4.18.2009

Nova esperança no combate à obesidade: gordura marrom


A gordura que emagrece
Como perder 4 kg por ano sem comer menos ou fazer mais exercícios
Cristiane Segatto

o nome da mais nova esperança no combate à obesidade: gordura marrom. Se você quer emagrecer, torça para ter uma boa quantidade dela no seu corpo. A gordura marrom ajuda a queimar a gordura branca, a parcela do tecido adiposo que, em excesso, engorda e faz mal à saúde.

Até recentemente, os cientistas acreditavam que adultos não tinham gordura marrom. Esse tecido ajuda os recém-nascidos a se manter aquecidos. Conforme os bebês e as crianças vão ganhando mais músculos, os estoques de gordura marrom diminuem. Nos últimos meses, no entanto, surgiram novas evidências de que os adultos também têm esse tipo de gordura. E o melhor: ela pode ser estimulada e ter um importante papel no combate à epidemia de obesidade.

A última edição do The New England Journal of Medicine traz três novos estudos sobre isso. Uma pessoa pode perder pelo menos 4 kg por ano se a gordura marrom existente em seu organismo for ativada. Sem precisar comer menos ou fazer mais atividade física. A conclusão é dos cientistas liderados por Kirsi A.Virtanen, da Universidade de Turku, na Finlândia. "Esse tipo de tecido pode representar um alvo para o desenvolvimento de novos remédios contra o excesso de peso", escreveu Virtanen em um dos trabalhos.

A gordura marrom é ativada quando a pessoa sente frio. Para comprovar isso, cinco voluntários foram submetidos a um estranho experimento. Eles passaram duas horas sem agasalhos numa sala gelada. Um dos pés permanecia mergulhado num balde de água gelada. Em seguida, foram colocados numa máquina de PET scan. Esse aparelho de tomografia faz um rastreamento de todo o corpo e é usado principalmente para detectar minúsculos tumores. As imagens revelaram que o frio estimulava as células de gordura marrom. Elas passavam a atuar como um combustível capaz de queimar a indesejável gordura branca.

O grupo da Finlândia não é o único a investir nessa linha de pesquisa. Aaron M. Cypess, do Beth Israel Deaconess Medical Center, em Boston, estudou o mesmo tipo de células e concluiu que:

· Obesos têm menos gordura marrom que os magros;
· Homens têm menos gordura marrom que as mulheres;
· Idosos têm menos gordura marrom que os jovens;
· Pessoas com excesso de açúcar no sangue têm menos gordura marrom.

Pelo menos metade da população tem um pouco de gordura marrom no organismo. Em geral, ela fica localizada no pescoço e tem uma coloração parda. Como são produtoras de calor, essas células são muito abundantes em animais que passam longos períodos em hibernação.

Será que um dia os cientistas vão conseguir ativar a gordura marrom sem precisar recomendar que as pessoas tirem o casaco e mergulhem num lago gelado? Os obesos já enfrentam sofrimentos de todo tipo – físicos, sociais, morais. É evidente que não faria o menor sentido recomendar algo do tipo. Também não aconselho ninguém a passar frio para tentar queimar algumas gordurinhas.

A ciência investiga recursos mais sofisticados. Um interessante estudo publicado na revista Nature no final do ano passado apresenta um caminho promissor. O pesquisador Yu-Hua Tseng, da Escola de Medicina da Universidade Harvard, demonstrou que uma proteína capaz de induzir o crescimento dos ossos também pode promover a formação de gordura marrom. Ela recebeu a sigla BMP7 e pode se tornar um interessante alvo para a indústria farmacêutica. É possível que surja em breve uma pílula capaz de criar a gordura do bem ou dar uma forcinha aos estoques que você já tem.

GORDURA MARROM ("BROWN-FAT")


Dra. Claudia P.M.S. Oliveira
Médica pesquisadora da Disciplina de Gastroenterologia da FMUSP

O tecido adiposo é constituído basicamente por dois tipos celulares: o tecido adiposo unilocular constituído por adipócitos brancos ("white adipocytes"), e o tecido adiposo multilocular ou gordura marrom constituído por adipócitos pardos ("brown adipocytes").

O tecido multinocular é denominado gordura marrom em virtude de sua coloração parda que é determinada pela rica vascularização e presença de grande quantidade de citocromos presentes nas mitocôndrias, conferindo esta coloração. As células deste tecido são menores que as do tecido adiposo comum, têm forma poligonal e formam massas compactas semelhantes a glândulas endócrinas. Além disso, estas células são carregadas de gotículas lipídicas no seu citoplasma e têm numerosas mitocôndrias.

Este tecido tem função importante na termogênese dos mamíferos, pois é local de grande produção de calor. Apresenta-se abundante nos animais que hibernam.

No homem, sabe-se que a gordura marrom tem importância significativa nos primeiros meses de vida, nos quais a quantidade deste tecido é abundante e responsável pela produção de calor, protegendo o recém-nato do frio excessivo. Presente em abundância nas áreas do pescoço, tecido peri-renal e glândulas supra-renais, reduz-se a quantidades mínimas no adulto.

Este tecido (gordura marrom), quando estimulado pelo sistema nervoso simpático presente nas terminações nervosas em torno das células, oxida-se facilmente. As células do tecido multinocular geram energia em forma de calor, muito mais do que em forma de ATP, como as células gordurosas brancas ou comuns.

Estudos recentes têm investigado o papel desta gordura na termoregulação durante o ciclo alimentar tanto em animais de experimentação como em humanos, podendo apresentar um papel importante na fisiopatogênese da obesidade.

A iniciação da alimentação (a fome) parece resultar de uma queda transitória da concentração da glicose sérica e, com isso aciona-se o sistema nervoso simpático com produção de catecolaminas que estimulam a gordura marrom a produzir calor. Após a ingestão alimentar a temperatura atinge um limiar, cessando a vontade e necessidade de continuar a alimentação. Este mecanismo parece ocorrer no recém-nascido.

Tem sido demonstrado em animais que a proteína mitocondrial desacoplada (UCP), que é exclusivamente expressada no tecido adiposo marrom, regula a energia despendida pelos ratos.

Pesquisas em pacientes obesos e não obesos, estudados pelo método de PCR, demonstraram que a proteína mitocondrial desacoplada (UCP), se encontra em menor quantidade no tecido intraperitoneal de pacientes obesos quando comparados aos controles. A UCP do tecido extraperitoneal não foi diferente entre os obesos e não obesos. Este estudo sugere que pacientes obesos apresentam uma quantidade menor desta proteína no tecido intraperitoneal e este fato pode refletir o papel da gordura marrom no controle da obesidade.

Estudos experimentais em ratos demonstraram esse fenômeno, atribuindo à gordura marrom função importante na termoregulação do ciclo alimentar e controle do volume da refeição. A alimentação é vista como um evento termoregulatório e a gordura marrom é um fator importante neste evento. Parece que esta função é perdida em modelos animais de obesidade

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