O
megavazamento de dados de todos os brasileiros vivos e mais 10 milhões
de brasileiros que já morreram, revelado no início do ano, chocou muita
gente — mas não a mim. Sou Tatiana Dias, Editora Sênior do Intercept e meu trabalho foca especialmente em tecnologia e direitos digitais. Te escrevo hoje para dizer: se eles estão de olho nos seus dados, pode ter certeza, eu e o Intercept estamos de olho neles.
Mas
quem são eles? Ainda não se sabe a origem exata dos vazamentos mais
recentes, mas há tempos nós estamos na cola dos poderosos — sejam
governos, megacorporações de tecnologia (as big techs, como Facebook e
Google) ou parlamentares que definem a regulação do uso dos seus dados
digitais.
Pode
parecer um papo paranoico, eu sei. Mas o que aconteceu esse ano mostrou
o que a gente alerta há tempos: estão rifando a sua privacidade, e isso
é um problema concreto. Sabe o que pode acontecer? Criminosos podem
usar os seus dados para criar contas falsas. Pedir cartão de crédito em
seu nome. Fazer compras. Também podem roubar suas contas: terão todos os
dados para isso. Mesmo se você tiver autenticação em dois fatores, eles
terão o seu celular – que pode ser clonado para que o SMS de
confirmação seja interceptado. Também podem aplicar golpes usando suas
informações pessoais – eles saberão tudo sobre você e podem ligar se
passando por atendente de uma empresa e terão todo o seu histórico para
confirmar. Tudo isso sem mencionar o risco que correm pessoas públicas,
políticos, ativistas e comunicadores ameaçados. Suas fotos, endereços,
salários: está tudo exposto.
Desde
2018, quando entrei para a equipe do TIB, ganhei total liberdade e
incentivo para, com minha bagagem de uma década no jornalismo de
tecnologia, destrinchar a legislação e denunciar negligências, abusos e
violações nessa área. Também desde 2018, ainda no governo Temer, eu
venho denunciando e questionando políticas de dados desastrosas.
No
governo Bolsonaro, os erros na gestão, na legislação e no controle de
dados da população (como em todos os outros setores) pioraram: enquanto a
Lei Geral de Proteção de dados foi discutida abertamente por oito anos e
três governos até ser aprovada, importantes decretos sobre dados
receberam a canetada do atual presidente do dia para a noite e criaram,
por exemplo, o Cadastro Base do Cidadão (uma megabase sem precedentes de
dados da população) e o Comitê Central de Governança de Dados — que
influenciam diretamente a sua vida, aumentando o poder de vigilância
desse governo sob o pretexto de garantir segurança.
Você
pode confiar no Intercept para denunciar esses casos pelo simples fato
de que a gente não tem rabo preso com quem se interessa pelos seus
dados. Não é uma frase de efeito: com frequência as big
techs reúnem veículos de comunicação no entorno de seus projetos. O
Intercept nunca está nessas ondas. Eles sabem que o Intercept é treta. Não queremos ser simpáticos: queremos denunciar abusos e defender seus direitos.
Nós
não temos e não queremos parcerias nem patrocínios de big techs,
governos, empresas de crédito ou seja lá quem esteja interessado nos
seus dados. Nós vamos investigá-los e te explicar com cuidado porque é
tão importante você proteger sua privacidade. É essa premissa que mantém
nossa independência: não temos o dinheiro deles. E é por isso que
precisamos da sua força.
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