O Ciências Sem Fronteiras foi uma conquista do jovem brasileiro. A destruição do Programa não foi e não é um enfrentamento de dificuldades complexas. Foi um recuo do Estado em relação às obrigações que nossa sociedade recentemente pediu que fossem públicas
As opções de intercâmbio internacional no âmbito do
ensino de graduação foram retiradas da governança de recursos públicos,
ou seja, essas opções praticamente deixaram de existir como política de
Estado.
O esvaziamento seguido de descontinuidade do Programa Ciências Sem Fronteiras faz parte de um contexto de radicalização da pauta neoliberal no Brasil, com a qual o diagnóstico de “ineficiência” é seguido do prognóstico “interrompa-se”.
O Programa Ciências Sem Fronteiras foi considerado
ineficiente e no jargão das forças que tomaram o Estado essa é a senha
para indicar gastos passíveis de interrupção.
Porém, é importante reconhecer que o Ciências Sem
Fronteiras dizia respeito, em primeiro lugar, ao compromisso de assumir
como questão de Estado o alargamento dos horizontes dos cursos de
graduação.
O que se buscava era a institucionalização de
procedimentos que pudessem conectar pessoas ao mundo acadêmico
estrangeiro, de modo a fazer com que as próprias bases para formação se
ampliassem, acrescentando às plataformas de profissionalização
possibilidades de enriquecimento cultural e comparação entre diferentes
modos de fazer.
A “declaração de ineficiência” foi
produzida à distância dos debates educacionais e não há instância
educacional brasileira que se reconheça como interlocutora mobilizada
para discutir ajustes, avaliação e reorientações necessárias.
Se é evidente que todo programa de Estado deve
submeter-se permanentemente a processos de avaliação, é evidente também
que o tempo de amadurecimento e consolidação de cada um não coincide com
cronogramas expressos em calendários governamentais, especialmente com
aqueles que se estruturam sob as demandas da redução da esfera pública.
O Programa Ciências Sem Fronteiras foi uma conquista do jovem brasileiro.
Assim como a expansão na oferta de vagas nas
universidades públicas revelou, na sequência, que o desafio da
permanência era tão grande e complexo quanto o desafio de garantir maior
acesso, a consolidação de programas para formação no exterior depende
de planejamento e permanente avaliação para que os problemas que
aparecem na caminhada ganhem sempre fórum adequado para discussão e
encaminhamento de soluções.
A destruição do Programa não foi e não é um
enfrentamento de dificuldades complexas. Foi um recuo do Estado em
relação às obrigações que nossa sociedade recentemente pediu que fossem
públicas.
Com essa desativação, os números do intercâmbio
universitário com o exterior, no âmbito dos cursos de graduação, foram
reduzidos a índices bem próximos do zero.
E, para piorar, a iniciativa privada não ocupará esse espaço.
Os jovens que conquistaram esse Programa não terão
como participar do processo de aperfeiçoamento que deveria ser
engendrado agora.
Apenas lamentarão o esgotamento precoce dessa alternativa e entenderão que austeridade neoliberal quer sempre dizer “Estado que não quer responder”. Irresponsável, portanto.
*Gilberto Alvarez Giusepone Jr.
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