5.03.2010

FIM DA LINHA PARA ASSASSINOS DE POLICIAIS E FOTÓGRAFO DE DIA

Fim da linha para matador de policiais e de fotógrafo
Megaoperação em favelas da Maré termina com seis mortos, entre eles líder de quadrilha de assaltantes da Zona Norte acusado de assassinar PMs e um jornalista de O DIA :
Mais de 300 policiais fizeram megaoperação nas favelas do Parque União e Nova Holanda, no Complexo da Maré. Após troca de tiros, 6 pessoas morreram, entre eles Pitoco, acusado de matar o fotógrafo de O DIA André Az, em fevereiro de 2009
Ernesto Carriço / Agência O Dia
Rio - A caçada de quase três anos a um dos assaltantes mais sanguinários do Rio terminou ontem, nos fundos de um barraco do Complexo da Maré. Integrante de um grupo de mais de 60 bandidos que aterrorizam 20 bairros da Zona Norte e acusado de matar, em fevereiro do ano passado, o fotógrafo de O DIA André Alexandre Azava, o AZ, Ivanildo Francelino dos Santos, o Pitoco, foi morto durante megaoperação da Polícia Civil.

O confronto matou mais cinco homens a um deles, segundo moradores, seria inocente. Uma mulher ficou ferida e 20 pessoas foram detidas, mas só duas ficaram presas.
Após confronto, agentes levam corpo do assaltante Pitoco: criminoso procurado Foto: Leslie Leitão / Agência O Dia

A ação nas favelas Nova Holanda e Parque União mobilizou cerca de 300 agentes para cumprir dez mandados de prisão. Pitoco e seu comparsa Emerson Janet-Laine da Silva, o Mão, que escapou, eram os principais alvos.Segundo as investigações, Pitoco se especializou em executar policiais e tinha pelo menos cinco vítimas em sua ficha criminal. Entre eles estão o inspetor Sandro Luiz Gonzaga, neto do Rei do Baião Luiz Gonzaga, em setembro de 2008; o soldado Vanderlei Abreu da Paixão, do 23a BPM (Olaria), e o sargento Wilson Carvalho, do 1º BPM (Estácio), atacados em janeiro perto da sede da prefeitura, na Cidade Nova.
>> FOTOGALERIA: Flagrantes e imagens fortes da operação no Complexo da Maré A chegada dos policiais à Maré aconteceu pouco antes das 6h. Agentes de delegacias distritais fizeram um cinturão de segurança para evitar que criminosos fugissem, enquanto os das unidades especializadas entraram. Houve um tiroteio de mais de uma hora. O secretário de Segurança, José Mariano Beltrame, elogiou a operação. “Esses bandidos são responsáveis pelo homicídio de policiais, jornalistas, fora outros assaltos. Tendo boa informação, a polícia vai entrar onde quer que seja, não importa o dia nem o horário”, afirmou, lembrando que nem as barricadas de concreto ou o ônibus da linha 179 (Central-Alvorada), atravessado na rua pelo tráfico impediram a incursão.
Tiroteio na saída de baile funk e cerco a criminoso
Na entrada da polícia na Nova Holanda, o confronto ocorreu no momento em que terminava um baile funk numa das principais ruas da favela. No Parque União, agentes enfrentaram forte resistência e quatro traficantes acabaram mortos.
Às 11h, a 27ª DP (Vicente de Carvalho) recebeu a informação exata da casa que Pitoco invadira para se esconder. Com apoio da Delegacia de Repressão a Armas e Explosivos (Drae), houve o cerco. Do segundo andar, o bandido reagiu, mas foi morto. “Foi um terror da população de bem que tiramos das ruas”, disse o subchefe operacional, delegado Carlos Oliveira.
Cinco integrantes do bando mortos pela PM
À noite, cinco integrantes da quadrilha de Pitoco e Mão foram mortos em troca de tiros com policiais do 16º BPM (Olaria) na Avenida Brás de Pina. O grupo havia roubado o carro de uma mulher, em Irajá. Avistados pelos PMs, houve o confronto em Brás de Pina e os bandidos morreram. O tiroteio apavorou moradores.Durante a ação na Maré, dez carros roubados e 24 motos foram recuperados. O veículo que mais chamou a atenção foi uma Kawasaki 750 cilindradas preta, avaliada em cerca de R$ 33 mil, com placa clonada.
Máquinas caça-níqueis também foram recolhidas em bares. Não houve represálias do tráfico, apesar de os policiais terem interceptado, via rádio, aemaças de atear fogo a ônibus na Avenida Brasil, que teve o policiamento reforçado.
Próximo ao Ciep Presidente Samora Machel, agentes estouraram uma oficina de armas, onde havia prensa usada para embalar maconha, ferramentas, munição e quatro granadas de fabricação caseira. Na operação, foram apreendidos ainda um fuzil, três pistolas, cocaína, maconha, munição e carregadores de armas.
Moradores acusam policiais de executar inocente pelas costas
Moradores acusaram policiais de executar Márcio Marinho, morador da Nova Holanda. Sem se identificar, disseram que agentes chegaram a revistar o rapaz, que era funcionário de uma gráfica, e teriam tirado dinheiro de seu bolso, antes de atirar pelas costas. Segundo o laudo cadavérico, Márcio foi atingido no peito e nas nádegas. Os dois tiros perfuraram o corpo da vítima.
À tarde, cerca de 200 pessoas estiveram no enterro do rapaz no Cemitério do Caju. “Ele estava no bar quando os policiais chegaram. Perguntaram por que ele não correu. Ele disse que estava esperando acalmar. Quando saía, atiraram covardemente e mataram um inocente”, disse uma vizinha. Os amigos contaram que Márcio não usava drogas. Segundo eles, dois irmãos do jovem já haviam morrido de forma violenta.A delegada Valéria de Castro, da 21ª DP (Bonsucesso), acompanhou a perícia e descartou que os tiros tivessem partido do alto. Ela informou que os bandidos atiraram a esmo ao na direção do helicóptero e que Márcio pode ter sido atingido neste momento. “Ele estava no baile funk, provavelmente tinha bebido e pode ter ficado desnorteado com os disparos dos criminosos. Ainda não havia nenhum policial na favela. Quando entramos, ele já estava caído”, afirmou a delegada.
Atingida por bala perdida
Perto de onde Márcio morreu, Adriana Alves, 25 anos, foi atingida por bala perdida na mão direita. “Quando escutei tiros, corri para me abrigar numa padaria. De repente, senti impacto e vi a mão sangrando. Estou preocupada em ficar com sequelas”, disse ele, chorando, antes de procurar socorro.Marco Antônio dos Santos foi preso em flagrante por policiais da 37ª DP (Ilha) com uma pistola, radiotransmissor e um cordão de ouro com a letra ‘A’ cravejada em brilhantes — uma referência ao chefe do tráfico no Parque União, Jorge Luiz Moura Barbosa, o Alvarenga. Já Roberto Vasconcellos Brum, contra quem havia três mandados de prisão por assalto, foi capturado por agentes da Core.
Reportagem de Francisco Edson Alves, Leslie Leitão e Paula Sarapu
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