10.20.2012

Desespero de candidato Serra no segundo turno

A politica das agressões

O candidato do PSDB à Prefeitura de São Paulo, José Serra, esquece as propostas para a cidade, parte para o ataque contra o concorrente do PT, Fernando Haddad, agride verbalmente jornalistas e despenca nas pesquisas às vésperas do 2° turno

Pedro Marcondes de Moura e Alan Rodrigues

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DESTEMPERO
A 17 pontos do petista Fernando Haddad, Serra se desespera e
passa a utilizar uma tática agressiva na reta final da campanha
Vendo que a distância para o concorrente Fernando Haddad (PT) aumenta a cada nova pesquisa de intenção de voto, a uma semana do segundo turno da eleição à Prefeitura de São Paulo, o candidato do PSDB, José Serra, reedita a malfadada estratégia usada contra Dilma Rousseff na disputa presidencial de 2010. Diante das projeções nada alvissareiras para ele – o instituto Datafolha aponta uma vantagem de 17 pontos para Haddad –, Serra passou a enxergar na tática das agressões a única forma de evitar a derrota que parece se avizinhar. Destemperado e irascível no trato com jornalistas e até correligionários, o tucano acionou a metralhadora giratória nos últimos dias. Em atos públicos e, principalmente, nas inserções de rádio e televisão, Serra desferiu uma série de ataques ao oponente. Insistiu na tentativa de vincular Haddad aos réus do mensalão e explorou de maneira equivocada a confecção do chamado “kit gay” pelo petista durante sua gestão no Ministério da Educação.
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“Isso não é combater homofobia, é uma espécie de doutrina. O problema do kit gay é acima de tudo pedagógico”, declarou o candidato do PSDB. O ataque se voltou contra ele próprio, quando o jornal “Folha de S.Paulo” revelou, durante a semana, que material semelhante destinado a tentar combater o preconceito a homossexuais havia sido distribuído em 2009, pelo governo de Serra, para escolas públicas paulistas. Questionado sobre a contradição, Serra tentou, em vão, diferenciar as duas iniciativas, perdeu a cabeça e mergulhou sua campanha numa agenda negativa na reta final da eleição.
Ataques a jornalistas Descontrolado, Serra agrediu verbalmente jornalistas em três ocasiões. Na segunda-feira 15, indagado por uma repórter do portal UOL se o tom mais agressivo de seu primeiro programa do segundo turno guardava relação com a diferença então de dez pontos percentuais em relação a Haddad nas pesquisas, disse que ela estava ajudando a campanha petista. Na terça-feira 16, quando a mesma profissional perguntou se o tucano concordava ou não com o uso de materiais de combate à homofobia nas escolas, Serra esquivou-se de responder e sugeriu que a repórter deveria ir trabalhar no comitê do PT. Já em entrevista à rádio CBN, o ex-governador incomodou-se com questões colocadas pelo jornalista Kennedy Alencar, a quem chamou de mentiroso e acusou de fazer campanha para o adversário. A postura adotada pelo tucano foi criticada por Soninha Francine, do PPS, candidata derrotada no primeiro turno e apoiadora da campanha do PSDB. “Eu não concordo com esse jeito dele de reagir. Mas, infelizmente, ele (Serra) é assim, não tem paciência com a imprensa.” O resultado não poderia ser pior. Nos últimos dias, as propostas para a cidade, que é o que importa para o eleitorado, foram relegadas a segundo plano pelo candidato do PSDB. E sua rejeição junto à população bateu incríveis 52%.
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Na batalha pelo comando da capital paulista, José Serra parece mandar às favas a premissa do marketing político segundo a qual “quem bate, perde”. Pesquisa da empresa Controle da Concorrência aponta que, durante o primeiro turno, o ex-governador gastou 16,57% de suas 4.874 inserções no horário comercial televisivo em ataques ao adversário petista, mesmo com a liderança de Celso Russomanno (do PRB) até as vésperas do pleito. Foram 666 inserções endereçadas apenas a atacar Haddad e outras 142 que citavam, além do ex-ministro da Educação, outros postulantes. No mesmo período, Haddad destinou 7,75% do seu espaço a críticas ao adversário tucano. O petista elencou como principais motes a renúncia de Serra ao cargo de prefeito em 2006 e a administração do prefeito Gilberto Kassab, considerada ruim ou péssima por 42% dos eleitores. O coordenador-geral da campanha tucana, o deputado federal Edson Aparecido, tenta minimizar os efeitos da estratégia, que, até agora, se revela equivocada. “Mostrar as falhas de Haddad no comando do Ministério da Educação é discutir a capacidade dele de gerir uma cidade como São Paulo”, diz Aparecido. “Isso não pode ser confundido com agressividade. Faz parte de qualquer campanha”, comenta.
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Tática de risco Para o consultor político Gaudêncio Torquato, no entanto, trata-se de uma tática muito arriscada e que, normalmente, não gera resultados. “Em grandes centros urbanos, os ataques pessoais, acusações ou tentativas de destruir a imagem de candidatos não costumam produzir resultados. Apenas reforçam a opinião daqueles que já são eleitores deste ou daquele partido”, comenta o professor da Universidade de São Paulo (USP). Segundo Torquato, o eleitor, em geral, prefere uma campanha baseada em propostas. “O eleitorado quer uma campanha propositiva em que o candidato se mostre capaz de solucionar os problemas da cidade”, analisa. Para o estudioso, o único ataque capaz de alterar votos é aquele que consegue desconstruir as propostas feitas pelo opositor. Foi o que ocorreu com o Celso Russomanno (PRB) no primeiro turno da eleição paulistana. “O Russomanno caiu vertiginosamente depois de baterem em sua ideia de atrelar o preço das tarifas de ônibus às distâncias percorridas pelo passageiro”, lembrou Torquato.
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Diante do cenário favorável apontado pelas pesquisas, a ordem no QG do concorrente de José Serra, o petista Fernando Haddad, é usar materiais negativos apenas para neutralizar eventuais ofensivas do tucano Serra. Foi seguindo esta estratégia que Had­dad propôs a Serra, durante o debate da Rede Bandeirante na quinta-feira 18, uma espécie de armistício para retirar as ofensas da pauta do segundo turno e promover uma campanha voltada a ideias para a cidade. “Fica o meu convite para que as duas equipes se reúnam amanhã e estabeleçam um protocolo para que esses ataques pessoais saiam de cena e tenhamos uma semana mais propositiva”, propôs Haddad. “Temos que discutir exclusivamente as propostas”, afirmou. Nos bastidores do staff do PT sabe-se, no entanto, que até a eleição do domingo a escalada de agressões tende a crescer. Vislumbrando possíveis denúncias do lado tucano, os petistas guardam munições nas mangas. “Se a campanha do Serra vier com algum denuncismo de última hora, vamos trazer à tona temas que envolvem crimes financeiros de pessoas próximas a ele”, diz um dos coordenadores da candidatura petista.
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Crítica de aliados Apesar de o núcleo da campanha do PSDB ainda manter discurso otimista e desqualificar os resultados das pesquisas que apontam uma diferença de 16 a 17 pontos de vantagem de Haddad sobre Serra, dirigentes da legenda já admitem que as chances do ex-governador vencer a corrida pela prefeitura de São Paulo tornaram-se remotas. O tucano passa por uma trajetória de queda até entre o eleitorado cativo do partido. Em conversas com interlocutores, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso criticou duramente a condução da campanha. “A campanha de Serra flerta com o conservadorismo”, disse FHC, presidente de honra do PSDB. O ex-governador Alberto Goldman também demonstrou contrariedade com o tom adotado por Serra. “Se fosse ele, não alimentaria o debate sobre o kit gay. Diria que não tem nada a ver com a eleição”, afirmou Goldman. O uso do kit gay por Serra irritou até o presidente do PSDB, Sérgio Guerra. “Em São Paulo, a campanha resvala para elementos que não são os mais relevantes. Se foi mamãe que fez o kit gay ou se foi vovó que assinou”, criticou Guerra.

Antes de aceitar ser candidato ao Executivo Paulistano, José Serra comparava a atual disputa eleitoral a um funeral. Se vencesse, receberia honras militares. Porém, se perdesse, seria “enterrado como indigente”. No domingo 28, as urnas nortearão o seu destino.

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