22 de abril de 2019
O ativista social Milton Alves, desde a “República de Curitiba”, afirma que o fim da censura ao ex-presidente Lula tem peso simbólico de importante derrota política para a lava jato.
Lula vai falar: Derrota política e simbólica da Lava Jato
Milton Alves*
A decisão do Supremo Tribunal Federal (STF), na quinta-feira (18), que liberou o ex-presidente Lula para dar entrevistas aos veículos que pediram autorização, no caso os jornais Folha de São Paulo e o El País, assegura o primeiro contato do líder petista com a imprensa após a sua arbitrária prisão política.
Os jornalistas Mônica Bergamo (Folha de São Paulo) e Florestan Fernandes (El País) serão os primeiros profissionais da imprensa com acesso ao ex-presidente Lula. A decisão de Toffoli rompe o silêncio imposto ao ex-presidente e foi resultado da queda de braço entre a Lava Jato e o os ministros do STF.
Ao decidir enfrentar a campanha de fake news contra os ministros da corte suprema, Dias Toffoli atirou na liberdade de imprensa censurando dois veículos da imprensa lavajatista, porém, quando suspendeu a equivocada decisão, teve também que ceder aos pedidos de entrevistas com o ex-presidente Lula, engavetados por Luiz Fux ainda em setembro de 2018.
O fato ganha maior relevância na medida em que significa mais uma reação do STF contra os abusos e as ações ilegais da Lava Jato. Durante os últimos anos, a força-tarefa cumpriu um papel de promotora de um novo modelo de Justiça – de exceção e populista.
Em nome do combate à corrupção, a Lava Jato debilitou a democracia no país e iniciou uma feroz perseguição ao Partido do Trabalhadores (PT) e aos seus líderes. A atuação da força-tarefa de Curitiba foi um elemento decisivo para a promoção do impeachment da presidente Dilma Rousseff e do posterior encarceramento de Lula.
Além disso, a operação Lava Jato adotou um modus operandi em confronto aberto com a Constituição, abusando de mecanismos como as conduções coercitivas sem amparo legal, longas prisões preventivas, vazamentos seletivos e delações premiadas continuadas e reeditadas conforme a necessidade política do momento.
A prática do lawfare em larga escala e um ativismo de procuradores e juízes sem precedentes, com intervenções na cena política, a promoção de campanhas (“Dez Medidas”) e o estímulo da mobilização popular nas redes sociais e até de manifestações de rua foram, de certa forma, se naturalizando.
A Lava Jato se tornou uma espécie de “quisto” antidemocrático, que se expandiu e agora briga para se manter e se eternizar. Vale lembrar a criação de uma aparelho permanente e sem previsão legal para gerir fundos e operar a destinação de recursos judiciais – que é a fundação criada por Deltan Dallagnol.
A Lava Jato também causou pesados danos colaterais à economia do país, desmontou a construção pesada, a cadeia do petróleo e gás, dizimou a indústria naval e da construção civil, gerando desemprego e o esvaziamento econômico de centenas de cidades.
A última vítima fatal da Lava Jato foi o ex-presidente peruano e líder aprista, Alan García, que cometeu suicídio momentos antes de sua condução para o cárcere. Garcia foi atacado por longos meses pelo braço peruano do lavajatismo. A mesma campanha é orquestrada contra a ex-presidente da Argentina, Cristina Kirchner. A peronista tem enfrentado uma odiosa campanha de mentiras e ações de lawfare.
Nesse contexto, de ofensiva da direita com a criminalização da política, via Lava Jato, e da formulação de projetos de leis autoritários e anticonstitucionais, como o projeto de Sérgio Moro de “licença para matar”, a voz de Lula será um contraponto potente ao lavajatismo e ao desastroso governo de Bolsonaro.
As entrevistas com Lula, caso não surja nenhum casuísmo judicial nas próximas horas, terão um sabor de derrota política da Lava Jato e carregam o simbolismo da força da palavra do maior líder popular do país. Lula vai falar e o Brasil precisa ouvir sua voz.
*Milton Alves é ativista político e social, militante do PT de Curitiba. Autor do blog Milton Com Política.
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