8.29.2014

Doença de Parkinson


A doença de Parkinson é uma perturbação degenerativa e lentamente progressiva do sistema nervoso que apresenta várias características particulares: tremor em repouso, lentidão na iniciação de movimentos e rigidez muscular.
A doença de Parkinson afeta cerca de 1 % da população com mais de 65 anos e 0,4 % da população com mais de 40 anos.
Doente com Parkinson O andar torna-se extremamente difícil, a pequenos passos. Os membros superiores não seguem o ritmo normal da marcha. 



 
Causas
Na profundidade do cérebro existe uma área conhecida como os gânglios basais. (Ver secção 6, capítulo 59) Quando o cérebro inicia uma ação como a de levantar um braço, os neurónios nos gânglios basais contribuem para a precisão e a uniformidade dos movimentos e coordenam as mudanças de posição. Os gânglios basais processam os sinais e transmitem a informação ao tálamo, que seleciona os impulsos processados e os envia para o córtex cerebral. Todos estes sinais se transmitem através de neurotransmissores químicos sob a forma de impulsos elétricos pelas vias nervosas. A dopamina é o principal neurotransmissor dos gânglios basais.
Na doença de Parkinson produz-se uma degenerescência nas células dos gânglios basais que ocasiona uma perda ou uma interferência na ação da dopamina e leva a menos conexões com outras células nervosas e músculos. A causa da degenerescência das células nervosas e da perda de dopamina, habitualmente, não é conhecida. O fator genético não parece desempenhar um papel importante, embora a doença às vezes tenda a afetar famílias.
Há ocasiões em que se pode conhecer a causa. Em alguns casos a doença de Parkinson é uma complicação tardia da encefalite viral, uma infecção semelhante à gripe, relativamente pouco frequente mas grave, que causa a inflamação do cérebro. Noutros casos, a doença de Parkinson deve-se a processos degenerativos, fármacos ou produtos tóxicos que interferem ou inibem a ação da dopamina no cérebro. Por exemplo, os antipsicóticos utilizados no tratamento da paranóia grave e da esquizofrenia interferem com a ação da dopamina sobre as células nervosas. Igualmente, uma forma de opiáceo sintetizado ilegalmente e conhecido como N-MPTP pode causar uma doença de Parkinson grave. 
Sintomas e diagnóstico
A doença de Parkinson inicia-se, frequentemente, de forma insidiosa e avança de forma gradual. Em muitas pessoas inicia-se como um tremor da mão quando está em repouso. O tremor é máximo em repouso, diminui com o movimento voluntário da mão e desaparece durante o sono. O tremor, leve e rítmico, intensifica-se com a tensão emocional ou o cansaço. Embora o tremor apareça numa mão, no final pode passar para a outra e afetar braços e pernas. Podem ser afetadas também a mandíbula, a língua, a fronte e as pálpebras. O tremor não constitui o primeiro sintoma num terço das pessoas com a doença de Parkinson; noutras, torna-se menos visível à medida que a doença progride e muitos nunca chegam a manifestar tremor.
A dificuldade para iniciar o movimento é particularmente importante e a rigidez muscular dificulta ainda mais a mobilidade. Quando o antebraço é fletido ou estendido por outra pessoa, pode perceber-se a rigidez e uma espécie de rangido. A rigidez e a imobilidade podem contribuir para produzir dores musculares e sensação de cansaço. A combinação de todos estes sintomas causa muitas dificuldades. A deterioração no controlo da musculatura das mãos provoca uma dificuldade crescente para as atividades diárias, como abotoar os botões da camisa ou atar os atacadores.
Para a pessoa com doença de Parkinson dar um passo implica um esforço e a marcha, muitas vezes, é a passos curtos arrastando os pés e sem o compasso do balanceamento habitual dos braços. Ao iniciarem a marcha, algumas pessoas experimentam dificuldades para parar ou virar. O passo pode acelerar-se inadvertidamente, o que obriga a pessoa a encurtar o percurso para evitar a queda. A postura curva-se e é-lhe difícil manter o equilíbrio, o que cria uma tendência para cair para a frente ou para trás.
As feições são menos expressivas devido à imobilidade dos músculos da cara responsáveis pela expressão. Às vezes, esta falta de expressão confunde-se com uma depressão, embora muitas pessoas com a doença de Parkinson se tornem depressivas. Com o tempo a cara adquire um olhar perdido, com a boca aberta e uma diminuição do pestanejar. É frequente que estas pessoas se babem ou se engasguem como consequência da rigidez muscular na cara e na garganta, o que dificulta a deglutição. Os doentes que sofrem de Parkinson costumam falar sussurrando com voz monótona e podem gaguejar devido à dificuldade que têm para exprimir os seus pensamentos. A maioria mantém uma inteligência normal, mas muitos desenvolvem demência. (Ver secção 6, capítulo 76)
Tratamento
Na abordagem terapêutica da doença de Parkinson pode utilizar-se uma ampla variedade de medicamentos, incluindo a levodopa, a bromocriptina, o pergolide, a selegilina, anticolinérgicos (benzatropina ou tri-hexifenidilo), anti-histamínicos, antidepressivos, propranolol e amantadina. Nenhum destes fármacos cura a doença nem suprime a sua evolução, mas facilitam o movimento e durante anos estes doentes podem levar a cabo uma vida funcionalmente ativa.
No cérebro a levodopa transforma-se em dopamina. Este fármaco reduz o tremor e a rigidez muscular e melhora o movimento. A administração de levodopa em pessoas com uma forma ligeira de doença de Parkinson pode levá-las a recuperar uma atividade praticamente normal, e inclusive algumas, que se viram obrigadas a permanecer na cama, podem voltar a movimentar-se por si mesmas.
O tratamento preferido para a doença de Parkinson é levodopa-carbidopa, mas torna-se difícil encontrar o equilíbrio da melhor dose para um doente em particular. A carbidopa possibilita que a levodopa alcance mais eficazmente o cérebro e diminui os efeitos adversos da levodopa fora do mesmo. Certos efeitos secundários (como movimentos involuntários da boca, da cara e dos membros) podem limitar a quantidade de levodopa que uma pessoa pode tolerar. O tratamento prolongado com levodopa durante vários anos significa, para algumas pessoas, ter de suportar movimentos involuntários da língua e dos lábios, gesticulações e sacudidelas da cabeça e espasmos nos membros. Alguns especialistas julgam que associar ou substituir a bromocriptina por levodopa durante os anos iniciais do tratamento pode atrasar o aparecimento dos movimentos involuntários.
Com o passar dos anos vão-se reduzindo os períodos de alívio que acompanham cada dose de levodopa-carbidopa e períodos de dificuldade em iniciar o movimento alternam com outros de hiperactividade incontrolável. Em questão de segundos, a pessoa pode passar de um estado de mobilidade aceitável a outro de incapacidade grave do movimento (o efeito on-off). Após cinco anos de tratamento com levodopa, mais de 50 % dos doentes experimentam estas flutuações abruptas. É possível controlá-las reduzindo a dose de levodopa e administrando-a de forma mais frequente.

Através do transplante para o cérebro de pessoas com a doença de Parkinson de células nervosas provenientes de tecido fetal humano podem normalizar-se as alterações químicas da doença, mas não existe informação suficiente para recomendar este procedimento. Um procedimento experimental anterior consistia em transplantar um fragmento de glândula supra-renal do próprio afetado para o seu cérebro, mas tal procedimento desvalorizou-se porque se revelou um benefício muito modesto em comparação com o risco.
A prática diária do máximo de atividades físicas possíveis e o seguimento de um programa regular de exercícios podem contribuir para que os afetados pela doença de Parkinson mantenham a mobilidade. A fisioterapia e as ajudas mecânicas (como as cadeiras de rodas) podem ser úteis para restabelecer um grau suficiente de autonomia. Uma dieta rica em fibras e uma ingestão adequada de alimentos contribuirão para combater a obstipação que pode ocorrer devido à inatividade, à desidratação e ao uso de alguns fármacos. Neste sentido é útil acrescentar suplementos à dieta e tomar laxantes para manter a regularidade da função intestinal. Deve prestar-se uma atenção especial à dieta porque a rigidez muscular pode dificultar a deglutição, e às vezes de forma grave, o que a longo prazo pode produzir desnutrição.



Medicamentos utilizados no tratamento da doença de Parkinson
Fármaco Como e quando se utiliza Comentários
Levodopa (em combinação com a carbidopa). O tratamento principal da doença de Parkinson. Administra-se juntamente com a carbidopa para aumentar a eficácia e reduzir os efeitos secundários. Inicia-se com doses baixas, que vão aumentando até obter o efeito máximo. Depois de vários anos a eficácia pode diminuir.
Bromocriptina ou pergolide. Muitas vezes administram-se como complemento da levodopa no início do tratamento para reforçar a acção da mesma, ou podem administrar-se mais tarde quando os efeitos secundários de levodopa se tornam mais problemáticos. Raramente se administra isolado.
Selegilina. Muitas vezes administra-se além da levodopa. No melhor dos casos a ação é modesta. Pode aumentar a acção da levodopa no cérebro.
Medicamentos anticolinérgicos: benzatropina e tri-hexifenidilo, certos antidepressivos, anti-histamínicos como a difenidramina. Podem administrar-se sem levodopa nas fases iniciais da doença e com aquela nas fases tardias. Inicia-se com doses baixas. Pode produzir uma ampla gama de efeitos secundários.
Amantadina Utilizada nas fases iniciais da doença ligeira; nas fases mais avançadas para melhorar os efeitos da levodopa. Se for utilizada isolada, pode tornar-se ineficaz ao fim de vários meses.

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