"Barbosa Lima Sobrinho dizia que no Brasil só existem dois partidos: o
de Tiradentes e o dos Silvérios. Se Dilma fosse presa, na cereja do
bolo oferecida pela Lava Jato às petroleiras internacionais que se
refestelarão com a entrega do pré-sal, a mensagem seria cristalina:
jamais tente ser um Tiradentes, seja sempre um Silvério. Jamais seja uma
Dilma. Seja um Temer, um Aécio, um Serra. Todos soltos, por sinal",
escreve Leonardo Attuch, editor do 247
O pré-sal, como todos sabem, foi a maior descoberta de petróleo ocorrida no mundo, nos últimos cinquenta anos. Quando as primeiras reservas foram divulgadas, ainda no governo Lula, o que diziam os entreguistas? Era preciso vender tudo, o quanto antes, porque a Petrobrás jamais seria capaz de explorar tamanha riqueza.
Mentira! Em pouco tempo, a Petrobrás bateu recordes sucessivos de exploração em águas profundas e o pré-sal passou a responder pelas áreas mais lucrativas da empresa. Mais do que isso, sob o modelo de partilha, e não mais de concessão, o petróleo serviria a dois grandes propósitos: de um lado, desenvolver toda uma cadeia nacional de fornecedores de navios, sondas e equipamentos na cadeia de óleo e gás e, de outro, gerar recursos para investimentos em educação. Daí o slogan "Pátria Educadora", que deveria marcar o segundo mandato da ex-presidente Dilma Rousseff.
O sonho brasileiro de, a partir das descobertas da Petrobrás, produzir um salto de desenvolvimento, no entanto, começou a ser atacado em 2014, com o início da Operação Lava Jato, que teve focos milimetricamente calculados: a Petrobrás, evidentemente, mas também as empresas brasileiras de engenharia e até mesmo o Almirante Othon, que, na Marinha, desenvolvia o projeto dos submarinos nucleares, que serviriam para patrulhar os mares brasileiros.
Se Dilma tivesse sido derrotada por Aécio Neves em 2014, talvez não tivessem sido destruídas todas as empreiteiras nacionais e a cadeia produtiva do setor de óleo e gás. Isso poque o tucano dizia, em campanha, que o Brasil deveria seguir o modelo mexicano, ou seja, vender todo o pré-sal pelo modelo de concessão – modelo, diga-se de passagem, do qual só agora, o México, sob o governo nacionalista de López Obrador, tenta se libertar. Pena que só tenha restado o bagaço do petróleo mexicano.
Como Dilma foi reeleita, foi necessário derrubá-la – e também destruir praticamente toda a engenharia nacional – para que o assalto do século pudesse avançar. Para quem não se lembra, qual foi o primeiro projeto enviado ao Congresso pelo usurpador Michel Temer? O projeto de entrega do pré-sal. Escrito por quem? Pelo senador José Serra (PSDB-SP), que, nas gravações do Wikileaks, aparecera prometendo entregar o pré-sal à petroleira estadunidense Chevron.
Basta lembrar que todo esse processo de entrega das riquezas nacionais contou com o amplo apoio dos meios de comunicação corporativos. Em seus editoriais, Globo e Folha atacam o autoritarismo de Jair Bolsonaro, mas celebram em suas páginas noticiosas a entrega do pré-sal e as políticas econômicas de Paulo Guedes. Entre elas, a desvinculação de recursos do orçamento, com o fim de gastos obrigatórios em saúde e educação. Com o golpe de 2016, o Brasil saiu de um modelo em que o pré-sal, majoritariamente explorado pela Petrobrás, seria investido em educação, para outro, em que ele é entregue a multinacionais internacionais e os gastos com educação, pesquisa, ciência e tecnologia são reduzidos.
É uma tragédia, o maior suicídio de uma ex-nação em toda a história da humanidade, mas não se imaginava que haveria ainda um requinte de crueldade: o pedido de prisão da ex--presidente Dilma Rousseff nesta quarta-feira, que, felizmente, foi negado pelo ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal.
Por que então prendê-la a esta altura do campeonato? Para que fazer isso na véspera daquele que será, como dito no primeiro parágrafo deste artigo, o maior assalto da história da humanidade? Para passar uma mensagem contundente a todos os brasileiros desta e das futuras gerações. Barbosa Lima Sobrinho já dizia que no Brasil só existem dois partidos: o de Tiradentes e o dos Silvérios. Se Dilma fosse presa, na cereja do bolo oferecida pela Lava Jato às petroleiras internacionais que se refestelarão com a entrega do pré-sal, a mensagem seria cristalina: jamais tente ser um Tiradentes, seja sempre um Silvério. Jamais seja uma Dilma. Seja um Temer, um Aécio, um Serra. Todos soltos, por sinal.
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