Entenda os benefícios, indicações e cuidados ao consumir o suplemento
Melatonina é um hormônio produzido
naturalmente pelo corpo humano e uma de suas funções básicas é a indução
ao sono. Ela está relacionada com a regulação do metabolismo ao longo
do dia, o que inclui os períodos em que a pessoa está dormindo ou
acordada.
Sua ação de indução do sono fez com que
indústrias farmacêuticas lançassem sua versão sintética, amplamente
vendida como suplemento em outros países, como Estados Unidos e Europa.
A melatonina
não tem sua venda liberada no Brasil pela Agência Nacional de
Vigilância Sanitária (ANVISA). No entanto, ela pode ser importada se
você tiver uma receita médica.
Para que serve a melatonina produzida no corpo
A melatonina é um hormônio ligado ao
ciclo circadiano, ou seja, a forma como o organismo organiza suas
funções quando estamos acordados e durante o sono. A substância começa a
ser produzida na glândula pineal quando o dia escurece, para ajudar o
organismo se preparar para dormir. Ela atinge seu nível máximo quando
estamos dormindo. Com o nascer do sol e a volta da claridade, a glândula
reduz a produção de melatonina, o que sinaliza que é o momento de
acordar.
Por regular as funções do sono em todo o
organismo, a maior parte dos órgãos possuem receptores para ela.
Portanto, é bem possível que ela atue no organismo de formas variadas,
ainda desconhecidas pelos médicos. Acredita-se que ela também tenha
funções de regeneração celular e também ajude a combater inflamações no
organismo.
Como hoje temos cada vez mais estímulos
luminosos mesmo durante a noite, com a televisão, computadores e o uso
constante do celular, algumas pessoas podem ter uma produção menor ou
mais irregular da melatonina.
Alguns fatores costumam influenciar na produção de melatonina são:
- Idade
- Exposição a fontes de luz
- Alguns medicamentos
- Cegueira.
Indicações da suplementação de melatonina
Como a melatonina é um hormônio relacionado ao ciclo do sono,
hoje essa substância é indicada para quem tem dificuldade de começar a
dormir, de manter o sono ou de ter um descanso de qualidade durante a
noite. Isso inclui as seguintes pessoas:
- Idosos, que costumam ter a melatonina mais baixa naturalmente
- Pessoas que trabalham em turnos noturnos e precisam dormir durante o dia
- Vespertinos, ou seja, pessoas que só conseguem dormir e acordar mais tarde
- Viajantes que precisam se recuperar do jet lag ou querem prevenir esse problema com os fusos horários
- Pessoas com alguns graus de cegueira, que devido à má percepção de luminosidade têm dificuldades em produzir o hormônio.
Vale lembrar que melatonina pode ser
interessante para o tratamento de alguns tipos de insônia, mas não
funciona com todas, já que sua eficiência só é comprovada na indução
inicial do sono.
Além disso, é importante ressaltar que a
melatonina indicada para suplementação é uma dose muito maior do que o
corpo libera. Estima-se que toda noite a glândula pineal solte para o
organismo 0,1 mg de melatonina, e os compridos de hoje podem ter até 3
mg da substância. Por isso é importante seguir uma indicação médica ao
consumi-la.
Melatonina para crianças
Nas crianças a melatonina também tem a
função ligada ao ciclo circadiano, ou seja, relacionada a forma como o
organismo organiza suas funções quando estamos acordados e durante o
sono. No entanto, o sono adequado tem implicações ainda mais importantes
para os pequenos, já que durante a noite é que o corpo libera o
hormônio do crescimento, importante para que a criança se desenvolva.
No entanto, a melatonina só deve ser
dada às crianças quando se constata que elas não têm uma produção
suficiente do hormônio. Isso ocorre principalmente em casos de autismo,
cegueira total ou alguma lesão neurológica.
Em casos além desses, o ideal é
conversar com um médico, pois outras medidas podem ser tomadas. Por
exemplo, muitos pais têm usado a melatonina em busca de uma solução para
crianças com menos de 3 anos que não conseguem pegar no sono. No
entanto, o ideal para esse tipo de situação é adotar medidas de higiene
do sono, assim como uma desaceleração do ritmo da casa como um todo na
hora de dormir.
Além disso, a melatonina não deve ser
dada para crianças sem conversar com um especialista. Por mais que
muitos suplementos vendidos no exterior do Brasil sejam feitos com foco
no público infantil, seu uso em crianças atualmente é considerado
controverso, já que não há estudos suficientes comprovando sua segurança
nos pequenos.
Benefícios da melatonina em estudo
Além de seus benefícios para o sono,
pesquisadores tem analisado outros usos da melatonina na saúde. Veja
algumas linhas de pesquisa:
Tratamento da enxaqueca Estudos recentes, alguns feitos aqui no Brasil, mostram os usos da melatonina no tratamento de alguns tipos específicos de enxaqueca.
Ela tem sido estudada para os casos em que os pacientes não respondem
aos tratamentos comuns, que consistem no uso de analgésicos, entre
outras terapias. Mas ainda não se sabe qual efeito ela pode ter nesses
casos e nem foi estabelecido um protocolo para seu uso.
Melhora na resposta à quimioterapia Alguns estudos em camundongos mostraram que a melatonina pode ajudar a aumentar a efetividade dos tratamentos para câncer usando quimioterapia. Estudos ainda estão sendo feitos em humanos, mas ainda não se sabe se esse hormônio atuará da mesma maneira.
Prevenção do câncer Alguns estudiosos vão além e acreditam que a melatonina pode influenciar na prevenção de alguns tipos de câncer.
Existem argumentos biológicos para isso, já que um dos processos do
corpo durante o sono é justamente regular o mecanismo que controla se as
células novas criadas pelo corpo estão funcionando como deveriam,
prevenindo o aparecimento de tumores. Mas os testes em humanos ainda
estão sendo feitos e precisam de alguns anos para chegarem a uma
conclusão mais concreta.
Tratamento da síndrome dos ovários policísticos A melatonina influencia na ação diversos hormônios do corpo, inclusive alguns relacionados à síndrome dos ovários policísticos, como a insulina
e o estradiol. Portanto, essa interligação pode trazer benefícios para o
tratamento e as pesquisas atuais estão mais focadas por enquanto em
entender como a melatonina pode impactar nesses hormônios, para depois
entender como usá-la nesses casos.
Amenizar cólicas em bebês
Alguns estudos têm mostrado que a serotonina e a melatonina têm papeis
importantes no intestino: enquanto a primeira causa uma contração nas
paredes deste órgão, a segunda ajuda no relaxamento. Como os bebês têm
uma glândula pineal imatura, que ainda não produz melatonina,
especialistas estudam se a suplementação com uma gota de melatonina
ajudaria nesses casos, mas ainda não há conclusões e muito menos
protocolos de tratamento de cólicas desta forma.
Melatonina ajuda a emagrecer?
Especialistas em endocrinologia explicam
que o sono tem um papel importante no emagrecimento. No entanto, não é
possível afirmar que o uso da melatonina em si ajuda a emagrecer. O que acontece é que durante o sono de qualidade, o corpo regula os hormônios relacionados à saciedade
(a grelina e a leptina). Quando se dorme pouco ou se tem um sono de
baixa qualidade, esses também hormônios atuam de forma piorada, fazendo
com que a pessoa coma mais até conseguir se sentir satisfeita.
Ou seja, quem dorme melhor consegue
controlar o peso de forma mais eficiente, e a melatonina pode ser aliada
nesse processo. No entanto, fatores como uma alimentação balanceada e
prática de atividade física também são determinantes no emagrecimento,
tanto ou mais do que uma noite bem dormida.
Como consumir
A melatonina é vendida no exterior em
doses de até 10 miligramas. Normalmente quando ela é indicada para
problemas do sono, os médicos orientam a consumir até 3 mg ao dia, entre
uma e duas horas antes de dormir.
Quando falamos em crianças, não há uma
dosagem atualmente considerada segura, e o ideal é não oferecer esse
suplemento hormonal a elas.
Cuidados ao consumir a melatonina
Não há riscos no consumo de melatonina,
apenas o perigo normal a quem tem alergia a algum composto da cápsula ou
alergia à própria substância. Fora isso, a substância é segura.
O consumo excessivo pode trazer
problemas, mas consumindo até 10 mg ao dia não traz complicações. Entre
os efeitos colaterais já observados no consumo de doses elevadas estão
dor de cabeça e alteração na produção de alguns hormônios, como a
prolactina. Além disso, alguns pacientes relatam uma maior produção de
sonhos quando consomem o suplemento. Já as crianças podem ter um aumento
nos pesadelos durante a noite.
Contraindicações da melatonina
A melatonina sintética é contraindicada para pessoas com histórico de angina e infarto.
Fontes consultadas
Neurologista Rosa Hasan (CRM-SP 55.795),
especialista em medicina do sono e responsável pelo Laboratório do Sono
do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de
Medicina da Universidade São Paulo (HC - FMUSP)
Endocrinologista
Alexandre Hohl (CRM-SC 8773), presidente da Sociedade Brasileira de
Endocrinologia e Metabologia (SBEM) Biênio 2015-2016
Neurologista
Luciano Ribeiro (CRM-SP 20.350), pesquisador e professor do Instituto
do Sono (SP) e especialista em Neurologia e Medicina do Sono pela
Academia Brasileira de Neurologia
Endocrinologista Andressa Heimbecher (CRM-SP 123579), doutoranda em endocrinologia na Universidade de São Paulo
Um comentário:
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