Vejam que coisa curiosa: o Brasil vem piorando há cinco anos
nesse ranking mundial de percepção da corrupção. É a mesma idade da Lava Jato.
Há meia década, nós, brasileiros, achamos – a cada ano mais – que “nunca
se roubou tanto” neste país. Mas vejam: isso é um ranking de
percepção
de corrupção, não da corrupção efetiva. É um ranking sobre o sentimento
da população em relação à roubalheira. E o que potencializa essa
percepção? Cinco anos de notícias diárias sobre o “combate à corrupção”
com certeza sim.
E quem alimenta a imprensa com esse ciclo eterno? Sobretudo a Lava Jato.
Então, quanto mais Lava Jato tivemos, mais as pessoas foram achando o
país corrupto. Quem se beneficiou disso? A Lava Jato, ora, que só
cresceu, concentrou poder e cometeu arbitrariedades disfarçadas de
heroísmo.
Quanto mais operações da Lava Jato, mais notícias. Quanto mais notícias,
mais as pessoas foram achando que o país piorava em relação à
corrupção. Qual remédio foi vendido para aplacar essa percepção
crescente de que somos um país de ladrões? Mais Lava Jato. (e por favor,
isso nada tem a ver com o combate à corrupção em si, mas com os métodos
e a transformação da função pública em circo).
No dia seguinte à divulgação da pesquisa, Sergio Moro
disse:
“Indicadores da Transparência Internacional mostram como é difícil mudar
a percepção sobre corrupção. Nota no Brasil não melhorou nos últimos
anos apesar dos avanços da Lava Jato e de 2019.Isso significa que
precisamos fazer muito mais, inclusive no Congresso”.
Viram o remédio do Sergio? Mais Lava Jato, e os abusos de poder que ainda finge não terem existido.
Essa panaceia – como se os remédios anti-corrupção fossem sozinhos
salvar o Brasil – criou a armadilha perfeita para destruir a confiança
em toda a classe política e se buscar a saída fora dela: MPF e
Judiciário com seu lavajatismo, aventureiros como Bolsonaro e (agora)
Huck com sua anti-política.
Estamos
bolsonarotemáticos, mas quem é o grande candidato da
extrema-direita hoje? Ele, Moro. Talvez Bolsonaro já tenha se convencido
que sua única chance é tirar Moro do palco imediatamente, antes que
seja engolido.
Isso aqui, por exemplo, deu no JN essa semana. Nem notícia é. Como Moro fora do governo, ele perde seu principal microfone.
Seguirá a ter repercussão, mas dependerá muito mais de besteiras ditas
no Twitter do que de coletivas oficiais cheias de repórteres. O séquito
de jornalistas que passam o dia atrás da agenda do ministro minguará, e
serão três anos sem esse enorme palanque que é o Ministério da Justiça.
Um longo caminho até 2022.
A
história mostra que não existem ministros indemissíveis.
Ouça, Bolsonaro, ouça
Nenhum comentário:
Postar um comentário