7.09.2015

Amor e intimidade

Regina Navarro Lins

Ilustração: Lumi Mae
Ilustração: Lumi Mae
 Comentando a Pergunta da Semana
A maioria das pessoas que responderam à enquete acredita não ser difícil ter intimidade com o amado (a). Entretanto, o temor de ser deixar conhecer no íntimo existe em muita gente.
Um bom exemplo é o que ocorria em Roma, há dois mil anos. Para não se deixar escravizar por uma mulher, o homem deveria manter distância em relação a ela, evitando qualquer intimidade. Caso se sentisse fragilizado pela sua paixão, tentava desqualificá-la, exacerbando aspectos dela que lhe causavam repulsa.
Há pessoas aparentemente fortes, poderosas no espaço público, mas que na intimidade se tornam frágeis. O filósofo inglês Thomas Hobbes (1588-1679) afirmava que somos todos iguais, no sentido em que partilhamos da habilidade para nos matarmos uns aos outros.
O filósofo americano Robert Solomon explica que a visão geral que Hobbes tem da natureza humana aplica-se especificamente ao poder que todos temos na vulnerabilidade compartilhada no quarto.
Solomon exemplifica a contínua desconfiança entre homens e mulheres na imagem de um guerreiro, invencível na guerra, dormindo num grande estupor após o sexo ao lado da mulher que sequestrou e estuprou, com a espada por perto.
Ele é vulnerável como um cordeirinho pronto para o sacrifício. Imagem paranoica que deixa bem claro o ponto de vista de Hobbes. Onde há tanta intimidade, até mesmo Conan, o Bárbaro, fica vulnerável.
Muitos homens, ainda submetidos à ideologia patriarcal, estabelecem no máximo intimidade sexual com suas parceiras, nunca intimidade emocional. Para estes a intimidade é vista como um sinal de fraqueza. Para outros, a intimidade num relacionamento é um privilégio, um luxo afetivo a ser conquistado pouco a pouco.
O psicoterapeuta italiano Willy Pasini diz que a intimidade é muito mais fácil para a mulher do que para o homem. Historicamente, nas culturas patriarcais, os homens cuidam da guerra, da política, de ideias, e para as mulheres restou o mundo “menos importante”, o dos sentimentos.
Pasini afirma que nunca os homens o consultam por problemas diretamente ligados à intimidade. Preferem recorrer a perguntas-disfarce, mas as perguntas dos homens sobre sexo têm muitas vezes a ver com intimidade.
Muitos supõem que a intimidade os torna totalmente vulneráveis. Mas ao contrário de outros contextos em que a vulnerabilidade significa fraqueza e desproteção, no amor deveríamos poder mostrar nossas fragilidades sem temer qualquer constrangimento ou humilhação, ou seja, sem temer um ataque.
O filósofo alemão Theodor Adorno sintetiza muito bem essa ideia ao afirmar que só nos ama aquele junto a quem podemos nos mostrar fracos sem temer a força.

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