1.07.2008

Anti-retroviral DDI Entérico

O governo brasileiro recebeu sinal verde de laboratórios europeus para fabricar o anti-retroviral DDI Entérico. No Brasil, esse medicamento faz parte do coquetel distribuído a 180 mil pacientes com Aids e, até o final do ano, será fabricado pelo Instituto de Tecnologia em Fármacos (Farmanguinhos), no Rio de Janeiro. Atualmente, o Ministério da Saúde importa 7 milhões de comprimidos do DDI Entérico a US$ 1,40 a unidade, gerando uma despesa anual de quase US$ 10 milhões. O medicamento que será fabricado pela Farmanguinhos será diferente do importado atualmente. A versão distribuída provoca fortes efeitos colaterais, como irritação gástrica. A nova versão do remédio tem como princípio ativo a didanosina, que é absorvida no intestino, e não mais no estômago como ocorre com a versão internacional da droga. O governo brasileiro pediu em 2005 autorização para fabricar o remédio, mas só agora saiu o certificado autorizando a produção local. Com isso, o diretor de Farmanguinhos, Eduardo Costa, prevê que o preço do remédio cairá progressivamente até chegar à metade, ou seja, US$ 0,70 a unidade. O laboratório da Fiocruz conseguiu ainda registrar a droga na agência de vigilância sanitária da Comunidade Européia. "Esse registro internacional é importante, pois permitirá que o medicamento seja exportado pelo Brasil", diz Costa. O princípio ativo do DDI Entérico também será produzido no Brasil graças a um convênio firmado entre a Farmanguinhos e a farmoquímica privada brasileira Globe Química. Mas o processo de fabricação dessa substância será acompanhado pelos técnicos da Fiocruz. "A maior vantagem de distribuir remédios brasileiros é que os pacientes não ficam dependendo de negociações do governo com laboratórios internacionais, como ocorreu com o Kaletra há dois anos", ressalta Magali Menezes, da organização não-governamental Grupo de Apoio à Prevenção da Aids (Gapa), de São Paulo. ÍNDIA E ÁFRICA - Eduardo Costa explica que, antes de integrar a lista de medicamentos distribuídos pelo programa nacional de DST/Aids do Ministério da Saúde, o DDI Entérico brasileiro passará por uma fase de produção piloto e ainda terá que obter o registro da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Está sendo negociada também a transferência tecnológica desse produto para a empresa indiana Cipla, para atender o mercado asiático. Além do Brasil e América Latina, Farmanguinhos deverá atender as demandas da África, onde a epidemia da Aids é mais grave. Não é a primeira vez que o Farmanguinhos desenvolve a formulação de um medicamento anti-retroviral. Desde março do ano passado, os técnicos se preparam para fabricar o Efavirenz, que a partir de maio será distribuído no Brasil, inclusive a versão infantil, a ser exportada para vários países. "Farmanguinhos está em um processo acelerado de desenvolvimento de produtos que possam ter proteção (licenciamento) local", diz Costa. Ele ressalta que a maior vantagem da produção brasileira de anti-retrovirais é uma folga no orçamento do governo, já que as drogas internacionais aumentam de preço conforme a variação cambial e a tabela internacional. "Isso acaba comprometendo orçamentos públicos e o tratamento de pessoas doentes", diz. ALERTA - Na semana passada, o Programa Nacional de DST/Aids publicou uma nota técnica alertando que o Laboratório Roche enviou uma remessa de Enfuvirtida (T-20), um dos mais importantes do coquetel, com apresentação diferente da descrita no contrato. De acordo com o governo, o laboratório entregou uma versão com 1ml a mais de diluente, o que pode comprometer o tratamento. A Enfuvirtida é uma droga injetável indicada a pacientes que já desenvolveram resistência cruzada aos demais medicamentos do coquetel. O Ministério da Saúde, que fez a compra do remédio, está estudando uma forma de forçar a Roche a entregar a versão correta e evitar que os pacientes sejam prejudicados.

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