-feira (25) às 9h, a presidenta afastada
Dilma Rousseff discursou para um teatro lotado, no Sindicato dos
Bancários de Brasília, na noite desta quarta-feira (24), e repetiu que
há um golpe em andamento no Brasil e que ela está sendo punida mesmo sem
ter cometido crimes: “Estão me condenando por algo fantástico, um não
crime. Eu não cometi crime.” Dilma disse que, ao analisar e
refletir sobre os motivos que levaram a esse processo de impeachment,
concluiu que é o resultado de quatro derrotas sistemáticas da oposição
nas quatro últimas eleições presidenciais: “Na quarta, entornou o caldo
para eles, quando eu fui reeleita”. A partir daí, segundo ela, teve
início a tentativa de impor ao país uma eleição indireta, feita pelo
Congresso Nacional. “É disso que se trata. Na eleição direta, milhões
discutiram o programa. Na indireta, só 81 discutem o programa. É isso
que foi feito no nosso país e não podemos concordar”, afirmou. Dilma discursou em Brasília e disse que está sendo condenada sem ter cometido crime Dilma
argumentou que novas eleições são a única maneira de combater a
“ruptura democrática” que está em curso no país: “Vai ser necessária uma
eleição para recompor todas as instâncias democráticas de nosso país. É
impossível não ver criticamente uma coisa: estão tentando substituir um
colégio eleitoral de 110 milhões de pessoas, os brasileiros que votam,
por um colégio de 81 senadores”, disse. A presidenta afastada
destacou que, a cada eleição presidencial, os brasileiros discutem as
principais pautas que o país tem que enfrentar e que foi com base nessa
discussão “que atinge todos os recantos”, que ela foi eleita
democraticamente em 2014. Dilma disse que “sem sombra de dúvida” é
possível concluir que os votos que recebeu foram a favor da política de
valorização do salário mínimo, de programas sociais como o Prouni, o
Fies e outros de inclusão baseada em cotas, pelo modelo de partilha do
pré-sal, a favor do Bolsa Família, do Mais Médicos e de outras políticas
sociais, projeto diferente do defendido pelo presidente interino Michel
Temer. “Votamos contra as políticas tradicionais que estamos
vendo que, primeiro sorrateiramente e depois, de forma descarada,
tomaram conta do debate político no nosso país e agora se apresentam
como solução para os problemas do país.” Como exemplo, citou a PEC 241,
que pretende congelar os gastos da educação e da saúde em termos reais
por vinte anos, o que, segundo ela, significa a redução do gasto em
educação e da saúde e que vai comprometer a qualidade dos serviços. Dilma
também destacou que o grupo que está no poder tem anunciado a adoção de
medidas impopulares, que não foram aprovadas nas urnas. Sobre as
críticas recebidas por ter apresentado sua defesa no Congresso e no
Supremo, apesar de sustentar que o processo é um golpe, Dilma disse que
continua respeitando as instituições democráticas: “Nós respeitamos as
instituições, não os golpistas – é diferente – e temos que saber viver
em um regime democrático e temos usados todos os instrumentos para
resgatara democracia no país”. Em sua fala, a presidenta afastada
argumentou que a democracia no Brasil “não caiu do céu e não surgiu do
nada” e lembrou que nesta quarta-feira (24) faz 62 anos que o suicídio
do presidente Getúlio Vargas, segundo ela, impediu uma ruptura
democrática no país. Segundo Dilma, Vargas suicidou-se porque “queria
preservar a democracia no nosso país e sabia que ela estava em risco
naquele momento. E ele adiou o golpe por muito tempo”, avalia. “Hoje, eu
não tenho de renunciar nem me suicidar, não tenho que fugir pro
Uruguai, é outro momento histórico”, afirmou. Dilma fechou o
discurso dizendo que na vida “a gente sempre tem que lutar” e que esse
processo de impeachment mostrou para ela que não existe democracia
garantida: “Eu achei, em determinado momento da minha vida, que nunca
mais eu ia ver processos arbitrários, que eu nunca mais ia ver rupturas
democráticas e golpes de estado, e estou vivendo um de forma bastante
intensa”. Segundo Dilma, da mesma forma que lutou contra a ditadura
militar, vai continuar lutando para aprofundar a democracia no Brasil. O
Ato em Defesa da Democracia foi convocado pela Frente Brasil Popular e
reuniu representantes de movimentos sociais e centrais sindicais, além
dos ex-ministros de Dilma, Eleonora Menicucci, Míriam Belchior, Jaques
Wagner, Patrus Ananias e Miguel Rosseto. Julgamento Para
que Dilma seja afastada em definitivo do mandato de presidenta da
República, são necessários dois terços dos votos, ou seja, no mínimo 54
dos 81 senadores. Neste caso, Dilma fica inelegível por oito anos e o
vice-presidente Michel Temer, atual presidente interino, assume
definitivamente o cargo de presidente, para completar o mandato até
2018. Se o mínimo necessário para o impeachment não for alcançado, a
presidenta retoma o mandato e o processo no Senado é arquivado.
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