Até 20% dos que têm câncer de pâncreas resistem 5 anos após tratamento
Dificuldade de diagnóstico faz da doença uma das mais agressivas.
‘Couraça’ das células tumorais neutraliza medicamentos disponíveis.
Câncer de pâncreas, que matou na segunda-feira (14) o ator americano Patrick Swayze, é conhecido por sua extrema agressividade. “Entre os tumores sólidos (termo usado para diferenciar de outros tipos, como o linfático e a leucemia), o de pâncreas é com certeza um dos dois ou três mais agressivos”, diz Felipe José Fernández Coimbra, diretor do departamento de cirurgia abdominal do Hospital A.C. Camargo.
O pâncreas é uma glândula do aparelho digestivo localizada na parte superior do abdome, atrás do estômago, colada ao duodeno. É a responsável pela produção de enzimas atuantes na digestão dos alimentos e pela produção da insulina. É dividido em três partes: a cabeça (lado direito); o corpo (centro) e a cauda (à esquerda). “Quando o tumor é na cabeça do pâncreas, os sintomas costumam ser mais precoces”, diz o especialista. “Quando é no corpo ou na cauda, são mais tardios.”
O maior problema é justamente o diagnóstico tardio. Um dos sinais da doença é dor abdominal superior. Mas ela pode irradiar para a região lombar, confundindo com problemas de coluna. Pior: a dor em si já indica que os nervos ao redor do pâncreas foram atingidos, explica Antonio Carlos Buzaid, diretor-geral do Centro de Oncologia do Hospital Sírio-Libanês. “A dor, portanto, já indica incurabilidade.” Os sintomas incluem emagrecimento e, no caso dos tumores de cabeça do pâncreas, icterícia – coloração amarela da pele e dos olhos, causada por obstrução biliar.
É como se você acertasse em cheio um navio com um torpedo, mas os marinheiros são muito bons e sempre reparam o casco rapidamente"
Outro grande desafio é driblar os mecanismos de defesa da célula tumoral, mais resistentes aos medicamentos disponíveis do que outros tipos de tumor. “É como se você acertasse em cheio um navio com um torpedo, mas os marinheiros são muito bons e sempre reparam o casco rapidamente”, explica Buzaid.
A taxa de sucesso dos tratamentos, medida pela porcentagem dos pacientes que vivem 5 anos após realizá-los, varia de 5% a 20%. Essa grande variação é reflexo de onde a pessoa é tratada (em um centro de referência nesse tipo de tumor ou em um hospital-geral, por exemplo). Ela também reflete, evidentemente, o estágio da doença quando finalmente ocorre a intervenção médica. Se o tumor for bem localizado, é feita a remoção cirúrgica (o tumor é ressecável). “Essa cirurgia é uma das maiores que se fazem no aparelho digestivo”, conta Coimbra. Quando é “localmente avançado” (invadindo artérias e veias próximas) ou metastático, com pontos de incidência no fígado, ossos ou pulmão, é preciso recorrer a quimio e radioterapia.
Incidência entre pessoas com mais de 80 anos é 10 vezes maior
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A incidência da doença entre pessoas de 40 a 50 anos de idade é de 10 para 100 mil habitantes. Dos 80 aos 85 anos, a incidência é dez vezes maior (116 para 100 mil). Os fatores de risco são tabagismo, obesidade, pancreatite crônica, histórico familiar, diabetes, consumo crônico de álcool e algumas síndromes genéticas (como a síndrome de Lynch e a síndrome do melanoma familiar). Dados do Instituto Nacional de Câncer (Inca) indicam que, no Brasil, o câncer de pâncreas representa 2% de todos os tipos de câncer e é responsável por 4% do total de mortes por câncer.
Nos Estados Unidos, de 30 mil a 40 mil pessoas são diagnosticadas com a doença a cada ano. No Brasil, aproximadamente 10 mil.
“Um dado animador é que estão surgindo muitas pesquisas voltadas para o diagnóstico precoce do câncer de pâncreas”, conta Coimbra. “Embora não se comparem aos avanços já alcançados no caso do tumor de estômago, por exemplo, os resultados melhoram pouco a pouco.”
“Nos últimos 20 anos, os avanços são poucos”, avalia Buzaid. “Mas quando entendermos melhor o câncer de pâncreas, esse conhecimento também será aplicável ao tratamento dos demais tumores.”
Globo.com - G1.com
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