Em julho do ano passado, o Ministério Público Eleitoral pediu a cassação do seu mandato por abuso de poder econômico e compra de votos, numa operação que deixou até recibos. Em outra denúncia referente a sua reeleição, Melo foi acusado de usar a PM para intimidar eleitores. Numa das gravações, um coronel manda parar os ônibus com eleitores do rival Eduardo Braga, que foi derrotado por Melo em 2014, e jogá-los na água.
Se isso não bastasse, Melo foi também acusado de negociar com a agora notória facção criminosa Família do Norte, que teria sido responsável pelo massacre. Num dos áudios, um subsecretário do governo Melo dialoga com um traficante, que promete 100 mil votos – em contrapartida, Melo deveria garantir que a FDN não seria prejudicada em seus negócios.
Ao minimizar as mortes dos presos, dizendo que ali havia “assassinos e estupradores”, Melo cometeu mais um pecado: antecipou o julgamento de muitos detentos que estavam no presídio Anísio Jobim antes mesmo de qualquer condenação. E mesmo que fossem matadores ou estupradores, estavam sob a guarda do Estado para serem reabilitados – e não decapitados.
O massacre de Manaus também serviu para desmontar os argumentos dos que defendem o Estado mínimo. Os presos sob administração da empresa privada Umanizzare custavam mais, por exemplo, do que os detentos de São Paulo e dos presídios federais.
Além disso, como a lógica da privatização é receber um valor unitário por detento, quando mais presos, melhor. Em 2016, a Umanizzare recebeu R$ 429,4 milhões do governo do Amazonas, 115% a mais do que em 2015. Coincidência ou não, foi também uma das doadoras para a campanha à reeleição de José Melo e de vários políticos locais.
No governo federal, o que se viu foi uma tentativa de jogar a bomba no colo do governo amazonense, tarefa que ficou sob a incumbência do ministro Alexandre de Moraes. O “acidente pavoroso”, na definição de Michel Temer, foi apenas a crônica de uma tragédia anunciada, onde se misturam elementos como superlotação dos presídios, detenções sem que haja culpa formada, privatizações malfeitas e confusões entre interesses públicos e privados nas doações de campanha.
De fato, não há santos no banho de sangue de Manaus.
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