12.13.2011

Alteração no cérebro indica pré-disposição ao consumo de maconha, afirma estudo

Drogas

Menor volume em região do cérebro de adolescentes que ainda não consumiram a droga pode revelar uso futuro

Cérebro Propensão ao vício: pesquisa diz que alteração pré-existente no cérebro pode induzir ao consumo de maconha (Jesper Klausen/Hemera/Getty Images)
Havia uma espécie de dilema Tostines entre os cientistas que estudam os efeitos do consumo de maconha no cérebro: o uso intenso da droga provoca danos no cérebro ou danos no cérebro induzem o uso intenso da droga? A resposta é que as duas opções estão certas. Uma nova pesquisa reafirma que a maconha provoca danos cerebrais, mas também mostra que existem alterações prévias no cérebro que podem levar ao consumo da droga.
Estudo australiano publicado na edição de dezembro do periódico especializado Biological Psychiatry afirma que pessoas que têm uma alteração específica no cérebro possuem maior propensão ao consumo abusivo de maconha do que as pessoas sem essa modificação. No caso, os cientistas apontam um volume menor no córtex orbitofrontal como o indicador dessa pré-disposição.

CONHEÇA A PESQUISA

Título original: Orbitofrontal Volumes in Early Adolescence Predict Initiation of Cannabis Use: A 4-Year Longitudinal and Prospective Study

Onde foi divulgada: revista Biological Psychiatry

Quem fez: Dan Lubman

Instituição: Centro de Álcool e Drogas Turning Point, Universidade Monash e Universidade de Melbourne

Dados de amostragem: 155 estudantes de Melbourne aos 12 e aos 16 anos. Pelo menos 28 começaram a fumar maconha no período

Resultado: Os voluntários que tinham um volume menor que a média no córtex orbitofrontal do cérebro apresentaram uma maior pré-disposição ao consumo de maconha.
A pesquisa foi baseada em testes de ressonância magnética realizados em 155 estudantes de escolas primárias da cidade australiana de Melbourne. Eles tinham 12 anos quando o primeiro exame foi realizado. Quatro anos depois, os cientistas contataram novamente os adolescentes: 121 dos voluntários responderam formulários sobre seus hábitos. Deste total, 28 haviam começado a consumir maconha regularmente.
Os testes indicaram que a maioria dos que alunos começaram a fumar a Cannabis sativa tinha um volume menor no córtex orbitofrontal, região localizada no lobo frontal do cérebro, desde os 12 anos. Essa modificação foi relacionada ao uso da droga em pesquisas anteriores. "Essas pesquisas haviam mostrado que o consumo de pesado de Cannabis está associado a alterações nos volumes cerebrais", afirma o professor Dan Lubman, do Centro de Álcool e Drogas Tuning Point, em Melbourne. "Mas nenhum estudo havia examinado se as alterações cerebrais estavam presentes antes do início do consumo", completou.

Os danos em partes do cérebro que costumam ser prejudicadas a partir do consumo pesado de maconha, como a amígdala, o hipocampo e o córtex cingulado anterior, não apareciam nos usuários quando eles tinham 12 anos, algo que já havia sido observado em outras pesquisas. "A novidade é a descoberta de que o menor volume nessa parte do lobo frontal está associada ao uso posterior de canabinoides. Ele indica uma vulnerabilidade do adolescente à Cannabis", explica Lubman, autor do estudo.
Nos adultos usuários, a diminuição da atividade do córtex orbitofrontal sugere uma deficiência na tomada de decisões e a diminuição da capacidade de pesar prós e contras das ações, o que pode render mais problemas com drogas

Opinião do especialista — Para o especialista em drogas Ivan Mario Braun, do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas, as descobertas são preliminares. "É o primeiro estudo que sugere que danos que acreditávamos ser posteriores ao abuso da maconha podem, na verdade, preceder o seu uso. É uma conclusão interessante, mas serão necessários mais testes para que possamos entender melhor esse processo", afirma.

Braun explica que o uso pesado da droga significa o consumo diário por vários anos. "Os estudos que já existem associam o uso pesado a danos relacionados, por exemplo, à perda de memória", afirma.

O período de consumo da maconha, segundo Braun, vai determinar as possibilidades de reversão desses danos. "A melhora na memória pode ser observada meses após o fim do uso da droga", conta ele.

Os cientistas australianos vão continuar estudando as alterações que precedem o uso de maconha por jovens para compreender suas relações com os padrões de uso mais pesado na idade adulta.


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