12.11.2008

DOPING MENTAL

GRUPO DE CIENTISTAS PEDE LIBERAÇÃO DE DOPING MENTAL
08/12/2008
Manifesto discute a regulamentação de droga usada para "turbinar" a inteligência em pessoas saudáveis, medicamentos usados para tratar o déficit de atenção, como a retalia, parecem estimular a concentração. Um manifesto assinado por pesquisadores de sete universidades líderes nos EUA e no Reino Unido pede que o uso de drogas com o fim de melhorar a inteligência seja regulamentado e, eventualmente, liberado. em artigo ontem no site da revista "nature" (www.nature.com), os acadêmicos argumentam que é preciso disciplinar o uso que pessoas saudáveis fazem de medicamentos como a ritalina (metilfenidato). Concebida para tratar crianças com tdah (transtorno do déficit de atenção por hiperatividade), essa droga (e outras similares) parece ter um efeito de melhora na concentração e na memória também em adultos saudáveis. Um levantamento conduzido neste ano em universidades americanas revelou que cerca de 7% dos estudantes já fizeram uso de medicamentos desse tipo pelo menos uma vez, na tentativa de melhorarem seus desempenhos acadêmicos. Tecnicamente, nos EUA, isso é crime, porque envolve comércio de uma droga para uso "off label" -fora do propósito original para o qual foi aprovada. cientistas argumentam porém que a medida é um exagero e drogas como a ritalina poderiam ser liberadas para "aprimoramento cognitivo", desde que novos testes comprovem sua segurança. "Propomos ações que vão ajudar a sociedade a aceitar os benefícios do aprimoramento, acompanhadas de pesquisa apropriada e regulamento avançado", escrevem os cientistas. "isso tem muito a oferecer para indivíduos e sociedade, e uma resposta apropriada por parte de todos deve incluir a disponibilização dos aprimoramentos acompanhada da gestão de riscos." SONO E CANSAÇO - Entre os nomes que assinam o documento estão "pesos-pesados" das neurociências, como Michael Gazzaniga, da Universidade da Califórnia em Santa Barbara, e também um jurista, Henry Greely, da Universidade de Stanford. A idéia do manifesto saiu de um seminário promovido pela "Nature" e pela Universidade Rockefeller, de Nova York. Além da ritalina, os pesquisadores mencionam outras três drogas que já vêm ganhando algum grau de popularidade em usos "off label". uma delas é a similar Adderall, também usada em transtorno de tdah. outra é a stavigile (modafinil), aprovada para tratar o desgaste físico causado pela narcolepsia, mas que vem sendo usada por alguns estudantes para combater sono e cansaço. Há ainda uma quarta droga, a aricept, mais difícil de obter, originalmente aprovada para tratamento do mal de alzheimer. A preocupação inicial dos cientistas, contudo, é mesmo a ritalina. "Com a prevalência de tdah indo de 4% a 7% entre universitários americanos (...), há um bocado de droga no campus que pode ser desviada para usos de aprimoramento." CONCORRÊNCIA DESLEAL - Caso o uso de drogas para "turbinar" o cérebro venha realmente a ser aprovado, há outras questões que devem ser discutidas, além da segurança, afirma o manifesto publicado na "Nature". Uma delas é o risco de que estudantes deixem de concorrer em pé de igualdade quando participarem de exames que envolvam inteligência. Uma pessoa que tenha se valido de uma droga poderia obter vantagem de maneira artificial, da mesma forma que um atleta dopado faz na disputa de uma competição, por exemplo. Os cientistas apontam também o risco de mais um problema: Empresários poderiam obrigar seus funcionários, de maneira direta ou indireta, a fazerem uso dessas drogas para melhorarem o rendimento. O manifesto reconhece, porém, que faltam ainda muitos dados essenciais para que a discussão tome o rumo desejado. Ninguém sabe dizer, por exemplo, o quanto uma droga como a ritalina pode de fato ajudar a inteligência propriamente dita. O efeito de longo prazo de uma dessas drogas sobre pessoas que já estão saudáveis, também, ainda é totalmente desconhecido. "clamamos por um programa de pesquisa sobre o uso e o impacto das drogas de aprimoramento cognitivo por indivíduos saudáveis", ressalta o documento.
Fonte: Folha de São Paulo

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