Selantes usados para tratar cáries não ameaçam saúde, dizem especialistas
Preocupação é com o BPA, composto capaz de alterar hormônios.
Maioria das pesquisas indica baixa probabilidade de contaminação.
Cárie ou substâncias químicas? Esse é o dilema enfrentado por pais preocupados com uma substância controversa encontrada em selantes comumente usados nos molares das crianças para evitar cáries. A substância química é o bisfenol-A, ou BPA, amplamente usado na produção do plástico rígido e transparente chamado de policarbonato, também encontrado nas embalagens de proteção de alimentos e latas de refrigerante. Grande parte da exposição humana à substância química vem dos alimentos. Mas resquícios também foram encontrados em selantes dentários.
Apesar de o FDA (agência que regula fármacos e drogas nos EUA) ter garantido aos consumidores que a substância parece ser segura, ela tem sido bastante analisado nos últimos meses por parte de agências de saúde dos Estados Unidos e do Canadá. O Programa Nacional de Toxicologia, parte do Departamento de Saúde e Serviços Humanos, relatou preocupações sobre o BPA, particularmente em relação à exposição de crianças aos resquícios que vazam de mamadeiras de policarbonato e da proteção de embalagens de papinhas de bebê. A pesquisa National Health and Nutrition Examination Survey de 2003-4, realizada pelos Centros para o Controle e Prevenção de Doenças, encontrou níveis detectáveis de BPA em 93% das amostras de urina coletadas de mais de 2.500 adultos e crianças com mais de seis anos.
O BPA tem efeitos similares ao estrogênio, e estudos em animais sugeriram que a exposição à substância pode acelerar a puberdade e aumentar o risco potencial de desenvolver câncer. Neste mês, a revista científica "Environmental Health Perspectives" informou que a substância pode interferir com o tratamento de quimioterapia. E no mês passado a revista médica "Journal of the American Medical Association" informou que adultos com níveis mais altos de BPA na urina tinham mais probabilidade de sofrer de doenças cardíacas ou diabetes.
Em defesa dos selantes
Apesar dessas preocupações, a American Dental Association ainda defende enfaticamente os selantes. Dentistas observam que inúmeros estudos mostram que qualquer exposição que eles causam é temporária e insignificante, e não duram mais do que três horas após a aplicação inicial. Outros estudos não encontraram níveis detectáveis de BPA na maioria dos selantes fabricados nos Estados Unidos. Ao mesmo tempo, selantes demonstraram oferecer anos de proteção contra cáries.
"Essa é uma ferramenta incrivelmente valiosa para prevenir a cárie nos dentes", disse Leslie Seldin, dentista de Nova York e assessora para o consumidor da American Dental Association. "A questão do BPA, acredito eu, é tão mínima em impacto que nem merece a atenção que tem recebido."
Selantes dentários têm a consistência de um xarope para que possam penetrar nas cavidades dos molares. Uma luz é usada para endurecer os selantes, que são levemente amarelados. A camada de proteção previne a proliferação de bactérias que promovem as cáries nas cavidades dos molares.
Somente este mês, uma análise de 16 estudos pelo Cochrane Collaboration, um grupo sem fins lucrativos que avalia pesquisas médicas, mostrou que selantes oferecem proteção significativa contra as cáries. Nos sete estudos que compararam os selantes com a escovação isolada, as crianças de cinco a dez anos que usaram selantes tiveram menos da metade de cáries nas superfícies de mastigação quatro anos após o tratamento. Um estudo com acompanhamento de nove anos descobriu que somente 27% das superfícies dos dentes seladas desenvolveram cáries, em comparação com 77% dos dentes sem selantes.
Proteção fácil?
A análise do Cochrane não mencionou o BPA, mas citou uma análise de março do "Journal of the Canadian Dental Association", que examinou 11 grandes estudos sobre a exposição ao BPA através de selantes dentários. Essa análise, financiada pelo sistema de saúde do país e conduzida por pesquisadores sem relação com a indústria química, concluiu que os pacientes não corriam riscos ao serem expostos à substância. E observou que dentistas e pacientes poderiam limitar a exposição ainda mais com ações como amarelando levemente a superfície dos dentes e fazendo gargarejo e lavando a região após a aplicação do selante, sendo todas essas práticas comuns na maioria dos consultórios odontológicos.
A análise também descobriu que três produtos não liberam quantidades significativas de BPA: Helioseal, da Ivoclar Vivadent; Seal-Rite, da Pulpdent Corp.; e Conseal F, da SDI (América do Norte). Todos eles têm o selo 2007 da American Dental Association
A quantidade de exposição ao BPA pode variar dependendo do selante. Em um artigo de 2006 publicado no "Journal of the American Dental Association", pesquisadores do Serviço de Saúde dos Estados Unidos e dos Centros para o Controle e Prevenção de Doenças estudaram os efeitos de dois selantes dentários em 14 homens, com base em amostras de saliva e urina. Eles descobriram que pacientes tratados com um produto da Ivoclar Vivadent chamado Helioseal F não apresentaram nenhuma mudança nos níveis de BPA na urina ou na saliva, enquanto pacientes tratados com o selante Delton Light Cure, da Dentsply Ash, foram expostos a doses de BPA cerca de 20 vezes mais altas.
Linda C. Niessen, da Dentsply International, afirmou em declaração oficial que a ADA atesta que os selantes são seguros, e observa que qualquer exposição ao selante é "significativamente mais baixa e ocorre com pouca freqüência" em comparação a outras fontes de BPA.
Pais preocupados com a exposição ao BPA deveriam perguntar ao dentista que tipo de selante é usado e se ele foi testado para o BPA. Mas pesquisadores do Centro de Controle e Prevenção de Doenças deram a palavra final: "Selantes devem permanecer como uma parte útil da prática odontológica preventiva".
Globo.com
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