Eu não amo ninguém
Parece egoísmo começar um texto assim, mas é a minha verdade um pouco digamos, anti-estética.
Fazendo um retrospecto da minha vida eu
penso que todas as vezes que pensei estar amando, vivendo esse
sentimento, muito provavelmente eu estava embriagada pela paixão, fruto
das minhas euforias, minhas crises em meio aos picos do transtorno que
me acompanha.
Então eu fico muito apreensiva e com
medo de que eu realmente possa não ter jamais conseguido amar ninguém de
verdade...Sendo que eu passei a ser medicada somente nos últimos dez
anos... Provavelmente todos os meus sentimentos sempre foram regados no
solo das minhas extremidades (depressão profunda, euforia extrema) e lá
tudo cresce demais. Sendo fruto doce ou amargo. Cresce e multiplica.
Tenho medo de que não tenha dado a ninguém algo puro e verdadeiro, somente criações da minha patologia... será?
Será que eu sei amar alguém? Não por egoísmo, mas por realmente não saber como é ?
Por não conseguir sentir o amor isolado
das tintas exageradas do transtorno bipolar e por contaminar as pessoas
com o peso da insuportabilidade que é lidar com a minha eterna carência
de algo que nenhuma dessas pessoas poderá suprir...
Por estar sempre me doando em toneladas
para colher pequenos frutos, tantas vezes abortados, viciada em amar do
jeito errado, fazendo sempre do jeito errado, mandando o recado torto e
afastando quem realmente importa...
Talvez seja por isso que eu não amo ninguém, mas acredito amar muitas pessoas...
Elas ficam guardadas na minha mente e eu
escrava de cada uma delas, dando voltas em círculos com meus
pensamentos doentios... A reciprocidade não se cultiva, se tropeça nela
um dia e você percebe que já fazia parte de tudo desde o início.
Não se pede amigos, não se pede amor,
não se come amor. E se enquanto faminto você achar que pode se sustentar
encima do que você pensa sentir, que pode sugar algo de alguém, isso
sim é injusto e egoísmo para com o outro.
Quando se ama alguém? Quando realmente
não é retrato do egoísmo das suas necessidades refletidas na presença de
uma pessoa, seja seu filho, cônjuge, pais, amigos... esse amor, não
seria o preenchimento que essas pessoas fazem de determinadas
necessidades, bem especificas? Que quando não atendidas, esse amor é
abalado? Então não seria amor, pois o amor não deveria ser
condicional...
E se você, embriagado de paixão, euforia
ou qualquer tipo de distúrbio "criou" uma pessoa naquela criatura,
deu-lhe qualidades, características, personalidade que provavelmente ela
nem tem, mas para que você pudesse assim, ama-la. A quem você está
amando? Você não ama ninguém.
E hoje eu me pego pensando se eu já
aprendi a amar alguém... É bastante horroroso eu estar falando sobre
isso sendo que já sou mãe, sou casada e tenho amigos maravilhosos...
Mas é a verdade e eu me questiono, o que estou fazendo com vocês?
Será que não estou apenas sugando atenção, será que eu realmente os amo, do jeito certo?
Ou pelo menos saudável? Não é egoísmo querer lapidar a vida da filha?
Até onde se diz que se ama um
companheiro? O que é amar alguém? E os amigos? O quanto a gente se dá
para cada um, será que é o quanto esse amigo deseja?
O que procuramos nas pessoas?
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