3.27.2018

Fascismo é burrice

O deputado Enio Verri (PT-PR) denuncia uma minoria fascista e muito agressiva que atacou a caravana de Lula pelo Sul do País. “Uma gente de bem, branca, religiosa, honesta, que se não é, se julga elite”, identifica. Para ele, a elite sulista “saiu do armário” para mostrar a sua pior face. “Fascismo é sinônimo de burrice”, escreve.
Enio Verri*
A Caravana Lula pelo Brasil segue como merece a de um líder mundial, cuja confiança popular alcança quase a metade das intenções de votos para as eleições de 2018. Ainda que sob um processo persecutório midiático, parlamentar, togado e financeiro, Lula recebeu de Francisco Beltrão e de Foz do Iguaçu um fraternal e carinhoso abraço, por ele ter sido o presidente do partido que mais fez em prol do crescimento deste País e do estado do Paraná, como o lançamento da pedra fundamental para a universalização ao acesso ao ensino superior e técnico e para a integração da América Latina.
A população que sempre viveu exclusivamente da produção da terra, soube reconhecer o estímulo do presidente torneiro mecânico na produção, na regularização fundiária e na distribuição de renda para a agricultura familiar. Os mais jovens foram agradecer pela construção do campus da Universidade Tecnológica do Paraná, e ouvir do presidente sem diploma universitário, que mais avanços civilizatórios promoveu na história deste País, que a elite não quer que a gente deixe de ser exportador de commodities e passe a ser exportador de saber, de tecnologia. Ela nos quer sabuja como ela é.
Em Foz do Iguaçu, durante o Seminário Internacional da Tríplice Fronteira, Lula foi recepcionado pela comunidade da Universidade Federal da Integração da Latino-América (UNILA). Segundo Lula, a universidade abriu portas para as periferias latino americanas. A população foi dizer a Lula que compreende a importância da UNILA para o projeto de Pátria Grande, sonhado pelas forças progressistas que não aceitam a dócil submissão de nossas elites brejeiras ao hemisfério Norte, especialmente aos EUA.
O dia em Quedas do Iguaçu e Laranjeiras do Sul será tão rico e caloroso quanto o anterior. Na primeira agenda haverá um ato em defesa da reforma agrária. O município abriga o acampamento Dom Tomás Balduíno. Em 2016, mais de 30 trabalhadores rurais foram fuzilados por policiais militares e seguranças de uma empresa monocultora de pinus, que tem causado danos ambientais, econômicos e sociais na região. Dois trabalhadores morreram no local e sete ficaram feridos. A prisão de dois trabalhadores feridos nas costas, acusados de tentativa de homicídio, é um escárnio com a sociedade.
A penúltima agenda do dia será uma visita ao campus da Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS), em Laranjeiras do Sul, onde ela foi construída sobre três lotes doados pelo Assentamento 8 de Junho. A universidade, cujos 90% do corpo discente são de egressos do ensino público, oferece seis graduações em bacharelado e licenciatura e especialização Lato-Sensu em Educação do Campo e duas pós-graduações. No fim da tarde, Lula se reunirá para uma confraternização com os assentados.
Apesar de Obama ter dito que ele “é o cara”, Lula é humilde o suficiente para reconhecer que, assim como Jesus Cristo, não é unanimidade. Talvez essa seja uma de suas características que o fez dialogar com praticamente toda/os a/os líderes mundiais. Nesse sentido, é preciso reconhecer que não passaram despercebidas as manifestações de desapreço ao presidente Lula, de uma minoria fascista e muito agressiva.
Uma gente de bem, branca, religiosa, honesta, que se não é, se julga elite. Ela entende ser proprietária daquele mundinho e, pior, está atavicamente internalizado, na família, que ela tem o direito de fazer o que bem entender no seu quintal, como o de não permitir o ir e vir das pessoas, usando de agressões físicas mortíferas, por meio de pedras, rojões, bombas, etc.
Trata-se de um minúsculo e ridículo território brasileiro que não reconhece a CF de 1988. Ou, então, seria conivência de quem manda nas forças de segurança e não ordenou que as rodovias estaduais fossem restituídas ao estado e os criminosos presos. A caravana está transportando dois ex-presidentes da República. Não coibir o fascismo com veemência é ser conivente e uma inadmissível falta de respeito, tanto com o ex-presidente quanto com a legítima mandatária do País, Dilma Rousseff.
O golpe de 2016 tem colocado, todos os dias, alguns de seus personagens a nu. Já é estarrecedor ver o fascismo instalado na sociedade civil. Porém, quando o Parlamento se declara fascista, é porque algo de muito terrível está para acontecer. O Senado estará irremediavelmente comprometido com o fascismo, caso não represente a senadora que defendeu e estimulou os ataques à caravana, no Conselho de Ética.
Deputados aliados da senadora abraçaram a causa do fascismo. Usaram a tribuna da Câmara para defender as barreiras, as pedradas, o relho, o rebenque, ou a taca que seja para agredir, machucar, sangrar e mutilar a/os trabalhadora/es. Foi o que essa gente de bem aprendeu a fazer, em 400 anos. A senadora e os deputados não são pessoas quaisquer. Eles representam a sociedade e não podem se dissociar disso.
O combate ao fascismo deve ser incansável e diuturno. Ou se combate, ou se sofre as consequências de tolerá-lo. A única classe que se beneficia dele é a elite, que terceiriza o ódio às classes subalternas. Uma sociedade civil intolerante já inadmissível. Pior que isso, somente um Estado cujo braço armado não está a serviço do público, não coíbe atentados contra a democracia e parlamentares que referendam os argumentos do fascismo como legítimos para o necessário e inescapável debate.
A inação do governador é coerente à sua atitude do dia 29 de abril de 2015, quando ele ordenou o massacre de servidores públicos desarmados. Uma coisa é protestar, com faixas, carro de som, megafone, bandeiras, cartazes, bonecos e manifestantes. Isso faz parte da democracia e é salutar na medida em que pode alimentar o debate construtivo. Outra coisa, completamente diferente e inadmissível, é o ataque belicoso contra o oponente. Lançar ovos, pedras, ou qualquer outro objeto é assumir que se é um fascista e que não se tem argumentos para estabelecer algum debate minimamente qualificado.
A elite sulista brasileira, com imenso orgulho da sua ignorância, decidiu se apresentar ao Brasil. Saiu de vez do armário. Deu a cara pra mostrar, nesses tempos de conexão global. Não dá para dizer que não é um ato de coragem eternizar o seu rosto, o seu nome, nesse período histórico, como um/a fascista. Fascismo é sinônimo de burrice.
Ontem, por exemplo, um pequeno grupo de protofascistas atacou um ônibus que se dirigia ao município de Foz do Iguaçu. Os energúmenos pensavam que o ex-presidente Lula estava no veículo. Terrível e perigoso engano. O ônibus levava turistas do Rio de Janeiro, que saíram de um estado sob intervenção militar para passear e relaxar num dos mais belos cartões postais do Brasil. Os ataques das ruas e os institucionais revelam a indigência mental da elite brasileira. Seja bem-vindo, Lula. Por favor, não repare.
*Enio Verri é deputado federal pelo PT do Paraná.