Presidente interino demonstra boa relação com o Congresso para
aprovar medidas impopulares, mas sofreu baixas no núcleo duro e aumentou
desconfiança da população sobre interferência na operação Lava Jato.
O presidente interino Michel Temer completou um mês à frente do governo, melhorando a relação entre
Executivo e o Congresso, mas também enfrentando denúncias para obstrução da Lava Jato . As controvérsias no período também lançaram incerteza sobre o
julgamento do golpe e mostraram que a Operação Lava Jato pode
desestabilizar o novo governo interino..
Entre as medidas para melhorar o quadro econômico, houve pouca ação
até agora. "Foram mais anúncios do que decisões práticas. Mostram uma
falta de orientação e determinação", afirma o cientista político suíço
Rolf Rauschenbach, do Centro Latino-Americano da Universidade de St.
Gallen.
Temer anunciou o congelamento do aumento dos gastos públicos, que devem
ficar limitados a uma correção da inflação do ano anterior, mas o plano
ainda depende de uma lei. Até o momento, a maior parte das medidas foi
simbólica. Temer reduziu o número de ministérios de 32 para 23, mas a
economia gerada tem pouco impacto na economia.
Na política, o novo governou interino mostrou harmonia com o Congresso. Com uma
nova coalizão, Temer conseguiu aprovar com facilidade a redução da meta
fiscal e a prorrogação até 2023 da DRU, mecanismo que autoriza a União a
gastar como quiser 30% da arrecadação. Ambas as medidas já haviam sido
propostas no governo Dilma, mas não foram aprovadas por esse mesmo congresso.
Mas a base de Temer também já vem causando problemas. Tal como Dilma, o
presidente interino já sofre pressão de partidos médios e nanicos, que
pedem cargos e batalham pela aprovação de medidas que batem de frente
com o discurso de arrocho nas contas. Como resultado, o governo
inicialmente aceitou projetos de aumento para o funcionalismo e de
criação de 14 mil novas vagas na administração.
O núcleo duro do governo interino não vem se saindo melhor. Logo após tomar
posse, Temer foi criticado por montar um ministério sem mulheres e com
poucos "notáveis". No lugar da diversidade e de técnicos, apareceram
velhos caciques políticos. "Essa preocupação em formar uma coalizão
sólida entrou em choque com a agenda de mudança política esperada pela
população. Ele não respondeu aos pedidos por renovação", afirma Cortez.
Poucos dias foram suficientes para confirmar os erros na montagem da
equipe. Primeiro, Romero Jucá (Planejamento), que já estava enrolado na
Lava Jato, teve que deixar o cargo após aparecer em um grampo no qual
diz ser necessário tirar o governo eleito da Dilma para "estancar a sangria" da
operação lava jato. Depois, foi a vez de ministro Fabiano Silveira (Transparência)
cair por criticar a Lava Jato.
A Lava Jato também demonstrou a vulnerabilidade do governo e lançou
dúvidas sobre o comprometimento do novo governo interino com as investigações. Em
seu discurso de posse, Temer disse que daria todo o apoio à operação.
Mas as conversas de Jucá e de Silveira aumentaram a incerteza.
"Esse problemas eram previsíveis. Essas decisões acabam de vez com a legitimidade
de Temer para se firmar no cargo. Não se pode esquecer que ele continua muito
próximo de figuras como Eduardo Cunha., afirma
Rauschenbach.
Desconfiança
O governo também sofre com a desconfiança na sociedade. Pesquisa
divulgada na semana passada mostrou que 54,5% dos brasileiros consideram
que o desempenho de Temer está igual ao de Dilma - ou seja, ruim, e
apenas 11,3% avaliam o governo Temer como positivo. A esperada "lua de
mel" entre governo e população, não se confirmou, muito pelo contrário.
A popularidade da presidente Dilma aumentou.
A instabilidade deste governo interino para se firmar também se refletiu nos vários recuos -
além de recriar o Ministério da Cultura, Temer se viu obrigado a barrar
as 14 mil novas vagas. Segundo Cortez, os recuos demonstram que o
governo Temer "não tem identidade política".
Os fatos negativos no último mês fizeram com que a imprensa brasileira
lançasse dúvidas sobre o julgamento do impeachment (Golpe), apontando que alguns
senadores estão reavaliando suas posições. Talvez a Lava Jato alcance o Temer, talvez ele não tenha chance de sobreviver e a Dilma poderá voltar e ela já acena com um plebiscito, para decidir sobre novas eleições e como faz parte da democracia o povo decidirá o futuro.
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