3.04.2013

LEISMANIOSE CUTANEA

Medicamento inovador contra leishmaniose

Uma das seis doenças infecto-parasitárias de maior importância no mundo, a leishmaniose afeta 88 países, mas ainda é negligenciada pelas indústrias farmacêuticas. O medicamento mais indicado causa efeitos colaterais graves, o que dificulta a adesão ao tratamento. Diante disso, o Instituto de Tecnologia em Fármacos (Farmanguinhos/Fiocruz) desenvolve um medicamento inovador contra a leishmaniose cutânea. Trata-se do Sulfato de Paromomicina na apresentação de gel 10%, que vem sendo estudado no Laboratório de Tecnologia Farmacêutica da unidade. A previsão é de que em quatro anos o fármaco esteja disponível para o paciente atendido pelo Sistema Único de Saúde (SUS).


Gerente do projeto em Farmanguinhos, a química industrial da Coordenação de Desenvolvimento Tecnológico da unidade, Maristela Rezende, diz que o tratamento atual disponível está longe de ser satisfatório. “Apesar de ser considerado de primeira escolha em todo o mundo, o antimoniato de N-metilglucamina, como todos os antimoniais pentavalentes, é pouco absorvido pelo trato digestivo e a retenção da substância é responsável por efeitos tóxicos. Em outras palavras, ele não é bem tolerado e produz muitos efeitos colaterais, impactando negativamente na adesão ao tratamento”, observa.

Para contornar esse problema, Farmanguinhos trabalha para oferecer uma alternativa terapêutica. O estudo para o novo gel de Paromomicina vem sendo realizado em parceria com o Centro de Pesquisa René Rachou (CPqRR/Fiocruz Minas), Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e DNDi (sigla em inglês da Iniciativa para Doenças Negligenciadas) e com o Programa de Desenvolvimento Tecnológico de Insumos para a Saúde (PDTIS/Fiocruz).

A leishmaniose tegumentar tem duas formas de apresentação clínica: cutânea e mucosa. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), é uma das seis mais importantes patologias infecciosas, pelo seu alto coeficiente de detecção e capacidade de produzir deformidades. Constitui um problema de saúde pública em 88 países, distribuído em quatro continentes (América, Europa, África e Ásia), com registro anual de 1 milhão a 1,5 milhão de casos.

No Brasil, a leishmaniose cutânea é uma das afecções dermatológicas que merece mais atenção, com ampla distribuição em todas as regiões. Dados do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan) mostram que em 2009 foram registrados 21.824 casos deste tipo da doença em todo o país. Uma das preocupações é com o risco de surgimento posterior da forma mucosa, que pode ser desfigurante. Além disso, existe o impacto psicológico, que produz reflexos no campo social e econômico, uma vez que, na maioria dos casos, pode ser considerada uma doença ocupacional.

Nesse sentido, em janeiro último, foi criado o grupo que acompanhará todo o processo de desenvolvimento do gel anti- leishmaniose de Farmanguinhos até a produção em escala industrial. O grupo é formado por Wim Degrave e Cássia Pereira (PDTIS), Ana Rabello (CPqRR), Fabiana P. Alves (DNDi) além de Tereza Santos, Maristela Rezende, André Daher e Lilian Petroni (Farmanguinhos). A gerente do projeto explica que o objetivo é abastecer o Ministério da Saúde com uma nova especialidade farmacêutica, promovendo o acesso da população brasileira a novas alternativas terapêuticas. “Com as diferentes expertises trabalhando em conjunto, o medicamento tão especial para a saúde pública será entregue ao Ministério da Saúde no prazo previsto, ou seja, em quatro anos”, frisa Maristela Rezende.

A leishmaniose é uma doença infecciosa causada por protozoários do gênero Leishmania, que acomete pele e mucosas. Ela vem ocorrendo de forma endêmico-epidêmica apresentando diferentes padrões de transmissão relacionados não somente ao avanço do homem em áreas silvestres, em virtude da expansão agrícola. A doença ocorre em áreas de colonização antiga, nas quais se discute a possibilidade de adaptação dos vetores e parasitas a ambientes modificados e reservatórios.
 Seg, 25 de Fevereiro de 2013 14:02 Alexandre Matos

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