2.02.2017

Em Paris, Dilma diz que “novo golpe” pode impedir eleições em 2018



Daniela Franco, da Rádio França Internacional - Na continuação de sua viagem pela Europa, a ex-presidente Dilma Rousseff passou por Paris nesta terça-feira (31). No senado francês, ela denunciou irregularidades em sua destituição e alertou para "a possibilidade de um novo golpe em 2018, nas próximas eleições presidenciais"
Lembrando a destituição de Fernando Lugo da presidência do Paraguai, em 2012, Dilma Rousseff declarou que o impeachment passou a ser uma estratégia na América Latina. "Quando não se derrota por eleição direta, recorre-se ao impeachment", declarou.
Para a ex-presidente, o processo envolve toda a América Latina neste momento, onde, segundo ela, "aproveita-se da crise econômica para se instituir políticas ultraconservadoras e ultraliberais contra os direitos da população".
"Novo golpe" em 2018
No caso específico do Brasil, Dilma Rousseff acredita que esse processo tem como consequência "o aparecimento de uma onda conservadora e restritiva". "Por isso, haverá a possibilidade de uma vitória ou de um novo golpe, em 2018, nas próximas eleições presidenciais", prevê.
A ex-presidente diz desconhecer quais mecanismos seriam utilizados, mas "há a possibilidade de tentarem uma eleição indireta, diante de um presidente ilegítimo e do desgaste muito grande com as delações [da Odebrecht] que vão ser divulgadas nos próximos meses, semanas ou dias. E há a possibilidade, em último caso, de inviabilizarem a candidatura de Lula."
Por isso, segundo ela, compreender o que acontece atualmente no país é fundamental para agir e evitar o que classifica como "o golpe no golpe". "O grande risco que nós corremos hoje é em relação às eleições de 2018", um processo que, segundo ela, estaria na continuidade de sua destituição em 2016.
A petista também criticou a PEC do teto para os gastos públicos, aprovada no mês de dezembro, "o exemplo mais puro de como o neoliberalismo se casa com o estado de exceção e afronta a Constituição". "Congelar por vinte anos, em termos reais, todo o gasto com educação, cultura, segurança, ciência e tecnologia, e liberar o gasto em pagamento de juros, é claramente a apropriação do orçamento por uma política neoliberal. Ora, fazê-lo por vinte anos é passar por cima de cinco presidentes, e portanto, de cinco processos eleitorais."
Defesa da democracia
A melhor forma de lutar contra essa evocada ascensão do conservadorismo e o ultraliberalismo é a defesa democracia, garante a ex-presidente. "Ela é nossa principal bandeira porque impede que os golpes se deem à margem dos processos de melhoria de vida."
À RFI, Dilma declarou que o objetivo de sua viagem à Europa é denunciar as consequências do que chama de "medidas de exceção", que, ressalta, vêm acontecendo em todo o mundo. "É esse capitalismo de curto prazo, que quer resultados trimestrais. Ele produziu a maior crise dos últimos setenta anos, essa que ainda estamos vivendo."
Para ela, esse processo global é incompatível com a democracia. "É algo que explica meu impeachment, o Brexit, a eleição americana, uma série de eventos que estão acontecendo no mundo inteiro."
Viagem pela Europa
Nesta viagem, antes de Paris, Dilma Rousseff passou pela Espanha e pela Itália. Na última quarta-feira (25), em Sevilha, ela ministrou a conferência "O ataque à democracia no Brasil e na América Latina", dentro do seminário "Capitalismo neoliberal, democracia restante", organizados por três centros de pesquisa espanhóis.
Na última sexta-feira (27), a ex-presidente discursou na cidade de Lecce, na Itália, onde foi convidada de honra do seminário internacional "A Solidão da Democracia", da Universidade de Salento.
Em Paris, o encontro organizado pela senadora Laurence Cohen, do Partido Comunista Francês (PCF), teve participação de integrantes do Coletivo de Solidariedade França-Brasil, da associação Autres Brésils, da ong France Amérique Latine, da União dos Estudantes Comunistas, do Movimento Democrático 18 de Março (MD 18), além de representantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e do Partido dos Trabalhadores (PT).
Além disso, deputados e senadores franceses, membros do Partido Comunista da França (PCF) e embaixadores do Equador e da Venezuela estavam presentes. O advogado de Dilma Rousseff, José Eduardo Cardozo, também participou do encontro.

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