11.08.2010

Como identificar sinais que alertam para um derrame?


Os sinais quase sempre enganam. Difíceis de decifrar, confundem quem os sente e quem os vê. É muito comum que, enquanto o cérebro perde a circulação e a oxigenação, ninguém note o que está ocorrendo. Enquanto isso, 2 milhões de células morrem a cada minuto e o corpo perde, aos poucos, funções básicas. A fala some, os braços pesam, a face treme e a força desaparece. Esse mal traiçoeiro é o acidente vascular cerebral (AVC), conhecido popularmente como derrame, a doença que mais mata no Brasil. É possível, porém, aprender a reconhecer os sintomas. Agir rápido é uma das formas de salvar vidas e limitar suas duras consequências.

Qualquer perda de função motora, fraqueza, visão dupla ou dificuldade de comunicação pode servir como alerta e deve ser levada a sério. “Um AVC é caracterizado por uma mudança súbita de comportamento e quadros de confusão mental ou motora. Ainda mais se o paciente apresenta fatores de risco, como diabetes e pressão alta. As pessoas precisam aprender a reconhecer esses sinais precocemente, porque eles são confundidos com dezenas de outras coisas. E sempre é necessário correr para uma emergência”, afirma Hudson Mourão Mesquita, neurologista.

Em 2008, 97.881 pessoas morreram no Brasil por causa de doenças cerebrovasculares, segundo o Ministério da Saúde. De acordo com especialistas, o desconhecimento da população agrava a situação do derrame entre a população brasileira. “Muita gente não sabe o que quer dizer, confunde com o aneurisma, acha que está ligado à dor de cabeça. Para o leigo, o derrame é qualquer coisa que sangra. Precisamos de um programa educativo, de linguagem fácil, para alertar a população. Afinal, a simples ida à emergência para saber o que há de errado é essencial para salvar vidas”, comenta Mesquita.

Uma pesquisa feita pelo Hospital Albert Einstein com 800 pessoas mostrou realmente um quadro preocupante: um grande desconhecimento sobre os sintomas do AVC. “As pessoas não sabem nem o que significa, conhecem apenas o nome popular, derrame. Não sabem quais são os fatores de risco ou como identificar os sinais da doença. Mais de 30% não conhecem o 192, o número da emergência, e esse é um quadro muito preocupante”, analisa Gisele Sampaio, gerente da área de neurologia do hospital.

Contra as sequelas

O rápido atendimento é importante para reduzir o dano cerebral e, em alguns casos, consegue evitar qualquer tipo de sequelas. “Na neurologia, costumamos dizer que o tempo é o cérebro. A região acometida pela lesão do AVC é determinante no tipo de sequelas e na gravidade delas. Pode-se dizer que, quanto mais nobre a função da área cerebral atingida, pior é o resultado. E quanto antes for o tratamento imediato, melhores as chances”, comenta Gylse-anne Souza Lima, neurologista do Hospital Santa Luzia de Luziânia (GO).

Para Gisele, quanto mais conhecimento a população tiver sobre o AVC, as opções de tratamento serão mais desenvolvidas. “Uma pessoa pode ter um derrame e conseguir reverter o quadro, se receber a medicação até quatro horas e meia depois da fase aguda. O que acontece é que os sintomas se confundem, o atendimento demora e as sequelas são piores, podendo ocorrer até paralisia total”, comenta a neurologista do Albert Einstein.

O acidente vascular cerebral é causado pela falta de circulação ou por uma hemorragia no tecido encefálico. Cerca de 80% dos casos de AVC são do tipo isquêmico — os outros 20% são hemorrágicos. Para que esse processo aconteça, existem alguns fatores de risco. As chances aumentam com o envelhecimento, principalmente a partir dos 60 anos, mas os jovens também podem ter um derrame. “A hipertensão arterial acarreta um aumento superior a três vezes da incidência do AVC . Diabetes é fator de risco bem documentado, assim como o tabagismo, que aumenta o risco relativo em 50%. Outros fatores identificados são o sedentarismo, o estresse e a obesidade”, diz Gylse-anne.

Como, para os idosos, os riscos são maiores, os familiares precisam ficar atentos a qualquer mudança de comportamento. Eles podem sofrer pequenas crises, que, no entanto, podem deixar sequelas graves. “A idade do cérebro influencia no prognóstico. Quanto mais velhos ficamos, menor a capacidade de regeneração. As reservais cerebrais vão desaparecendo. E é mais comum que eles tenham outras doenças em conjunto com o AVC, o que torna tudo mais preocupante. A atenção deve ser constante”, analisa Gisele.

Aprisionado no próprio corpo

Em 1995, quando tinha 48 anos, o editor da revista Elle francesa Jean-Dominic Bauby sofreu um derrame cerebral. O AVC foi grave e ele perdeu todos os movimentos. A mente funcionava normalmente, mas o corpo não respondia de forma nenhuma. Ele passou, então, a se comunicar exclusivamente com os olhos. Piscar uma vez queria dizer sim e duas não, por exemplo. O jornalista francês conseguiu ditar um livro inteiro dessa forma. A obra O escafandro e a borboleta foi publicada em 1997, mesmo ano da morte do escritor, e adaptada para o cinema em 2007.

Fonte: Correio Brasiliense

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