5.29.2014

Doutores em Amazônia

Responsável pela descoberta de 108 espécies, Estação Científica Ferreira Penna, no Pará, completa 20 anos como a maior especialista na floresta

Ana Carolina Nunes

A cidade de Melgaço, no Pará, recentemente ficou conhecida no País por “conquistar” a última posição no ranking de Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) do Brasil. Mas a cidade mais pobre do País, em que metade da população de 24 mil habitantes é analfabeta, abriga um valioso tesouro, de fama internacional, pelo menos na área da ciência e do meio ambiente. É a Estação Científica Ferreira Penna, que fica isolada no meio dos 330 mil hectares da Floresta Nacional do Caxiuanã, unidade de conservação nacional que integra a Amazônia Legal.
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Estar fora do GPS é justamente um de seus maiores valores. Sua localização possibilita aos pesquisadores que enfrentam 16 horas de barco desde Belém usufruir de um verdadeiro laboratório natural e preservado. O trabalho de campo desenvolvido por mais de mil estudiosos que já passaram pela Estação entregou à ciência 108 novas espécies de fauna e flora e rendeu cerca de mil publicações científicas, incluindo dissertações de mestrado e teses de doutorado, conferindo à Estação o status internacional de referência em literatura amazônica.
Ter como escritório parte da maior floresta tropical do mundo e um dos mais ricos biomas do planeta garante amplas possibilidades nas mais diversas áreas de pesquisa, inclusive de ciências humanas. “Mais de 100 projetos científicos foram ou estão em desenvolvimento aqui, nas áreas de botânica, zoologia, arqueologia, ciências da terra e ciências humanas”, conta a coordenadora da Estação Científica, Maria das Graças Ferraz Bezerra.
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Apesar do isolamento geográfico, a Estação Científica Ferreira Penna possui cerca de 500 vizinhos que habitam o entorno. Uma parte delas atua prestando serviços na própria Estação. Outros participam dos projetos para a exploração de atividades econômicas ambientalmente sustentáveis, os chamados bionegócios, como atividades com as castanheiras ou no desenvolvimento de biojoias, bioinseticidas e biocosméticos. São opções para que a comunidade não se renda à extração madeireira. “A floresta deve ser valorizada e economicamente trabalhada, desde que em pé”, explica Graça.
A Estação hospeda atualmente três grandes projetos de monitoramento e conservação do ambiente florestal, como o estudo da seca na floresta, pesquisa da biodiversidade do bioma da Amazônia e avaliação da dinâmica florestal incluindo a relação dela com as mudanças climáticas.
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A história da Estação Científica começou no fim do século 19, quando o então diretor do Museu Paraense, o zoólogo suíço Emilio Goeldi, que posteriormente emprestou seu nome à instituição, buscava uma área preservada na Amazônia destinada a pesquisas e estudos científicos. Mas só quase cem anos depois, em 1993, a Estação foi inaugurada, após a cessão das terras pelo Ibama e o investimento do governo britânico, financiador da obra de US$ 2,7 milhões. Hoje a administração da Estação é de responsabilidade do Museu Paraense Emilio Goeldi, unidade de pesquisa do Ministério de Tecnologia, Ciência e Inovação, em parceria com o Instituto Chico Mendes (ICMBio), autarquia do Ministério do Meio Ambiente responsável pela Flo resta Nacional do Caxuanã.
No aniversário de 20 anos da Estação, foi realizado o seminário ‘Biodiversidade, Inovação e Sustentabilidade-Amazônia e Reino Unido, experiências e oportunidade’, mostrando aos britânicos que eles tiveram um dos melhores retornos sobre o investimento que um financiador pode ter. É para inglês ver, se orgulhar e replicar.

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