“Eu sei muito bem o lugar que a história nos reserva, meus
companheiros e companheiras. E sei também quem estará na
lixeira dos tempos, quando o povo vencer mais essa batalha”,
diz um dos trechos da mensagem do ex-presidente
O vídeo divulgado neste sábado (27) pela Folha de S.Paulo
como sendo a íntegra da entrevista concedida por Lula aos
jornalistas Florestan Fernandes Júnior e Mônica Bergamo,
do El País e da Folha, na última sexta-feira (26), na verdade,
não mostrava a introdução gravada pelo ex-presidente.
Lula fala que vai fazer um pronunciamento antes das perguntas.
Esta parte foi cortada. A Fórum mostra, de fato, a íntegra
do vídeo, filmado pelo fotógrafo Ricardo Stuckert, que
acompanha o ex-presidente há anos.
Acompanhem a íntegra do pronunciamento de Lula
antes da entrevista:
Minha condenação injusta e minha prisão ilegal há mais
de um ano são mais que o resultado de uma farsa jurídica.
São consequências diretas do fracasso social, econômico
e político do golpe do impeachment contra a presidenta
Dilma Rousseff em 2016.
Aquele golpe começou a ser preparado em 2013, quando
a Rede Globo de Televisão usou sua concessão pública
para convocar manifestações de rua contra o governo
e até contra o sistema democrático. Tudo valia para tirar
o PT do governo, inclusive a mentira e a manipulação pela mídia.
Isso aconteceu quando nossos governos tinham alcançado
nossas maiores marcas. Multiplicamos o PIB por várias vezes,
chegamos a 20 milhões de novos empregos formais, tiramos
36 milhões de pessoas da miséria, levamos quase quatro
milhões de pessoas às universidades, acabamos com a fome,
multiplicamos de modo espetacular a produção e comércio
da agricultura familiar, multiplicamos por quatro a oferta do
crédito, e isso em meio a uma das maiores crises do capitalismo
na história. E ainda assim praticamente quadruplicamos
as nossas exportações.
O Brasil que estávamos criando junto com o povo e as forças
produtivas nacionais foi retratado pela Rede Globo e seus
seguidores da imprensa como um país sem rumo e corroído
pela corrupção.
Nem em 1954 contra Getúlio, nem em 1964 contra Jango se
viu tanta demonização contra um partido, um governo, um
presidente. Centenas de horas do Jornal Nacional e milhares
de manchetes e capas de revistas contra nós sem nenhuma
chance de defender nossas opiniões.
Mesmo assim, em 2014 derrotamos os poderosos nas urnas
pela quarta vez consecutiva.
Para quem não conhece o Brasil, nossas elites dizimaram
milhões de indígenas desde 1500, destruíram florestas e
enriqueceram por 300 anos às custas de escravos, tratados
como se fossem bestas, colonos e operários tratados como
servos, divergentes como subversivos, mulheres como
objetos e diferentes como párias. Negaram terra, dignidade,
educação, saúde e cidadania ao nosso povo.
Mas a Globo, o mercado e os representantes dos estrangeiros,
os oportunistas da política e os exploradores da gente
simples disseram que era preciso tirar o PT do governo para
resolver os problemas do Brasil e do povo brasileiro. Hoje,
o povo sabe que foi enganado.
Criamos o PT em 1980 para defender as liberdades
democráticas, os direitos do povo e dos trabalhadores.
O acúmulo das lutas do PT e da esquerda brasileira,
do sindicalismo, dos movimentos sociais populares nos
levou a consolidar um pacto democrático na Constituinte
de 1988.
Esse pacto foi rompido pelo golpe do impeachment em
2016 e por seu desdobramento que foi minha condenação
sem culpa e minha prisão em tempo recorde para que eu
não disputasse as eleições.
Reafirmo minha inocência, comprovada por todos os meios
de prova nas ações em que fui injustamente condenado
pelo ex-juiz Sérgio Moro, sua colega substituta e três
desembargadores acumpliciados do TRF-4.
Repudio as acusações levianas dos procuradores da
Lava Jato e denuncio Dallagnol, que nunca teve a coragem
de sustentar, ante meus olhos, as mentiras que levantou
contra mim, minha esposa e meus filhos.
Mais de um ano depois de minha prisão arbitrária está
cada dia mais claro para o povo brasileiro que fui injustiçado
para não ser candidato às eleições presidenciais no ano
passado, nas quais, segundo todas as pesquisas de
opinião pública, teria sido eleito em primeiro turno
contra todos os adversários.
O povo sabe que minha prisão teve motivos políticos.
Posso reafirmar com a consciência tranquila por ser inocente.
Os que me condenaram, não.
Fui condenado sem prova e sem crime. Minha pena ilegal
foi agravada pelo arbítrio de três desembargadores
do TRF-4, tão parciais quanto o juiz Sérgio Moro.
Os recursos de minha defesa laceados em argumentos
sólidos foram ignorados burocraticamente pelo STJ.
Meus direitos políticos foram negados, contra a lei,
a jurisprudência e uma decisão da ONU pela justiça eleitoral.
Mesmo assim, minhas ideias e meus ideais continuam
vivos na memória e no coração do povo brasileiro.
Mantenho minha esperança e confiança no futuro num
julgamento justo, por causa das generosas manifestações
de solidariedade que recebo todos os dias aqui em Curitiba
por parte dos companheiros maravilhosos da Vigília e
de todos os cantos do Brasil e do mundo.
Eu sei muito bem o lugar que a história nos reserva,
meus companheiros e companheiras. E sei também quem
estará na lixeira dos tempos, quando o povo vencer
mais essa batalha. Mais importante do que isso: sei que
a injustiça cometida contra mim recai sobre o povo brasileiro,
que perdeu direitos, oportunidades, salário justo, emprego
formal, renda e esperança num futuro melhor.
Hoje, estou aqui para falar com jornalistas, como sempre
fiz ao longo da minha vida. Na verdade, para falar com o
nosso povo. Esse direito me foi negado por sete meses e
durante o processo eleitoral, o que estava absolutamente
fora da lei.
Mas guardo comigo uma certeza: preso ou livre, censurado
ou não, tenho com o povo brasileiro uma comunhão eterna
que o tempo não vai apagar. Contra todos os poderosos,
contra a censura e a opressão, estaremos sempre juntos
por um Brasil melhor, mais justo, com oportunidades para todos.
Obrigado!
Vejam a íntegra do vídeo:
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