8.05.2014

Precisamos respeitar nossos professores, diz presidente da Hong Kong University of Science


RIO — Presidente da Hong Kong University of Science and Technology, Tony Chan visitou a UFRJ e a PUC, em passagem pelo Rio, para discutir possibilidades de intercâmbios com as instituições. Fundada em 1991, a universidade presidida por Chan tem seu Executive Master of Business Administration (EMBA) em Business de vocês está entre os 10 melhores do mundo pelos últimos cinco anos, segundo o The Financial Times. Em entrevista ao GLOBO, o executivo de 52 anos estreia a seção ‘Conte algo que não sei’, afirmando que “todos nascem com o mesmo potencial e a mesma inteligência. As conjunturas e condições de vida é que acabam diferenciando cada um. Por isso, acredito que é dever dessas pessoas que tiveram mais oportunidades, tornar o mundo um melhor lugar para todos”.
Na Ásia, há um grande respeito pelo professor, mais do que nos Estados Unidos, mais do que no ocidente. Desde pequenos, ouvimos nossos pais falarem que precisamos prestar atenção ao que nossos professores dizem na escola e respeitá-los acima de tudo. Eles são os maiores exemplos a serem seguidos, são os profissionais pelos quais temos a mais alta estima. Mesmo que os pais não tenham frequentando uma universidade, eles quererem que seus filhos ingressem em uma. Há, consequentemente, um respeito muito grande pelo saber.
A Hong Kong University of Science and Technology é uma universidade recente.
Mesmo assim, o EMBA em Business de vocês está entre os 10 melhores do mundo pelos últimos cinco anos, segundo o The Financial Times. Aonde vocês querem chegar?
Queremos estar entre as melhores universidades do mundo. Nosso foco é em ciência, tecnologia e negócios, por isso, queremos oferecer a melhor formação nestas especialidades para alunos do mundo inteiro. Estamos na Ásia, mas somos uma universidade internacional. Hong Kong é uma cidade muito particular e única, que foi colônia inglesa por mais de 150 anos. Por conta disso, apesar de fazermos parte da China, temos uma independência em muitos aspectos e não enfrentamos qualquer tipo de problema político ao, por exemplo, colocarmos nossas aulas todas em inglês. É algo natural. O inglês é a língua franca do mundo. Apenas 20% do nosso staff é de Hong Kong. Nossos alunos do curso de AMBA em Business pegam avião para ter aulas conosco. São alunos europeus, americanos, que pegam voos uma vez por semana para virem a Hong Kong estudar.
Queremos criar as pessoas mais bem preparadas, futuros líderes para o mundo.
É uma meta ambiciosa. De onde vem a sua vontade por formar líderes mundiais? Você sempre teve esse desejo?
Tenho uma formação muito internacional. Nasci e fui criado em Honk Kong, frequentei o que lá é chamado de Queen"s College. Apesar de estarmos na Ásia, o ensino era metade em chinês e metade em inglês. Depois, fiz faculdade no Calteh (California Institute of Technology) e meu PhD em Matemática e Computação, em Stanford. Há alguns anos, se você queria ter uma educação internacional, era muito difícil ficar na Ásia. Eu saí por conta disso. Passei 40 anos fora de Hong Kong, trabalhando principalmente nos Estados Unidos. Voltei em 2009, para ser o presidente da HKUST. Não tínhamos opção. Hoje, é possível. A ciência e a tecnologia não têm fronteiras. Os melhores do mundo não ficam apena seus países. É preciso viajar, expandir, saber o que se está pesquisando no mundo.
Não faz o menor sentido sermos os melhores em Hong Kong. Não podemos fingir estar feliz com essa posição. Por isso recrutamos os melhores professores do mundo. É preciso pensar globalmente.
Neste sentido, de que maneira vocês vêm uma parceria com o Brasil?
Acho que Asia e Brasil têm muito em comum, principalmente a China. Os dois fazem parte do BRICS. São os dois mais importantes países em desenvolvimento no mundo. Esta ponte faz muito sentido. Os estudantes precisam se conhecer. Nos próximos 40 anos, eles vão ter muitas parcerias. É a primeira vez que uma universidade de Hong Kong vem ao Brasil e ao Rio. Aqui, fui à PUC-Rio e à UFRJ.
Discutimos possibilidades, como intercâmbios de graduandos, pós graduandos e professores. Os estudantes de Hong Kong sabem de futebol, Pelé, Neymar... mas não sabem nada sobre pesquisa científica que o Brasil possa estar fazendo. Meu palpite é que assim que eles souberem, eles vão estar interessados. E vice-versa. O estudante brasileiro é muito criativo, queremos criar esse diálogo.
Além disso, há grandes empresas aqui, como a Petrobras, que investem em tecnologia. Não temos isso em Hong Kong.
Qual o perfil do aluno da HKUST? Que tipo de estudante vocês quererem?
Queremos alunos comprometidos com os estudos acadêmicos. Não somos uma universidade para festas. Somos uma instituição séria. Mas procuramos pessoas de mente aberta. Queremos alunos empreendedores, mais aventureiros e internacionais. Queremos alunos que vão criar o próximo Google, o próximo Facebook. É importante ressaltar que somos uma universidade pública e, por conta disso, o governo nos obriga a ter 80% dos alunos de Hong Kong. Dentro dos 20% restantes, 10% são chineses e 10% são de todas as partes do mundo. É nessa fatia que queremos os alunos brasileiros.
De quanto é o investimento do governo na universidade?
O governo investe US$ 400 milhões por ano na universidade. Esse investimento é proporcional ao número de alunos (a HKUST tem cerca de 13 mil alunos entre graduandos e pós graduandos). Isso representa 2/3 da nossa verba. O outro 1/3 vem da captação que fazemos com empresas. Além do nosso EMBA ser privado, o que nos dá dinheiro para investir na faculdade. O governo de Hong Kong gasta cerca de 1/4 em educação. Sendo que 25% desse investimento é em ensino superior.
Na semana passada, durante a coletiva de imprensa do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas, a presidente Rajendra K. Pachauri disse que "Ninguém neste planeta ficará a salvo dos impactos da mudança climática”. Como conjugar desenvolvimento econômico e social com a crise ecológica? É possível estimular o crescimento industrial sem causar mais impactos ao meio ambiente?
Em primeiro lugar, concordamos com esse pensamento. Tecnologia e ciência são parte da solução, mas não toda. Precisamos de cientistas sociais, humanistas... Uma das coisas que fizemos foi criar um Energy Institute (instituto de energia), com quase 100 professores. Além disso, construímos uma escola de desenvolvimento sustentável, em parceria com a universidade de Sian (China).
Começamos, ainda, uma parceria com Oxford (Londres) para fazer um programa voltado para o setor público: se você trabalhar em qualquer esfera do setor público, você precisa saber além das politicas públicas, ter conhecimento da ciência por trás da política. Carbono, aquecimento global... Sabemos que a China, como segunda maior economia do mundo, ao mesmo tempo em que produz muito, polui demais. Queremos que nossos alunos façam parte dessa solução.
O que um país precisa fazer, em termos de políticas públicas, para a formação dos melhores estudantes?
Duas coisas são fundamentais: primeiro, Investir em pesquisa científica. Sem ela, não existe tecnologia. Sem tecnologia, não há crescimento econômico. Em segundo lugar, investir em intercâmbios de alunos. Eles são a base disso. Sem alunos preparados, não é possível fazer pesquisas científicas inovadoras. Não podemos optar entre uma coisa ou outra. É como ter que decidir se cortamos a mão direita ou a esquerda. As duas são extremamente importantes.
Catharina Wrede
Fonte: O GLOBO

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