10.01.2009

Meningite: saiba reconhecer os sintomas

O tratamento tem que ser rápido para minimizar o desconforto e evitar seqüelas mais graves.
Febre alta, vômitos e prostração. Sintomas como estes, comuns a várias doenças, já provocaram muito susto e medo em pais e autoridades médicas por estarem associados à meningite. A má fama da doença corre o planeta, não poupando nem países desenvolvidos como os Estados Unidos. Mas, em território nacional, ela ganhou notoriedade devido a maior epidemia de meningite meningocócica de que se tem notícia no mundo, que aconteceu no estado de São Paulo, entre os anos de 1972 e 1974. Por isso, o temor frente a esses sinais não existe à toa. Embora atualmente os recursos para combater a doença sejam mais eficazes do que há 30 anos, quando não é diagnosticada e tratada rapidamente, a meningite pode deixar seqüelas graves.

“Meningite é uma inflamação na meninge, membrana que recobre o cérebro. A doença, em geral, é causada por infecciosos que após atravessarem essa barreira de proteção cerebral provocam uma reação inflamatória local”, explica Jean Carlo Gorinchteyn, infectologista do Hospital e Maternidade São Camilo, de São Paulo. Ela pode atacar pessoas em todas as faixas etárias, de ambos os sexos e de variadas etnias, porém as crianças e os adolescentes parecem estar mais sujeitos a contrair o tipo provocado por bactérias.

A transmissão da enfermidade é feita pelo contato direto com secreções da garganta ou do nariz de pessoas portadoras ou convalescentes. Um espirro de um paciente infectado, por exemplo, libera microrganismos que podem infectar, pelo ar, quem está por perto. Mas, felizmente, esses agentes infecciosos não sobrevivem muito tempo na atmosfera. “Embora, a princípio, a inflamação da meninge possa ser causada principalmente por um agente infeccioso (bactéria, vírus, fungo, protozoário), a meningite pode ocorrer também devido a um trauma, tumor ou substância tóxica. Porém, esses casos são bem raros”.
E apesar do universo de microrganismos capazes de provocar a infecção seja muito grande, os maiores responsáveis pela doença são mesmo as bactérias e os vírus.

EM CASO DE DÚVIDA

• Se você desconfiar que alguém de sua família está com meningite, procure imediatamente um médico para um diagnóstico seguro e tratamento eficiente.
• Os especialistas pedem que não se mande a criança à escola, caso tenha febre muito alta. Procure descobrir, com a ajuda de um especialista, a causa do mal-estar.
• Uma vez confirmada a meningite, avise a direção da escola.
• Após a alta do paciente não existe mais perigo de contaminação. Portanto, não há motivos para a criança não voltar às aulas, muito menos razão para descriminações.
• Também não há necessidade de fechar escolas nas quais sejam registrados casos de meningite porque o agente causador, o meningococo, não vive no ar ou nos objetos. Além disso, nem todos que entram em contato com a bactéria ficam doentes.


DIAGNÓSTICO PRECISO

Exames auxiliares
A retirada do líquido cefalorraquidiano (por meio de uma punção com agulha na região lombar ou na nuca) é necessário não somente para a precisão do diagnóstico, mas também para se definir qual microrganismo está causando a infecção e estipular o melhor tratamento.

As meninges
São três camadas de tecido que recobrem o cérebro (chamadas de pia-máter, aracnóide e dura-máter). O líquido cefalorraquidiano circula entre as meninges, preenchendo os espaços internos do cérebro e oferecendo proteção adicional contra lesões

Exame clínico
Se houver desconfiança de meningite, o médico verifica no próprio consultório se há rigidez na nuca da criança, fazendo-a encostar o queixo no peito. A dor provocada pelo movimento é um forte sinal da existência da doença.

A diferença entre a meningite viral e a bacteriana, além do agente causador, está na evolução de cada tipo. As virais são mais leves. Os sintomas se assemelham aos de uma gripe ou de um resfriado. A doença atinge principalmente as crianças, que fi- cam moles, irritadas, apresentam febre e se queixam de dores de cabeça. No exame clínico, relatam dor quando o médico tenta analisar a quantas anda a flexibilidade da nuca. Depois de fechado o diagnóstico como meningite viral, a conduta recomendada é aguardar que o caso se resolva sozinho e passe em alguns dias, como acontece com os resfriados.

Afinidades indesejadas

Por isso, a meningite viral é considerada benigna e evolui bem, mesmo sem contar com medicamentos específicos destinados para destruir o vírus responsável pelo problema. “A exceção, no entanto, fica por conta da meningite causada pelo vírus Herpes simplex. Este tipo pode deixar seqüelas graves quando não tratada adequadamente”.

A história muda de figura quando a meningite é causada por bactérias. Em geral, o quadro é muito mais sério e requer tratamento rápido. O microrganismo primeiro se instala nas vias aéreas superiores, como mu cosa nasal, amídalas e faringe. Na maioria das vezes, a bactéria provoca uma infecção na região, que pode ser curada sem maiores problemas. Porém, em alguns casos, uma das três principais bactérias que causam a meningite — meningococo, pneumococo e hemófilo —, depois de se alojar no aparelho respiratório, cai na corrente sangüínea e, por essa via, alcança o sistema nervoso. Daí, infiltra-se na meninge, iniciando assim a infecção.

Segundo pesquisas, parece haver uma afinidade entre o meningococo, o pneumococo ou o hemófilo com o sistema nervoso, o que facilita uma migração desses microrganismos para a meninge. A boa notícia é que são poucos os agentes que apresentam essa afinidade, já que todos os dias entramos em contato com inúmeras bactérias sem, entretanto, corrermos o risco de apanhar uma meningite cada vez que inspiramos.

A maioria das meningites meningocócicas apresenta uma evolução mais lenta, o que permite identificar a doença e iniciar seu tratamento rapidamente. “As meningites bacterianas são mais graves, pois promovem inflamações mais intensas. Há, inclusive, a possibilidade de reações inflamatórias em alguns vasos cerebrais, denominadas vasculites. Nesse caso, os vasos podem ficar obstruídos, o que pode acarretar sérios danos e morte das células nervosas. As conseqüências podem ocasionar grandes seqüelas e até mesmo levar à morte”.

O risco de seqüelas é tanto maior quanto mais tempo demorar para ser feito o diagnóstico e iniciar o tratamento. Essas lesões neurológicas, quase sempre irreversíveis, podem provocar surdez (por atingir o nervo auditivo) e alterações na percepção e movimento ou outras ainda muito mais graves, como déficits no aprendizado ou paralisias cerebrais.

A meningite é uma infecção tratável. Uma verdade é válida: quanto mais precoce for o diagnóstico, maiores são as chances de cura e menores os riscos de seqüelas.

PARA BARRAR A DOENÇA

A prevenção de meningite causada por bactérias do tipo haemophilus (hemófilos) é feita com a vacina Haemophilus influenzae tipo b que já faz parte do calendário de imunizações obrigatórias. É administrada em três doses: aos dois, quatro e seis meses. Depois são realizadas outras doses de reforço. A vacina contra a meningite por pneumococo também existe, mas como o lançamento aconteceu na Europa e nos Estados Unidos, ela foi feita para o tipo de bactéria que habita naquelas regiões, um pouco diferente do pneumococo ‘brasileiro”. Mesmo com algumas adaptações, sua proteção é eficaz. A vacina contra o meningococo também propicia uma imunidade satisfatória. “Em casos de epidemia, ela é fundamental para bloquear e controlar o surto. Já as meningites virais não apresentam vacinas específicas, até mesmo por mostrarem características benignas. Há exceções como a vacina contra a meningite provocada pelo arbovírus, que é transmitida por picada de insetos, mais comum em zonas de mata, e as meningo encefalites herpéticas, causadas pelo herpes vírus e que podem evoluir para quadros graves e deixar grandes seqüelas neurológicas”.

Pescoço rígido

A meningite, seja ela bacteriana ou viral, apresenta sinais que antecedem sua instalação. Estes são conhecidos pelos médicos pelo nome de pródromos. São sintomas gripais como febre entre 38°C e 39°C, tosse seca, nariz entupido e dores pelo corpo, que podem permanecer estáveis entre 24 e 48 horas. “Depois, o quadro pode evoluir para dor de cabeça intensa e piora do estado geral. Surgem vômitos em jato, sonolência, prostração e alterações da pressão arterial”.
Um recente estudo realizado pela Universidade de Oxford, na Inglaterra, alerta ainda que sintomas como mãos frias, fortes dores nas pernas e palidez acentuada podem estar relacionados com o mal. Segundo os pesquisadores, de 448 crianças com meningite 72% apresentaram esses três sinais cerca de oito horas após a infecção. “Esperamos que esse trabalho mude a maneira como o diagnóstico inicial é feito e salve vidas”,
Um sinal característico de meningite, porém, é a rigidez na nuca. O paciente apresenta dificuldade em aproximar o queixo do peito. “O movimento de flexão do pescoço estira as meninges inflamadas, provocando dores”.

Pode ocorrer, principalmente nos casos de meningite meningocócica, o aparecimento na pele de pequenas manchas vermelhas, conhecidas como petéquias. Elas dão importantes indícios ao médico de que há grande quantidade de bactérias circulando pelo sangue que podem vir a causar uma infecção generalizada, antes mesmo de se instalar nas meninges. Em medicina, esse quadro é conhecido como septicemia, que ocasiona a queda brusca da pressão arterial, o que pode levar ao choque. Nesse caso, o índice de mortalidade se aproxima de 30%, mesmo em hospitais bem equipados. Já nos casos em que a criança não apresente essas manchas a mortalidade é bem menor.

Rapidez é fundamental

O diagnóstico de meningite é feito a partir do histórico do paciente, mais o exame clínico efetuado pelo médico com a realização do teste para verifi- car se há rigidez na nuca. Além disso, existe um exame de laboratório fundamental para fechar o diagnóstico. “Trata-se da retirada do líquido da espinha (líquido cefalorraquidiano) por meio de uma punção com agulha na região lombar ou suboccipital (nuca) que irá confirmar ou não o diagnóstico de meningite”,

A análise do aspecto do líquor, normalmente límpido e incolor, também ajuda a diferenciar o agente causador da doença. E aqui vale um aviso: muitos pais se assustam quando são orientados sobre a necessidade do teste. Porém, é bom que se diga que ele é fundamental para o profissional fechar o diagnóstico com precisão.

Cada tipo de meningite tem um tratamento, dependendo do agente causador. “O da meningite bacteriana é feito com antibióticos por via venosa por, pelo menos, 10 dias. Já a do tipo viral é realizado apenas com repouso e uso de medicação para aliviar os sintomas”. A internação hospitalar é necessária para ambas.

Nos casos de meningite meningocócica em crianças, os médicos costumam prescrever, igualmente, medicamentos para as pessoas que morem na mesma casa, com a finalidade de prevenir a doença nos adultos que, eventualmente, possam ter sido contaminados pela bactéria. Porém, todos os médicos são unânimes em afirmar: “nos casos de meningites bacterianas quanto mais rápido começar o tratamento, melhor”.


Fonte: Viva Saúde

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