Por
conta de um comercial de cigarros, Gerson, o canhotinha de ouro, ganhou
a fama de pretender levar vantagem em tudo. Sem nunca ter cometido a
imprudência de revelar seu caráter em comerciais chulos, Ronaldo, o
Fenômeno, tornou-se a expressão mais completa da esperteza
futebolística.
Não
se sabe até onde irão as investigações do FBI sobre a corrupção no
futebol. Mas há grande probabilidade de que a longa mão da lei
norte-americana o alcance.
Todas as investigações começaram em torno do acordo de delação firmado por J. Hawilla com a justiça norte-americana.
No
período investigado, três empresas de marketing esportivo chamaram a
atenção: a Traffic, de J. Hawilla, a Klefer Marketing Esportivo, de
Kleber Leite, e a 9ine, de Ronaldo.
As
três atuaram nos três principais mercados sob suspeita: o de comércio
de jogadores, o da compra de transmissões esportivas e o do marketing
esportivo.
Além disso, são antigas as ligações entre Ronaldo e Hawilla.
A
parceria parece ter começado em 2002, quando Ronaldo montou uma
sociedade completa da sua empresa, a Gortin, com a Traffic. O acordo
permitiu não apenas a compra dos direitos de transmissão do Campeonato
Espanhol para a TV Bandeirantes, como transferiu para a Traffic o
trabalho de marketing de mais de cem jogadores atendidos pela Gortin.
Mais
tarde, houve conflito entre a Traffic e a nova empresa de Ronaldo, a
9ine, em torno do patrocínio do Flamengo. Mas em fins de 2011 foi
celebrada a paz e ambas as empresas passaram a planejar ações conjuntas.
Na Copa do Mundo do Brasil, Ronaldo tornou-se o braço mais ostensivo de influência da FIFA.
Foi
indicado por Ricardo Teixeira, presidente da CBF (Confederação
Brasileira de Futebol), para compor o COL (Comitê Organizador Local) da
Copa do Mundo. E a indicação veio acompanhada de declarações eloquentes:
“"Esse Ronaldo que o povo brasileiro idolatra é a voz perfeita para o
momento de conciliação em torno da Copa de 2014”.
Desde o início, revelou-se o lobista mais eficiente da FIFA.
Suas
primeiras intervenções foram para reduzir as críticas contra as obras
da Copa, sustentando que o país era suficientemente rico para garantir
as obras e os gastos em educação e saúde.
Nos
auges da disputa entre o governo brasileiro e a FIFA, mesmo sendo
membro do COL e acompanhando as obras, sabendo que seria entregues
dentro do prazo combinado, valeu-se da atoarda dos jornais para
pressionar. "A Copa do Mundo (...) poderia ter sido perfeito, se
fizessem tudo o que prometeram, mas isso não tem a ver com Copa do
Mundo, tem a ver com os governos que prometeram e não cumpriram".
Quando
os abusos e os enormes lucros da FIFA começaram a ser comentados, foi o
primeiro a defender a entidade. “Falam que a Fifa está tendo lucro, mas
qual é a empresa que não quer ter lucro? Todo mundo quer ganhar
dinheiro”.
Implodido
o esquema FIFA, saiu a campo condenando seus antigos aliados e pedindo
renovação. Sua pressa em se descolar da quadrilha é sugestiva.
É
possível que, ao final das investigações, se tenha mais luz sobre o
mistério Ronaldo do que aquelas que não iluminaram o fatídico jogo
contra a França, no qual o Brasil perdeu a Copa.
Por Luis Nassif
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