5.21.2016

A rua começa a virar o jogo para Dilma?

247 – Quem tem mais condições de sair às ruas no Brasil de hoje: a presidente afastada Dilma Rousseff, que acaba de ser alvo de um processo de impeachment, ou o interino Michel Temer, que ascendeu ao poder com o apoio de praticamente todos os grupos de comunicação oligárquicos?
As ruas ontem mostraram que a situação anda mais favorável para Dilma. Ao chegar para um encontro nacional de blogueiros, ela foi ovacionada por 40 mil pessoas (saiba mais aqui). Impressionado, o deputado e ex-ministro Patrus Ananias (PT-MG) afirmou que, "quando Minas se levanta, o Brasil vem atrás".
Dilma se emocionou e, em sua fala, disse que vai "adorar dizer ao STF porque o golpe é golpe" – a presidente foi instada a se manifestar sobre essa questão pela ministra Rosa Weber, como se a liberdade de expressão de uma presidente legitimamente eleita pudesse ferir a autoestima nacional ou de uma suprema corte.
Também na noite de ontem, Caetano Veloso e Erasmo Carlos se apresentaram gratuitamente, no Rio de Janeiro, num protesto contra a extinção do Ministério da Cultura. Quando Caetano cantou a canção "Odeio você", uma multidão gritou a palavra Temer.
Desde que tomou posse, como interino, Temer ainda não saiu dos gabinetes. O presidente provisório cogitou ir ao funeral de Cauby Peixoto, mas foi desaconselhado por seu marqueteiro Elsinho Mouco, que temia vaias.
Além do risco de ver comprovada sua impopularidade, Temer hoje administra as trapalhadas de seus ministros, que já anunciaram várias medidas, depois desmentidas. Entre elas, a relativização do Sistema Único de Saúde, o fim da gratuidade nas universidades públicas e o controle do Executivo sobre o Ministério Público.
Em editorial publicado ontem, o site Carta Maior, aponta o papel da rua – e não o Congresso – como o palco para a construção de uma nova agenda do desenvolvimento (confira aqui).
Leia, abaixo, reportagem da Agência Brasil:

Dilma se emociona com recepção calorosa em BH e faz críticas ao governo interino
Léo Rodrigues - Correspondente da Agência Brasil
A presidenta afastada Dilma Rousseff participou na noite hoje (20) da abertura do 5º Encontro de Blogueiros e Ativistas Digitais em Belo Horizonte. Ao chegar ao evento, ela foi recebida por milhares de manifestantes contrários ao processo de impeachment. Após abraçar diversos deles, ela fez uso da palavra e não conteve as lágrimas. "Iremos resistir. Eu agradeço a vocês a imensa energia dessa recepção", disse.
Dilma se emociona com recepção calorosa em BH e faz críticas ao governo interino Dilma disse em encontro de blogueiros que o governo do presidente interino Michel Temer não teria legitimidade para fazer as mudanças que propõeLeo Rodrigues/Agência Brasil
O 5º Encontro de Blogueiros e Ativistas Digitais começou hoje e vai até o próximo domingo (22). Na abertura, Dilma Rousseff criticou o fim do Ministério da Cultura (MinC) e a possibilidade de redução do Sistema Único de Saúde (SUS). Também acusou o governo interino de planejar cortes no Bolsa Família, acrescentando que o programa é elogiado pela Organização das Nações Unidas (ONU) e permitiu tirar o Brasil do mapa da fome.
Segundo a presidenta afastada, o governo não teria legitimidade para fazer as mudanças que propõe. "Não só as pessoas não foram submetidas às urnas, como o programa que eles estão tentando implantar também não foi. E isso é o mais grave", disse. Dilma Rousseff considerou que o processo deimpeachment não se justifica e o classificou de golpe. "Não cometi crime algum, não tenho contas no exterior". Na última quarta-feira, a ministra do Supremo Tribunal Federal (STF) Rosa Weber notificou a presidenta afastada para explicar o uso da palavra golpe.
Dilma comparou a política externa do seu governo com a do presidente interino Michel Temer. "Uma vez Chico Buarque sintetizou que a política externa deles é a que fala fino com os países ricos e falava grosso com a Bolívia. Na época, a oposição queria até que invadíssemos a Bolívia. Mas a nossa política externa, que criou laços na América Latina e na África, foi a que tornou o Brasil respeitado internacionalmente", disse.
Por fim, Dilma disse que não vai ficar presa no Palácio da Alvorada e pretende aceitar convites para participar de atos, além de seguir tentando impedir o impeachment no Senado e em todas as instâncias possíveis do Poder Judiciário. "No meu governo e no governo do presidente Lula sempre asseguramos que as pessoas pudessem se expressar mesmo quando eram contra nós, porque damos imenso valor à democracia. Eu temo que um governo ilegítimo, ao tentar implantar certas medidas, só tenha o recurso da repressão para fazê-las viáveis", disse.
Durante o discurso, os presentes interromperam a presidenta diversas vezes para gritar palavras de ordem, criticando o presidente interino Michel Temer e a Rede Globo. A emissora de televisão foi acusada de contribuir com o processo que classificam de golpe. Os veículos de comunicação do grupo Globo foram vetados pela organização de receber credenciais para cobrir evento.
O encontro seria feito com patrocínio da Caixa Econômica Federal. Ontem (20), porém, o presidente interino Michel Temer suspendeu o repasse dos recursos. "Se eles acharam que esse corte iria nos impedir de debater a mídia alternativa, eles não nos conhecem", disse na abertura do evento Renata Mielli, diretora do Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé, uma das entidades organizadoras.
Manifestação
Um ato contra o afastamento de Dilma Rousseff estava agendado para ontem (20), mas a data foi alterada após a presidenta afastada confirmar que estaria na capital mineira nesta sexta-feira. A jornalista Alessandra Brito, 28 anos, considerou que esse encontro com Dilma precisa estimular mais ações. "É um momento de acolhimento e força, mas a gente precisa ser combativo e seguir ocupando as ruas até que o Temer caia. Esse governo é machista e é racista. É só olhar para o ministério", disse.
manifestação contra o governo de Michel Temer em BH Ato contra o afastamento de Dilma Rousseff foi transferido para hoje após confirmação da participação da presidenta afastada em encontro de blogueirosLeo Rodrigues/Agência Brasil
O presidente do Sindicato dos Trabalhadores dos Correios de Minas Gerais (Sintect-MG), Robson Silva, defendeu uma greve geral e manifestou preocupação com o futuro das estatais. "Este governo é a favor do estado mínimo e das privatizações. Querem entregar nossas empresas para os grupos internacionais", disse.
Os manifestantes se reuniram na Praça Afonso Arinos, em frente à Faculdade de Direito da Universidade Federal de Minas Gerais, que está ocupada desde o dia 12 de maio por estudantes contrários ao impeachment. Eles se direcionaram para a entrada do Hotel Othon Palace, onde ocorre o encontro dos blogueiros.
Após a recepção à presidenta afastada, a manifestação seguiu para a sede da  Fundação Nacional de Artes (Funarte). O local está ocupado por artistas contrários ao impeachment desde o último domingo.
A Funarte era vinculado ao recém-extinto MinC e tem como objetivo o desenvolvimento de políticas públicas de fomento às artes visuais, à música, ao teatro, à dança e ao circo. Sua sede nacional fica no Rio de Janeiro e há representações em Belo Horizonte, Brasília, São Paulo e Recife. Na semana passada, o então presidente do órgão, Francisco Bosco, apresentou sua carta de renúncia e justificou sua decisão dizendo não reconhecer o novo governo

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