A missão de todos nós
Uma vez que o comportamento é sempre uma decisão pessoal, cabe a cada um descobrir sua missão e decidir se vai realizá-la ou não
A certa altura do famoso livro de Antoine de Saint-Exupéry, o Pequeno Príncipe diz:
– Eu conheço um planeta onde há um sujeito vermelho, quase roxo. Nunca cheirou uma flor. Nunca olhou uma estrela. Nunca amou ninguém. Nunca fez outra coisa senão somas. E o dia todo repete como tu: “Eu sou um homem sério! Eu sou um homem sério!" E isso o faz inchar-se de orgulho. Mas ele não é um homem; é um cogumelo!
Pegando carona nessa analogia, acredito que há apenas duas maneiras de você encarar sua passagem aqui na Terra: ou você é um cogumelo ou acredita que tem uma nobre missão a cumprir. Isto é: ou você é daqueles que, de forma insensível e obsessiva, só reverencia o ganho material, ou você aceita que sua existência tem um sentido maior do que o de apenas ocupar um espaço físico – e, nessa condição, contribui para que coisas boas aconteçam. Isso faz toda a diferença do mundo para torná-lo um vencedor, porque essa é a base do comprometimento, da automotivação e do compromisso com a qualidade.
Se um profissional, de qualquer segmento, tem essa visão transcendente de vida, então ele não levanta da cama e se veste todo dia para ir ao trabalho apenas para cumprir seu horário e ganhar o salário no final do mês. Isso seria absoluta falta de consciência de uma missão e, pior ainda, seria reduzir sua capacidade criativa e produtiva a uma mera troca por remuneração, transformando seu trabalho numa relação somente contratual, tipo toma-lá-dá-cá. Será muito difícil para essa pessoa amar o que faz. E é muito provável que ela passe o dia acompanhando ansiosa os ponteiros do relógio, aguardando a hora de ir embora.
Onde está a felicidade nesse trabalho que consome pelo menos dez horas de cada dia da sua vida? Não podemos esquecer que, dentre outras coisas, a felicidade vem da consciência de que sua missão está sendo cumprida.
Faça um teste: reflita sobre seus afazeres diários, não importa em que segmento do mercado você atue. Tente descobrir de que maneira e com que grau de importância você, com seu trabalho, afeta a vida de outras pessoas, seus clientes internos e externos.
Viu como é importante o que você faz? E, por conseqüência, viu como você é importante? Dependendo da sua profissão, com o seu trabalho você pode afetar, de forma positiva ou não, o bem-estar, a saúde, o humor, o tempo, a segurança, a alimentação, o visual, o comportamento e tantas outras coisas de muitas pessoas, a maioria das quais você talvez nem conheça e, provavelmente, nunca virá a conhecer. Sua participação nisso tudo pode ser direta ou indireta, pode ser explícita ou anônima, pode ser de inúmeras maneiras, mas nem por isso deixará de ser importante.
Não há funções inferiores, desde que o desempenho delas esteja revestido de comprometimento, competência, ética, solidariedade e boa vontade. Lembra de como você se sente quanto busca um serviço e é mal atendido? Ou quando adquire um mau produto? Essas coisas acontecem porque há quem preste serviços ou produza bens sem levar em conta a importância do seu trabalho, sem considerá-lo uma missão. E assim, mesmo que não tenha consciência disso, está provocando em outras pessoas o aborrecimento, a tristeza ou até a doença.
O que quero dizer é o seguinte: em tudo o que é feito ou oferecido por um profissional, há um sentido maior e mais digno do que simplesmente a busca do lucro. Além do ganho financeiro, há também aquele que gosto de chamar de “ganho espiritual”, aquele que, necessariamente, não é o que satisfaz ao bolso, mas certamente alegra a alma e o coração.
É isso que molda os vencedores, entendendo-se como tais não aqueles que têm a conta-corrente mais recheada, mas aqueles que estão em paz consigo e com os demais, pela consciência do cumprimento permanente de sua missão.
É por causa dessa missão que há empresários que não esquecem do coração na hora de administrar seu lucro com a razão. Empresários que, com o mesmo interesse e empenho com que investem na expansão dos seus negócios, também investem na expansão da arte, da cultura, na saúde física e emocional dos seus colaboradores. Retorno? Ganho espiritual. Dessa maneira, são felizes e distribuem felicidade.
É por causa dessa missão que há funcionários que também não esquecem do coração na hora de cumprir suas tarefas diárias, ainda que elas pareçam rotineiras e sem importância. Eles sabem que o todo é feito de pequenas partes. Esses são colaboradores alegres, dispostos, éticos e comprometidos com a qualidade do que fazem, porque, pela consciência da missão, sabem que seu serviço ou produto destina-se a fazer melhor a vida ou o trabalho de alguém.
Enfim, uma vez que o comportamento é sempre uma decisão pessoal, cabe a cada um descobrir sua missão e decidir se vai realizá-la ou não. Quando dava meus primeiros passos em teorias de liderança e administração, li em algum lugar que "não há funções nem seres inferiores; ser inferior é cumprir mal sua missão".
Acredito nisso até hoje, mais de trinta anos depois.
*Floriano Serra
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