6.07.2013

Matou a mãe e foi ao shopping


Jovem alega ter cometido o crime porque mãe reprovava seu namoro

Caio Barbosa
Rio - ‘Tão fria e calculista que matou a mãe carbonizada e foi para o shopping”. Assim o delegado Antônio Ricardo Nunes, da 32ª DP (Taquara), definiu a adolescente de 17 anos que matou a mãe com as próprias mãos, queimou o corpo, fingiu com lágrimas uma dor que não sentia e depois foi ao shopping, como se nada houvesse acontecido. O crime bárbaro, que veio à tona nesta quinta-feira, chocou o país.
A jovem e a mãe pareciam amigas: corpo da vítima foi queimado e abandonado em um matagal em Caxias
Foto:  Carlos Moraes / Agência O Dia
O nível de brutalidade lembrou o Caso Richthofen, de 2002, de uma jovem milionária paulista que matou os pais. Desta vez, porém, não houve fortuna envolvida. A vítima, Adriana, de 43 anos, tinha apenas um seguro que pagaria em torno de R$ 15 mil à filha em caso de sua morte.
A polícia investiga se o interesse no bônus motivou a morte, embora a jovem alegue que cometeu o crime porque Adriana reprovava seu namoro. Foi com a ajuda do namorado, Daniel Duarte Peixoto, 21 anos, que a jovem executou a mãe.
A crueldade espantou os policiais. “Ela dormia com a mãe quando aplicou um mata-leão (golpe onde há o enforcamento da vítima) e chamou o namorado para terminar de sufocá-la com um saco plástico. Eles embrulharam o corpo num cobertor, colocaram na mala do carro do Daniel e o levaram para Imbariê, em Caxias. Lá, atearam fogo ao corpo e o deixaram num matagal”, contou o delegado.
Romance de quatro meses
Segundo as investigações, o crime ocorreu no dia 25 de maio. L. queria se relacionar com o namorado, com quem estaria há quatro meses, sem as reprovações da mãe.
“Ela não mostrou reação nem quando viu as fotos da mãe em estado de decomposição. Mostrou total desprezo. O namorado mostrou arrependimento, mas ela não. Estava tão tranquila que matou a mãe de madrugada e foi ao shopping pouco depois”, disse Antônio Ricardo Nunes.
A jovem confessou o crime e ontem mesmo foi encaminhada ao Departamento-Geral de Ações Socioeducativas (Degase).
Por ser menor, ficará detida por até três anos. Daniel foi para o Complexo de Gericinó e será indiciado por homicídio triplamente qualificado e ocultação de cadáver, devendo cumprir pena, se condenado, de 20 a 30 anos.
Daniel põe toda culpa na namorada
Um vídeo obtido pelos policiais da 32ªDP mostra o momento em que o casal de namorados parou num posto de combustíveis no Cachambi, às 4h50m do último dia 25, onde comprou a gasolina usada para atear fogo ao corpo de Adriana.
Daniel diz que só ajudou a jovem a conduzir o corpo da vítima
Foto:  Carlos Moraes / Agência O Dia
Na delegacia, ao ser apresentado à imprensa, o técnico em refrigeração Daniel Duarte Peixoto negou ter assassinado a mãe da namorada.
“Eu apenas conduzi o corpo. Não matei ninguém e nem vi ninguém matar ninguém. É apenas isso que eu tenho a declarar”, disse o rapaz, que em seguida confessou estar arrependido “de tudo”. Ele não entrou em mais detalhes sobre o caso.
No início da noite desta quinta, um vídeo repassado pela Polícia Civil ao “RJTV”, da Rede Globo, mostrou parte do depoimento de Daniel Duarte na delegacia.
Carro usado pelo casal para levar o corpo da vítima até Imbariê foi uma das pistas do crime para a polícia
Foto:  Carlos Moraes / Agência O Dia
Nele, o assassino diz que a jovem ateou fogo na própria mãe. “No caso, quem foi e acendeu o fósforo foi ela. A gente foi, pegou, ficou ali um pouco até pegar fogo, entendeu? E fomos embora”, diz o rapaz no vídeo.
Barbaridade por causa de dinheiro
Caso chocou o país há 11 anos. Suzane está presa; cúmplices, no regime semiaberto
O assassinato do casal Manfred e Marísia von Richthofen, no dia 31 de outubro de 2002, tornou-se um dos mais conhecidos do país.
Dias depois do crime, a exemplo do que aconteceu no Cachambi, a filha do casal, Suzane Richthofen, confessou ter sido a assassina junto com o namorado, Daniel, e o irmão dele, Cristian Cravinhos. De acordo com a polícia, eles estariam de olho na herança de R$ 10 milhões.
Manfred e Marísia foram espancados com barras de ferro até a morte enquanto dormiam. Marísia ainda foi asfixiada com uma toalha e um saco plástico. Em juízo, o trio contou que Suzane levou o irmão, Andras, a um cybercafé na noite do crime.
Em seguida, ela e o namorado encontraram Cristian e foram para a casa dos Richthofen. Suzane entrou primeiro e checou se os pais estavam dormindo. Logo depois, os irmãos invadiram o quarto e mataram o casal com golpes de barras de ferro.
Suzane Von Richthofen foi condenada e está presa em Tremenbé
Foto:  César Rodrigues / Agência O Dia
Os três reviraram a biblioteca e roubaram dólares guardados na casa para fingir que o crime foi cometido por assaltantes. Cristian foi para casa com o dinheiro, e Suzane e Daniel, para um motel para despistar a polícia.
Depois de duas horas, eles pegaram o irmão de Suzane no cybercafé e foram para a casa dos Richthofen.
Em julho de 2006, a Justiça condenou Suzane e Daniel a 39 anos de prisão. Cristian foi condenado a 38 anos, mas em fevereiro os irmãos Cravinhos receberam o direito de cumprir o restante da pena em regime semi-aberto.

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