Entrevista - Magid Shihade
Em entrevista, professor da Universidade de Birzeit,
na Cisjordânia, vê as atuais negociações de paz entre Israel e Palestina
com ceticismo. Por Gianni Carta
Magid Shihade, professor de Relações
Internacionais da Universidade de Birzeit, na Cisjordânia, atualmente a
lecionar sobre Oriente Médio e Ásia do Sul na Universidade da
Califórnia, em Davis, vê as atuais negociações de paz entre Israel e
Palestina com ceticismo. Para o acadêmico, Israel fará o possível para
impedir a existência do Estado da Palestina. Para justificar seu
pessimismo, Shihade aplica a tese já defendida no seu último livro, Not
Just A Soccer Game: Colonialism and Conflict Among Palestinians and
Israel (Syracuse University Press, 2011, 175 págs., 23 libras
esterlinas). “O Estado israelense é um Estado colonial judeu voltado a
afirmar a supremacia racial, visando tornar os judeus grupo dominante
por sua própria natureza.” Daí, continua Shihade, “seu interesse e seu
raciocínio é marginalizar os não judeus (palestinos), deslocá-los se
possível, como fez com milhões de refugiados, e mantê-los como uma
subclasse de cidadãos-súditos, sempre inseguros quanto a seu futuro.”: A paz israelo-palestina ainda é a questão central em um mundo árabe assolado por uma guerra civil na Síria e crises
no Egito, Líbia e Tunísia, entre outros países?
Magid Shihade: É uma questão central por causa da importância de Israel para o Ocidente e, principalmente, para os Estados Unidos. Ao mesmo tempo, a Palestina é tema de grande importância para o público árabe.
Segundo William Hague, ministro britânico do Exterior, “a janela está se fechando”. Já não está fechada?
MS: Essa declaração foi feita por inúmeras autoridades europeias e norte-americanas. Elas sabem que Israel não está interessado na criação de um Estado palestino. Portanto, continuam a dizer a mesma coisa só para dar uma ilusão de possibilidade, de esperança. Essas autoridades sabem que as políticas israelenses, incluindo a constante erosão dos territórios da Cisjordânia por meio da construção e expansão de assentamentos, é um fato que todos os governos israelenses continuam a colocar em prática.
A questão dos refugiados palestinos é uma das principais sobre a mesa de negociações. Dos 800 mil árabes que fugiram para a Cisjordânia, Estreito de Gaza e mundo afora em 1948, só 60 mil estão vivos. Aparentemente, o presidente da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas, concordou com os israelenses de que os palestinos nunca retornem para suas casas em Israel.
MS: Os refugiados palestinos fugiram da Palestina em 1948 e muitos deles foram expulsos por sionistas e depois por tropas de Israel. Os israelenses fizeram isso não apenas durante a guerra de 1948, mas também durante a guerra de 1967. Esses sobreviventes são os avós e os pais de milhões de palestinos que vivem hoje no Líbano, Jordânia, Síria e em outros lugares. As resoluções da ONU e a lei internacional lhes dão o direito de retornar se desejarem, ou de receber indenização. Israel ainda hoje não assumiu a responsabilidade por isso. O equilíbrio de poder entre a Organização para a Libertação da Palestina (OLP, uma confederação multipartidária)/Autoridade Palestina e Israel não estabelece condições para que Israel assuma a responsabilidade por ter criado a questão dos refugiados palestinos e para poder agora corrigi-la. Na verdade, duvido que qualquer líder palestino se oponha ao retorno a Israel dos refugiados. No entanto, Israel não permitirá que isso ocorra. As potências ocidentais, especialmente os EUA, concordam com Israel.
O premier Ismail Haniyeh é ingênuo ao pensar que o Hamas pode se aliar ao Fatah, enquanto Benjamin Netanyahu continua a colonizar a Cisjordânia?
MS: O Hamas não aceitará a reconciliação com o Fatah, a menos que o Hamas domine a política da Palestina. Esse também é o caso das negociações do Fatah, a governar a Cisjordânia, em relação ao Hamas. Ambas são legendas que, por sua própria natureza, visam à dominação política. E muitas vezes trabalham para esse fim, mesmo ao custo das metas nacionais da população palestina.
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