06/07/2008
Pesquisa mostra que população não conhece o AVC, doença que no ano passado matou cerca de 30 mil pessoas no país. Pessoas confundem o acidente vascular cerebral até mesmo com câncer; desconhecimento prejudica prevenção e tratamento. Os brasileiros não conhecem a doença que mais mata no país e mais deixa inválidos permanentes. Segundo um estudo publicado no início do ano na revista científica "Stroke", 90% dos brasileiros dizem não ter nenhum tipo de informação sobre o AVC (acidente vascular cerebral), o que atrapalha a prevenção e o tratamento. Popularmente conhecido por derrame, o tipo mais comum ocorre quando coágulos entopem vasos que levam sangue à cabeça e, como conseqüência, danificam partes do cérebro responsáveis por funções do corpo como a respiração ou a locomoção. Segundo dados do Ministério da Saúde, cerca de 168 mil pessoas foram hospitalizadas no Brasil no ano passado em decorrência de AVCs. Dessas, perto de 30 mil morreram. Para o estudo publicado na "Stroke", pesquisadores entrevistaram 800 pessoas de diferentes níveis sociais nas ruas de São Paulo, Salvador, Fortaleza e Ribeirão Preto. Desse grupo, só 15,6% conseguiram dizer o significado da sigla AVC e 26,5% sabiam que o médico indicado para tratar a doença é o neurologista. CONFUSÃO - Levam ao AVC problemas como pressão alta, tabagismo, sedentarismo, obesidade, diabetes, problemas cardíacos, maus hábitos alimentares, colesterol alto e estresse. Apesar da lista, 18,5% dos entrevistados não mencionaram nem mesmo um fator de risco. A pesquisa mostra que os brasileiros confundem o AVC com problemas do coração, nervosismo, pressão alta, epilepsia e até câncer. Esse foi o caso do funileiro César Marcos Codognotto, 41, que, há três semanas, em Ribeirão Preto (SP), repentinamente começou a sentir-se mal. "Começou um formigamento no lado direito do corpo. Eu não conseguia me locomover. Falei para a minha mulher: "Vamos para o hospital". Tiveram de me ajudar a sair do carro. Eu já estava travado", diz. Eram os sintomas de um AVC, mas Codognotto não imaginava: pensou ser pressão alta ou ataque do coração. Segundo o neurologista Octávio Marques Pontes-Neto, da USP de Ribeirão Preto, um dos autores da pesquisa, "as seqüelas e as mortes ocorrem justamente porque as pessoas chegam muito tarde ao hospital". Dos 800 entrevistados, só um sabia que existe remédio que pode evitar as seqüelas do AVC. Tal medicamento dissolve o coágulo que entope o vaso cerebral. Para funcionar, porém, a droga deve ser dada até três horas após os primeiros sintomas. 911 - Os pesquisadores perguntaram qual é o telefone de emergências médicas. Apenas 34,6% disseram corretamente os números nacionais 192 (do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência, o Samu) e 193 (dos bombeiros). O restante não soube responder ou citou telefones errados, como o 911 (da polícia dos EUA). "Até uns 20 anos atrás, o AVC estava estigmatizado como uma doença sem tratamento. Por causa disso, ficou negligenciado", diz o neurologista Rubens José Gagliardi, presidente da Associação Paulista de Neurologia e membro da Academia Brasileira de Neurologia. "Hoje sabemos como prevenir e temos como tratar. Para isso, porém, é fundamental que as pessoas conheçam a doença." VÍTIMA DE AVC CONFUNDIU DOENÇA COM HIPERTENSÃO - Da Reportagem Local - Três semanas atrás, num final de tarde em Ribeirão Preto (SP), o funileiro César Marcos Codognotto, 41, começou repentinamente a sentir-se mal. Ele chegava em casa do trabalho. "Começou um formigamento no lado direito do corpo. Apareceu no dedão, subiu pelo joelho e chegou até a mão. Eu não conseguia me locomover direito. Falei para a minha mulher: "Vamos correndo para o hospital". Tiveram de me ajudar a sair do carro. Eu já estava travado", ele lembra. Aqueles eram os primeiros sintomas de um AVC (acidente vascular cerebral), mas Codognotto nem sequer imaginava. Primeiro pensou que fosse pressão alta. Depois, ataque do coração. No hospital, os médicos logo suspeitaram de AVC. Uma tomografia revelou que um coágulo na cabeça impedia que o sangue alimentasse uma parte do cérebro. "Quando me explicaram o que era, eu falei: "Meu Deus do céu!" Nem conhecia essa sigla. Eu escuto a palavra derrame, mas não sabia bem o que era. Fiquei assustado." Como o funileiro foi levado imediatamente para o hospital, estava em condições para receber uma droga que dissolve o coágulo e restabelece a circulação do sangue no cérebro. Se tivesse levado mais tempo, ele poderia estar hoje com graves seqüelas. Dependendo da parte afetada do cérebro, a vítima do AVC pode ter a fala, a locomoção, a visão e até a respiração comprometidas. Codognotto perdeu um pouco da força nos braços. Para recuperá-la, faz hoje sessões de fisioterapia. "Eu poderia ter ficado paralítico numa cama, torto. Ainda bem que corri para o hospital, não esperei para ver." Quem já sofreu um AVC tem mais chances de ter um segundo. Por isso, o funileiro agora está mais empenhado em parar de fumar, cortou a cerveja e o churrasco e não passa nenhum dia sem fazer uma caminhada. "Já estou de sobreaviso." - Ricardo Westin, da Reportagem Local -
Fonte: Folha de São Paulo
Nenhum comentário:
Postar um comentário