8.27.2008

Tabagismo Passivo Mata

Inca divulga estimativa de mortalidade de não-fumantes expostos à fumaça


A cada dia, ao menos sete brasileiros morrem por doenças provocadas pela exposição passiva à fumaça do tabaco. De acordo com o estudo Mortalidade atribuível ao tabagismo passivo na população brasileira (ppt) - realizado por pesquisadores do Instituto Nacional de Câncer (Inca) e do Instituto de Estudos de Saúde Coletiva da UFRJ -, pelo menos 2.655 não-fumantes morrem a cada ano no Brasil por doenças atribuíveis ao tabagismo passivo. A maioria das mortes ocorre entre mulheres (60,3%).


Na pesquisa, que estimou o número e a proporção de óbitos, foram consideradas apenas as três principais doenças relacionadas ao tabagismo passivo: câncer de pulmão, doenças isquêmicas do coração (como infarto) e acidentes vasculares cerebrais. Definiu-se como fumantes passivos as pessoas que nunca fumaram e que moravam com pelo menos um fumante no mesmo domicílio. Somente indivíduos na faixa etária de 35 anos ou mais foram alvo do estudo. Fumantes e ex-fumantes não fizeram parte da população avaliada.



De cada mil mortes por doenças cérebro-vasculares, 29 são atribuíveis à exposição passiva à fumaça do tabaco. A proporção é de 25 para mil no caso de doenças isquêmicas e de sete para mil mortes por câncer de pulmão. Os óbitos de mulheres são de 1,3 a três vezes mais elevados que os de homens. Das 2.655 mortes, 1.601 foram de mulheres. A faixa etária que registra maior ocorrência, tanto em homens quanto em mulheres, é de 65 anos ou mais.



Ineditismo
Primeira pesquisa do gênero realizada no Brasil, a Mortalidade atribuível ao tabagismo passivo na população urbana do Brasil estimou números somente para a população urbana. É importante ressaltar que os resultados representam apenas uma parcela da mortalidade atribuível à exposição passiva à fumaça do tabaco. Não foram objeto do estudo outras causas de óbito possivelmente associadas ao tabagismo passivo, como síndrome da morte súbita da infância e doenças respiratórias crônicas. Também não foram avaliadas patologias relacionadas à infância e ao período neonatal.


Metodologia

Os pesquisadores elegeram três patologias para as quais existem fortes evidências científicas de relação entre a exposição passiva à fumaça do tabaco e morte entre adultos, de acordo com o relatório do US Surgeon General, 2006: doenças isquêmicas do coração, câncer de pulmão e doenças cérebro-vasculares. Para calcular a mortalidade atribuível ao tabagismo passivo, foi preciso obter o número de óbitos por essas doenças, levantado no Sistema de Informação de Mortalidade (SIM) do Ministério da Saúde, no período de 2002 a 2004.



Os cálculos incluem, além do número de mortes, dados sobre prevalência, ou seja, sobre a proporção da população exposta ao tabagismo passivo. A fonte dessas informações foi o Inquérito Domiciliar Sobre Comportamentos de Risco e Morbidade Referida de Doenças e Agravos Não-Transmissíveis realizado em 15 capitais brasileiras e Distrito Federal pelo Inca e Secretaria de Vigilância em Saúde em 2003. A população de estudo do inquérito foi representada por 23.457 indivíduos, residentes em 10.172 domicílios.

A terceira informação necessária é o risco relativo de morte de não-fumantes expostos ao tabagismo passivo em relação aos não-expostos. Para isso, foram usados os parâmetros de três estudos internacionais de meta-análise.



O estudo Mortalidade atribuível ao tabagismo passivo na população urbana do Brasil foi realizado pelos pesquisadores Antonio José Leal Costa, do Instituto de Estudos de Saúde Coletiva da UFRJ, e Valeska Figueiredo, da Coordenação de Prevenção e Vigilância do Inca. Participaram do relatório final Cláudio Noronha, coordenador da Coordenação de Prevenção e Vigilância do Inca; Tânia Cavalcante, chefe da Divisão de Controle do Tabagismo, e as profissionais Vera Colombo e Liz de Almeida, também do Inca.

Um comentário:

Antonio Celso da Costa Brandão disse...

Cigarro alheio mata

Pesquisa do Inca mostra que sete não-fumantes morrem por dia no Brasil com doenças causadas pela exposição à fumaça

Rio - O cigarro não é prejudicial apenas à saúde de quem fuma. Sete brasileiros não-fumantes morrem por dia nas cidades do País, vítimas de doenças provocadas pela exposição à fumaça do tabaco, segundo pesquisa divulgada ontem pelo Instituto Nacional do Câncer (Inca) e Instituto de Estudos de Saúde Coletiva da UFRJ. São 2.655 mortes por ano, sendo a maioria entre mulheres (60,3%). A faixa etária que mais registra óbitos é a acima de 65 anos.

O número calculado de vítimas fatais, segundo os pesquisadores, é o mínimo. Se o estudo tivesse incuído a população rural e ambientes de trabalho, por exemplo, seriam mais de 10 mortos ao dia. Além disso, de acordo com o Inca, foram consideradas apenas as três principais doenças relacionadas ao tabagismo passivo: câncer de pulmão, doenças isquêmicas do coração, como infarto, e acidentes vasculares cerebrais. Não foram analisadas, por exemplo, outras possíveis causas de óbito, como a síndrome da morte súbita na infância, doença respiratória crônica e patologias ligadas ao período neonatal.

Foram analisadas pessoas a partir dos 35 anos e considerados fumantes passivos aqueles que nunca fumaram e moravam com ao menos um consumidor de cigarros.

“A pesquisa foi feita só em ambientes domésticos de aglomerados urbanos. Se ela fosse estendida aos ambientes de trabalho, o número de mortes seria mais expressivo”, alertou o diretor-geral do Inca, Luiz Antonio Santini. “A lei hoje existente ainda admite a possibilidade de ambientes específicos para fumantes. Com este estudo, fica comprovado que a segregação de ambientes não tem significado”, conclui.

Ambientes livres de tabaco

A epidemologista do Inca Valeska Figueiredo destacou a importância da criação de ambientes livres do tabaco. Segundo ela, crianças expostas ao cigarro têm mais chances de desenvolverem doenças respiratórias. Além disso, gestantes que inalam a fumaça correm o risco de terem bebês com sobrepeso.

“Procuramos a prevenção do tabagismo passivo, que é problema de saúde pública. Para reduzir as mortes, é preciso que fumantes não fumem perto de outras pessoas, além da criação de ambientes reservados para eles ”, disse.

O estudo servirá para implementação da Convenção-Quadro, que adotará medidas para o controle do tabagismo no País. Até o fim do ano, sairá pesquisa incluindo exposição à fumaça no trabalho.