9.24.2008

Consequências do desenvolvimento: "O BRASIL NÃO É MAIS EMERGENTE"

"O BRASIL NÃO É MAIS EMERGENTE"
18/09/2008
Até o fim de 2008, um grupo formado por sete países em desenvolvimento, entre eles o Brasil, será responsável por 24% do crescimento da indústria farmacêutica mundial, uma participação inédita num setor em que, tradicionalmente, quase todas as receitas estiveram ligadas aos mercados da América do Norte, da Europa e do Japão. O executivo austríaco Severin Schwan, presidente mundial do grupo Roche, comentou o novo fenômeno.
1) Quão importantes são os mercados emergentes para a Roche? Não concordo com o termo "emergentes" para países como o Brasil. Ele dá uma idéia de futuro, mas esses mercados já são uma realidade. No ano passado, 15% do faturamento do grupo Roche teve origem nos países em desenvolvimento. Em 2008, a participação será de 20%.

2) O Brasil é relevante apenas como mercado consumidor? A América Latina responde por 7% de nossas vendas - e por 15% de nossos testes clínicos. Quase metade dessas pesquisas é realizada hoje no Brasil

3) As empresas de bens de consumo que mais cresceram nos países em desenvolvimento são aquelas que conseguiram adaptar seus produtos a esses mercados. Como a Roche enfrenta esse desafio? Para a indústria farmacêutica, essa regra não funciona. Se há duas pessoas com câncer de mama, uma no Brasil e outra na Alemanha, a necessidade básica de ambas é a mesma: melhorar a qualidade de vida ou, idealmente, se curar da doença.

4) Mesmo assim, não se pode ignorar que a renda dos consumidores em mercados emergentes é menor. Como crescer nesse cenário? Para mim, essa não é uma questão de preço, mas de valor. Se você investe e corre risco para desenvolver uma droga que ajuda a salvar vidas, é justo cobrar por isso. Nossa experiência mostra que, mesmo em países como o Brasil, há pacientes e médicos que reconhecem esse valor e que estão dispostos a pagar.

5) Além do baixo poder aquisitivo dos consumidores, as farmacêuticas ainda são pressionadas pelos governos a vender pelo menor preço possível nos países emergentes. Qual a política da Roche para essa situação? Nos países mais pobres, por exemplo, oferecemos medicamentos para Aids a preço de custo e livres de patentes. Mas há limites para o que a indústria pode fazer. É como pedir para que as empresas de cimento resolvam o problema de habitação e para que as empresas de alimentos acabem com a fome no mundo. Para fazer investimentos de maneira sustentável, precisamos ter retorno.

6) A indústria farmacêutica passa por uma de suas fases mais difíceis, com a perda de patentes para os genéricos, de um lado, e o ritmo fraco de lançamento, de outro. Quais as estratégias da Roche para enfrentar a atual má fase? Queremos nos diferenciar por meio da inovação. Uma das áreas em que trabalhamos é o desenvolvimento de remédios personalizados. Exemplo disso é uma droga sob medida para pacientes que desenvolvem um tipo específico de câncer de mama. Dessa forma, a chance de sucesso no tratamento aumenta.

7) Diante do difícil cenário da indústria, como o senhor lida com a ansiedade de investidores e analistas de mercado? Há muito ceticismo na comunidade financeira e vemos isso refletido no valor de mercado das farmacêuticas. Mas eu vejo o cenário de forma diferente. Existe uma série de doenças para as quais ainda não descobrimos a cura, e a população, inclusive nos países emergentes, está envelhecendo. Tudo isso representa novas demandas por nossos produtos.

Fonte: Exame

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