3.18.2012

Validar diploma do exterior é mais difícil do que se espera

Educação
Aumento do número de brasileiros que estudam fora do país agrava o problema
LUIZA ANDRADE

A variedade nas opções de cursos e o sonho de estudar em uma universidade estrangeira levam cada vez mais brasileiros a passarem temporadas acadêmicas no exterior. Segundo levantamento feito pelo Salão do Estudante, em 2010, o número de brasileiros que optaram por cursar seus estudos lá fora ficou em torno de 193 mil. Em 2011, esse número subiu para 365 mil brasileiros. E não para por aí: a previsão para 2012 é de, aproximadamente, 500 mil.
O aumento de quase 90% significa que milhares de diplomas estrangeiros entram, a cada ano, no mercado de trabalho brasileiro. E, para serem aceitos, esses documentos precisam ser reconhecidos por universidades públicas brasileiras. É aí que o sonho do diploma no exterior se complica: na hora da volta.
Nicole Turcheti, 25, consultora em desenvolvimento econômico, realizou um sonho em 2009 e partiu para fazer o mestrado em desenvolvimento com foco em políticas públicas no Instituto de Estudos Sociais, na Holanda. A jovem já tinha dado uma olhada nos processos de revalidação de diplomas e sabia que, ao voltar, enfrentaria certa burocracia. Quando chegou ao Brasil, porém, Nicole teve uma surpresa. "As universidades fazem exigências muito específicas de traduções e carimbos nos documentos oficiais", conta. No caso dela, para se inscrever na Universidade Federal de Minas Gerais faltou o carimbo do consulado brasileiro na Holanda em todas as páginas que continham a descrição das matérias do curso.
Contudo, como a revalidação pode ser feita em qualquer universidade pública brasileira, ela decidiu tentar o processo na Universidade de Brasília (UnB). Pagou R$ 700 de taxa de inscrição e se informou na universidade sobre o processo. Cinco meses mais tarde, foi avisada de que o pedido havia sido indeferido. Seus R$ 700 e o preço pago pelas viagens até Brasília para resolver o problema viraram história.
Até hoje, Nicole sai em busca dos processos seletivos de revalidação de diplomas pelas universidades do país, mas desabafa: "Acho que vou ter que voltar à Holanda e pedir para o consulado brasileiro carimbar meus documentos". Para Nicole, deveria haver acordos de reconhecimento automático de diplomas entre instituições renomadas do Brasil e da Europa.
Porém, segundo o pró-reitor adjunto de graduação na Universidade Federal de Minas Gerais, André Cabral, revalidar um diploma não é simplesmente "facilitar" a vida do estudante. "Quando um diploma é revalidado, a universidade está colocando o nome dela na formação acadêmica e profissional do aluno. Isso é muito sério".

O pró-reitor explica que um simples carimbo no diploma errado pode ferir a reputação de seriedade de uma universidade. "Não podemos atestar que "fulano" estudou na UFMG se ele não tem as habilidades requeridas pelo curso de equivalência", conclui.
Inscrição
UFMG. As inscrições para o processo de revalidação de diplomas de graduação na UFMG estão abertas até o dia 23 de abril. Para diplomas de pós-graduação, o período vai de primeiro a 30 de maio.
Norma
Apenas escolas públicas emitem os certificados
O drama da burocracia na corrida pelo reconhecimento do diploma no Brasil é comum entre candidatos que voltam despreparados dos estudos no exterior.
Devido a uma resolução do Conselho Nacional de Educação, CNE, apenas universidades públicas podem participar do processo de revalidação. Isso significa que há poucas opções para muita demanda. Para piorar a situação, a resolução determina que os processos devem ser concluídos num prazo máximo de seis meses.
Segundo o pró-reitor adjunto de graduação da Universidade Federal de Minas Gerais, André Cabral, a situação fica ainda mais complicada devido à grande demanda de pesquisa e aulas que recai sobre os professores das universidades federais. Cabral explica que os pedidos, tanto na graduação quanto na pós, são avaliados por vários professores, o que demanda muito tempo e atenção.
"Além disso, apenas os cursos reconhecidos pelo Ministério da Educação (MEC) podem servir de equivalência para a revalidação dos diplomas", diz o pró-reitor, lembrando que, na instituição mineira, 49 dos 75 cursos oferecidos podem servir para fazer a equivalência do diploma. (LA)
Economize
Taxas. O valor cobrado pelo reconhecimento do diploma pode variar. Na UFMG, é cerca de R$ 600. Já na Federal do Amazonas, o valor pode chegar R$ 5.000 para diplomas do curso de medicina.

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