6.14.2019

"O país pariu essa coisa chamada Bolsonaro", afirma Lula em entrevista



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14 de Junho de 2019 às 06:31  Por: BNews  Por: Folhapress  0comentários
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) fez duras críticas ao presidente Jair Bolsonaro
 (PSL) em entrevista gravada na quarta (12) e transmitida na quinta (13) pela emissora TVT.
 Juca Kfouri, blogueiro do Uol, e o jornalista José Trajano falaram com o petista na 
Superintendência da Polícia Federal em Curitiba, onde ele está preso desde abril do
 ano passado.
Ele também questionou o ataque a faca que vitimou o então candidato à Presidência
 em Juiz de Fora (MG). Após o episódio, Bolsonaro passou por duas cirurgias. 
 "Eu, sinceramente...aquela facada tem uma coisa muito estranha, uma facada que
 não aparece sangue, que o cara é protegido pelos seguranças do Bolsonaro".
Confrontado por Juca Kfouri sobre os eleitores que se sentiram traídos pelo PT, Lula disse
 que havia outros candidatos para as pessoas exercerem "vingança".
"Alguém que se sentiu traído pelo PT não poderia ter votado no Bolsonaro. Se o cara
 se sentiu traído, poderia ter votado em coisa melhor, o Boulos foi candidato, o Ciro, 
embora não mereça porque é muito grosseiro, foi candidato", disse. Parafraseando 
o escritor moçambicano Mia Couto, Lula disse que a sociedade, com medo, se aproximou
 do "monstro para pegar proteção" e elegeu o que classificou como "o pior dos coronéis".
 Ele mencionou que o pesselista tem filhos no Senado, na Câmara de Deputados e na 
Câmara Municipal do Rio.
"Ele [Bolsonaro] conseguiu se vender para a sociedade enraivecida como antissistema. 
E a tendência é não dar certo", disse, criticando a gestão de Bolsonaro.
Lula também diz que deseja voltar a ser presidente para "rever e refazer coisas que eu
 não tinha consciência de que era preciso fazer" e defendeu mais concorrência entre 
os meios de comunicação.
"Esse país não pode ter os meios dominados por nove famílias. É preciso regular. 
A última regulação é de 1962, quando não se tinha nem telefone celular."
Mensagens de Moro vazadas
Sobre as publicações de conversas vazadas entre o ex-juiz federal Sergio Moro,
 agora ministro a Justiça, e o procurador da República Deltan Dallagnol, coordenador
 da força-tarefa da Lava Jato, Lula disse que trouxeram "a verdade à sociedade brasileira",
 mas que não arriscaria dizer que consequências terão as revelações. As mensagens
 foram divulgadas pelo site The Intercept Brasil, que afirma tê-las recebido de fonte anônima.
"Estou ficando feliz com o fato de que o país finalmente vai conhecer a verdade", disse,
 ressaltando que sempre disse que "Moro é mentiroso" e estava "condenado a condená-lo"
 porque "a mentira tinha ido muito longe". Disse ainda que o procurador Deltan deveria
 ter sido preso ao dizer que não tinha provas, mas tinha convicção. "Ele deveria ter sido
 preso ali." Essa frase, contudo, não foi proferida pelo procurador da forma como foi 
divulgado na internet e nas redes sociais.
"Pode pegar a turma da força-tarefa, o Moro, enfiar num liquidificador, e quando for 
tomar o suco, não dá a honestidade do Lula", disse. Lula disse que as apurações 
contra a corrupção devem continuar, e políticos e empresários corruptos têm de ser presos 
com base em mecanismos e leis que, segundo ele, foram criadas pelo PT. E voltou a dizer
 que não sujaria a mão por um apartamento que ele poderia comprar, se referindo ao caso 
do tríplex de Guarujá (SP), que o colocou na prisão em abril do ano passado.
"Já falei que vou casar" 
Sobre sua situação, preso pela Lava Jato, Lula disse não se considerar "ferrado", mas sim
 "acabrunhado", porque gostaria de estar em liberdade. "Ver o meu Corinthians jogar, ver
 a minha família. Eu já falei pra todo mundo que, quando eu sair daqui, eu vou casar", 
disse. Disse, no entanto, estar consciente de que existem milhões de brasileiros em pior
 situação que a dele, que está preso. "Vi [pela televisão] pessoas invadindo caminhão de
 lixo para catar comida para comer. E nós tínhamos acabado com a fome", disse.
Caso Neymar
O ex-presidente aproveitou o espaço na entrevista para criticar o comportamento de 
parte da imprensa no caso em que o jogador Neymar é acusado de um estupro em Paris,
 capital francesa. Para Lula, a TV Globo teve "pressa" e "voracidade" para defender a 
inocência de Neymar. "Eu não posso dizer que o Neymar tem culpa, e nem que a moça 
está mentindo", disse.
"A moça virou vagabunda antes de qualquer possibilidade", concluiu.
Indicação de Ministros
Questionado sobre as indicações que fez durante os anos na Presidência para as 
cadeiras no Supremo, Lula disse que nunca pediu contrapartidas para as nomeações. 
Afirmou, ainda, que apesar de discordar dos votos de alguns ministros ("não indiquei 
eles para votarem pra mim"), eles foram importantes para vários debates que aconteceram
 no país nos últimos anos.
"Eles têm um bom currículo. (...) Essas pessoas tiveram papel importante na questão 
da célula tronco, na reserva indígena, na união civil, nas cotas raciais. Então eu posso
 não concordar politicamente com algumas coisas", afirmou o ex-presidente, revelando
 ainda que, quando indicou Carlos Ayres Britto para o STF, ouviu de interlocutores que
 ele era "muito vaidoso". "Se ele fosse escrever um livro, me diziam, ia chamar 'eu me
 amo'", disse.

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