9.15.2014

Como jogar fora os medicamentos que temos em casa?



Medicamentos possuem em sua composição substâncias químicas potencialmente tóxicas ao ecossistema e que contaminam a água e o solo. Grande parte dos consumidores finais não sabe o que fazer com os medicamentos que sobram ou vencem.


Nos sete primeiros meses de 2014, foram comercializadas no Brasil mais de 3 trilhões de caixas de medicamentos, números que colocam o país entre os 10 maiores consumidores destes produtos. Mas nem todo medicamento que é comprado é utilizado - sobram comprimidos nas cartelas, xarope nos frascos e fica um pouco de pomada nas bisnagas. A primeira reação de todo consumidor, quando há resto de medicamento, é guardá-lo para utilizar novamente. Além destas sobras, temos em casa medicamentos com prazo de validade vencido e aqueles indicados pelos amigos, vizinhos, parentes.

Dois aspectos relacionados ao uso doméstico dos medicamentos devem ser considerados pelos consumidores. O primeiro é que não devemos guardar aqueles que não estamos utilizando. Guardar as sobras estimula a auto-prescrição, ou seja, o uso por conta própria, prática que pode trazer consequências negativas e graves para a saúde.  Portanto, é preciso descartá-los. Mas como jogar fora corretamente os medicamentos que temos em casa?

De modo geral, o consumidor final faz o descarte de medicamentos líquidos em pias e vasos sanitários e, de produtos sólidos, como comprimidos e cápsulas, no lixo doméstico. Bisnagas e frascos vazios ou com sobras são jogadas diretamente no lixo. Como a disposição final de todo o lixo doméstico é o lixo urbano e tudo o que é descartado na pia ou vaso cai na rede pública de esgoto, são jogadas, diariamente, toneladas de medicamentos no meio ambiente - a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) estima que este número pode chegar a 34.000 toneladas anuais.

Estas alternativas de descarte que julgamos certas e que são praticadas rotineiramente pela população, provocam impacto negativo no meio ambiente. É crescente o número de estudos realizados no Brasil e no mundo que comprovam a presença de fármacos (o princípio ativo dos medicamentos) e outros farmoquímicos em águas de lençóis freáticos, rios, oceanos, solo e, até mesmo, na água para consumo humano. Embora os efeitos decorrentes da exposição ambiental a estes produtos ainda não estejam totalmente elucidadas, pesquisas recentes mostram que estes compostos podem interferir no metabolismo e no comportamento da biota aquática, podem provocar alterações da comunidade microbiana do solo e, podem causar efeitos nocivos à saúde humana.

Sendo assim, a melhor maneira de descartarmos os medicamentos que temos em casa é devolvermos os medicamentos de uso doméstico em postos de coleta. O Governo Federal e a ANVISA, além de representantes da iniciativa privada, debatem, desde 2010, o destino que deve ser dado aos medicamentos não utilizados pelos consumidores. Pretende-se que, por meio de uma ação de responsabilidade compartilhada, seja delegada ao consumidor a tarefa de levar os medicamentos a locais específicos para coleta. A parir daí, farmácias, drogarias, distribuidores, importadores e laboratórios farmacêuticos, devem providenciar o descarte e a destruição segura, dividindo com o consumidor a responsabilidade. Diversos programas de descarte ("Descarte Consciente", "Descarte Responsável", "Destino Consciente", "Descarte Correto", "Papa Medicamentos") foram lançados no país por redes de farmácias, drogarias, supermercados, conselhos regionais de Farmácia e planos de saúde e muitos municípios brasileiros já contam com pelo menos um ponto de coleta.

O que o consumidor tem a fazer então? Guardar todos os medicamentos que sobram e que têm data de validade vencida na embalagem original, em uma caixa de papelão ou em um saco plástico lacrado. Sempre longe do alcance de crianças. Depois, deve descobrir onde fica o ponto de coleta mais próximo e levar, periodicamente, a caixa com os produtos para descartar lá. O consumidor pode descobrir se existem locais específicos para coleta nas Secretarias de Saúde, nos postos municipais da Vigilância Sanitária, na Prefeitura ou diretamente nas farmácias e drogarias onde costuma comprar medicamentos.

Em cidades onde existem faculdades ou universidades, estas instituições também podem ser consultadas. Alunos de cursos de Biologia, Farmácia, Engenharia Ambiental realizam, com frequência, trabalhos junto às comunidades que envolvem o descarte consciente de medicamentos. Assim, cada elo da cadeia responsável pelo medicamento, que envolve desde o fabricante até o usuário final, cumpre com o papel de manter nossas casas seguras e o meio ambiente saudável. Nos dois casos, garantimos nossa qualidade de vida e nosso bem-estar.



Fonte: Diário da Manhã


Brasil não tem política de descarte de medicamentos e depende de empresas

Carlos Padeiro
Do UOL, em São Paulo

  • Medicamentos que vão par o lixo poluem o meio ambiente Medicamentos que vão par o lixo poluem o meio ambiente
O simples ato de jogar um remédio no lixo, no vaso sanitário ou na pia pode gerar consequências graves ao meio ambiente. No Brasil, falta uma política pública para o descarte de medicamentos, e a população nem sequer tem consciência sobre os malefícios que as substâncias químicas podem causar à natureza no contato com a água, a terra e a atmosfera (na forma de gases).
A maneira correta de jogar fora os medicamentos vencidos ou sem uso é a incineração. A questão é: como o cidadão comum pode descartar os remédios? O desafio das autoridades é oferecer uma logística reversa, ou seja, um caminho de volta das casas para a cadeia produtiva.
O que tem ocorrido são campanhas pontuais, principalmente em grandes redes de farmácia para o recolhimento de medicamentos, seringas, frascos de vidro, pomadas etc. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) ainda não definiu o Acordo Setorial de Implantação da Logística Reversa de Resíduos de Medicamentos, dentro da Política Nacional de Resíduos Sólidos.
Coordenadora do projeto de extensão "Descarte Correto de Medicamentos", da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, a professora Louise Jeanty de Seixas alerta para os cuidados necessários no recolhimento das drogas legais.
"Não estimularia a colocação de pontos de coleta em qualquer estabelecimento comercial, pois lembro que um medicamento vencido não é lixo, mas, sim, um produto químico que deve ser adquirido, utilizado e descartado com responsabilidade."
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Veja os destaques de Meio Ambiente (2013)312 fotos

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Serviço
Ecomed - o site informa em quais cidades estão instaladas a máquina coletora
Eurofarma – lista indica quais farmácias da rede Extra e Pão de Açúcar fazem a coleta em São Paulo
Sesi/SC – a rede Sesifarmácia, de Santa Catarina, oferece o programa Papa-Pílula, veja onde
Drogamais - No Paraná, também há uma lista para coleta
Drogaria São Bento - Veja farmácias no Mato Grosso e Mato Grosso do Sul
Desde 2010 as farmácias da rede Extra e Pão de Açúcar oferecem, nas cidades de São Paulo, Piracicaba e Araraquara, uma urna para coleta, em parceria com a Eurofarma e com as prefeituras. "As drogarias identificaram um valor agregado ao negócio por oferecerem esse tipo de serviço. Houve um retorno favorável, porque você amplia e fideliza o consumidor. É um diferencial, atrai o cliente consciente", comenta Isamara Freitas, gerente da área de meio ambiente e segurança da Eurofarma.
 
Uma opção é o Ecomed, desenvolvido desde 2011 pela empresa BHS (Brasil Health Service). Trata-se de uma máquina com tela LCD, que registra por código de barra os medicamentos depositados em seus compartimentos. O objetivo é monitorar os remédios coletados até que atinjam seu destino final, a incineração, para evitar fraudes.
Essa solução, entretanto, não preenche nem metade do território nacional, pois está presente em apenas 11 Estados (todos das regiões Sul e Sudeste, mais Bahia, Pernambuco, Ceará e Goiás) e no Distrito Federal.
"Hoje temos 347 Ecomeds em estações de coleta, hospitais, farmácias e ambulatórios de empresas privadas. Fechamos também uma parceria com o Walmart. Mas existe uma dificuldade pela falta de patrocínio", aponta José Francisco Roxo, sócio da BHS e especialista em Gestão Empresarial Ambiental.
"O assunto é muito novo e as pessoas não sabem o tamanho do problema. Pesquisamos em outros países e trouxemos para o Brasil algumas ideias, porque o consumidor é muito desconfiado em relação a contrabando e falsificação. A solução exigia uma rastreabilidade desde inicio do descarte até a incineração, que é o final correto", explica Roxo, mencionando que a população fica com um pé atrás ao devolver um medicamento caro.  
Seixas afirma que os remédios devem ser devolvidos às farmácias. "A farmácia continua sendo o ponto de coleta. O Ecomed é importante para que se possa acompanhar e registrar todo o fluxo de descarte, com isto temos a segurança de todo o processo. Em não sendo possível, quanto mais documentado e registrado for o processo, maior será a  segurança de que os medicamentos foram recebidos, identificados e destinados corretamente".

Medicamento fracionado

Diante dos obstáculos atuais para o recolhimento, é necessário ponderação na aquisição de remédios.
"É importante destacar o papel do profissional farmacêutico, orientando para o uso correto dos medicamentos, assim como alertar para os riscos da automedicação, de maneira a minimizar as sobras. As embalagens nem sempre contém a quantidade recomendada pelo profissional: ou sobra ou falta. Destaco aqui a proposta dos medicamentos fracionados, isto é, cada usuário poderá adquirir a quantidade exata indicada na sua prescrição", comenta.
Segundo o empresário Roxo, a tecnologia do Ecomed conscientiza as pessoas a armazenarem a bula e a caixa. No momento de depositar o remédio, é preciso ter a embalagem em mãos com o código barras para o registro na máquina.

Problema ambiental

"Cada quilo de medicamento coletado deixa de contaminar 450 mil litros de água", comenta o proprietário da BHS, empresa vencedora do Prêmio Fecomercio de Sustentabilidade, em São Paulo.
Além disso, há uma parceria com universidades. "Informações são enviadas à comunidade acadêmica para pesquisas de interesse da população, como, por exemplo, o tratamento da água contaminada pelos princípios ativos dos medicamentos", pontua Roxo.
Um dos problemas mais graves está na contaminação das águas. "Atualmente, e cada vez mais, já estão sendo relatados casos de identificação de princípios ativos de medicamentos, principalmente nas águas", afirma Louise de Seixas.
Para citar um exemplo, hormônios femininos contidos em pílulas anticoncepcionais, ao chegarem, via esgoto, a rios de água doce, têm efeitos 'afeminantes' em peixes machos, segundo estudo realizado nos Estados Unidos e no Canadá.  Os pesquisadores encontraram óvulos dentro dos testículos de alguns peixes, em pesquisa da Unicamp (Universidade de Campinas).
"Muitos destes compostos são derivados do próprio consumo e do metabolismo de excreção, que vão para o esgoto doméstico. Então, é importante destacar que o esgoto, mesmo quando tratado, não obrigatoriamente consegue eliminar estes produtos químicos, pois o tratamento é muito mais focado na eliminação da carga orgânica, e não química. Se somarmos a isto o descarte das sobras de medicamentos no vaso ou pia, poderemos ter uma ideia da dimensão do problema", pontua a professora de Farmácia da UFRGS. 
Outro risco é o contato de crianças com os remédios. Nos lixões, elas podem confundir comprimidos com doces ou balas. Mesmo em casa, medicamentos armazenados incorretamente podem ser ingeridos pelos pequenos. Esta é a principal causa de intoxicação infantil.

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