10.18.2008

A gente não quer só medicamentos



Por José Antonio Mariano
Uma população que tem tudo para ser a mais fiel da farmácia está sendo tratada como um cliente qualquer pelo proprietário da farmacia; ele consome muito medicamento, mas não quer só medicamento; quer saúde, diversão e sexo

Todos na farmácia conhecem esse cliente. Ele aparece todos os meses, sempre e invariavelmente com a mesma receita. Às vezes, nem tão disposto, sobretudo quando percebe que o preço do medicamento aumentou.

O que poucos proprietários de farmacia se dão conta é que esse cliente – o idoso – pode se converter em um freguês fiel, independente até do preço que paga pelos medicamentos. E são vários medicamentos, já que o idoso (e, no Brasil, é considerado idosa a pessoa com idade acima de 60 anos), portador não raro de mais de uma patologia, necessita de mais de um remédio. “Esse cliente, contudo, precisa ser entendido e atendido de maneira especial, não só por conta de sua idade, mas porque, devido à cronicidade dos quadros que apresenta, é freqüentador habitual da farmácia”, afirma Thiago Bonini, consultor empresarial de São Paulo. “Sabendo disso, toda uma séria de comodidades, ofertas, promoções podem ser alavancadas junto a esse cliente.”

Se o proprietário da farmácia começar a trabalhar agora esse cliente habitual, que vai à farmácia buscar antiarrítmico, anti-hipertensivo, antidepressivo, anticolinérgico, iniciará uma atividade junto a um público que só tende a crescer, tornar-se mais ativo e exigente, já que o prolongamento da vida é um fato.

Esse fenômeno não é tipicamente brasileiro. Essa população, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), deve chegar a 2 bilhões de indivíduos até 2050. Desse total, 1,7 bilhão estarão vivendo em países em desenvolvimento – é caso do Brasil –, a menos que o país corrija distorções abissais que teimam em não figurar no calendário de prioridades dos políticos. No Brasil, esse estrato da população deve aumentar 15 vezes até 2025, chegando a 34 milhões de pessoas. Hoje, pessoas com mais de 60 anos representam 9% da população brasileira. Além disso, as projeções permitem supor que a expectativa de vida do brasileiro chegue a 80 anos..

Os homens vivem, em média, 68 anos, e as mulheres, 73. O Orestes Forlenza, psiquiatra do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de São Paulo (FMUSP), diz que “com o envelhecimento da população, aumenta a incidência de doenças próprias da idade, como cardiovascular, osteoporose, depressão etc., comprometendo, sensivelmente, a qualidade de vida dessas pessoas, caso não sejam tratadas de forma adequada”.

Portanto controlar as doenças que acometem a pessoa idosa é fazer com que ela se torne não um apêndice da sociedade, mas um membro participante ativo, exatamente o que propôs o 18o Congresso Mundial de Gerontologia, ocorrido no Rio de Janeiro, em 2005, que teve como tema Envelhecimento ativo no século XXI: participação, saúde e segurança. O evento, o primeiro do gênero a ter como sede um país da América Latina, trouxe médicos e pesquisadores dos EUA, do Canadá, da Suíça, de Gana e da Alemanha.

Só medicamentos

O congresso debateu envelhecimento ativo no âmbito do conceito formulado pela OMS. Para a organização, envelhecimento ativo é o “processo de otimização de oportunidades de saúde, participação e segurança, de forma a garantir qualidade de vida na medida em que as pessoas envelhecem". O evento estabeleceu que o envelhecimento ativo é um processo que precisa ser visto dentro do “prisma de curso de vida, em uma visão intergeracional, de qualidade de vida, pautado na ética, na sociedade e nas questões de desenvolvimento”. Segundo o congresso, seis são os determinantes para um efeito envelhecimento ativo: serviços de saúde e serviços sociais, determinantes biológicos e individuais, determinantes comportamentais, meio ambiente e barreiras arquitetônicas, determinantes sociais e determinantes econômicos. Embora todos sejam fundamentais, os aspectos de saúde, biológicos, comportamentais e econômicos saltam aos olhos.

E saltam não só porque são premissas básicas desse envelhecimento ativo como dizem respeito diretamente ao negócio farmácia, já que estão ligados ao bem-estar físico e emocional do idoso. No aspecto de serviços de saúde e sociais, o congresso concluiu que os sistemas de saúde precisam adotar uma perspectiva de curso de vida focada na promoção de saúde, na prevenção de doenças e no acesso imparcial a cuidados primários de qualidade e a cuidados prolongados de saúde.

Nos determinantes biológicos, aludiu-se ao fato de que os genes podem estar envolvidos nas causas de doenças, muitas delas provocadas por fatores ambientais e externos em uma proporção bem maior que as causas genéticas e internas. Nos determinantes comportamentais, preconizou-se a adoção de hábitos e de estilo de vida saudáveis, associados à participação ativa; nos econômicos, a valorização de uma mão-de-obra experiente e agregadora de valor.

É esse consumidor que entra na farmácia para adquirir um medicamento e que, na esmagadora maioria das vezes, leva só o medicamento mesmo. Embora esse produto seja o que o motiva – não sem alguma lamentação – a ir à farmácia, ele não precisa ser o único produto a ir para cestinha. Mas é. E isso tem duas explicações: o farmacista não sabe explorar a “visita” desse cliente à loja, e medicamento é, de fato, o que o idoso mais procura na farmácia.

Geraldo José Ballone, psiquiatra, ex-professor de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da Pontifícia Universidade Católica de Campinas (Puccamp), diz que, de maneira geral, em países mais desenvolvidos, embora os idosos componham 18% da população geral, são responsáveis por quase 40% das prescrições. “Nesse grupo, 1/3 dos idosos não costuma tomar nenhum medicamento, 1/3 faz uso de uma ou duas drogas, e 1/3 utiliza três ou mais remédios; são em torno de 10% os idosos que utilizam cinco ou mais medicamentos.”

A polifarmacoterapia

O psiquiatra afirma que a elevada prevalência de polimedicação entre os idosos está associada ao número de diagnósticos médicos presentes, ou seja, quanto maior o número de problemas médicos identificados, maior a lista de prescrições, embora essa nem sempre seja a conduta correta. “Outro risco da polimedicação em idosos é a possibilidade de se utilizar medicamentos considerados impróprios para uso nessa faixa da população.” Um paciente hipertenso, por exemplo, com sintomas concomitantes de depressão, ansiedade e insônia, pode acabar fazendo uso de um betabloqueador (propranolol), um antidepressivo, um ansiolítico e um hipnótico. “Nesse exemplo, pode ser a melhor opção a simples substituição do propranolol, facilitador da depressão emocional, por outro anti-hipertensivo”, acentua. Decorre da sensibilidade médica e de uma anamnese bem feita a escolha ideal da medicação ou das medicações.

Segundo Ballone, do total de medicamentos prescritos, 32% são para problemas cardiovasculares, e 24%, transtornos neuropsiquiátricos. “Entre os psicofármacos, as drogas mais utilizadas são hipnóticos, ansiolíticos e antidepressivos.” No capítulo das psicopatologias, os transtornos de humor foram os quadros mais recorrentes em 52,7% dos casos; demência, em 20,6%; transtornos de ansiedade, em 10,3%; esquizofrenia e transtornos delirantes, em 5,4%; e dependência de benzodiazepínicos, em 4,3%. Entre as medicações psicotrópicas, os antidepressivos foram os mais freqüentemente utilizados em 42,4%, seguidos de ansiolíticos com 21,2% e de neurolépticos com 20% dos casos. “Em relação aos diagnósticos clínicos, 41,8% apresentaram doenças cardiovasculares; 10,9%, diabetes; 8,7%, transtornos neurológicos; 4,9%, neoplasias – foram os grupos mais freqüentes.”

As cardiopatias estão presentes em dez em cada dez pacientes idosos. Medicamentos anti-hipertensivos, antiarrítmicos, digitálicos e redutores de colesterol estão sempre no orçamento dos idosos. Eles contribuem como uma fatia importante das vendas dessas drogas. Em 2007, só as vendas globais de redutores de colesterol atingiu o valor de US$ 37 bilhões. “A doença cardiovascular, em especial a doença coronária, tem maior prevalência nos idosos e é responsável por mais de dois terços das mortes cardíacas”, afirma Antonio Carlos Leitão Campos Castro, doutor em Medicina pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e fellowship pela Cornell University Medical College. “A doença isquêmica do coração, tanto infarto agudo do miocárdio – ou morte súbita – quanto doença coronária crônica, é o achado patológico mais comum nos pacientes idosos.“

Silentes e perigosos

E com as doenças coronarianas, o diabetes é outra ocorrência muito comum nessa população. Possui uma característica perversa, porque, tal como a hipertensão arterial, não apresenta sintomas. Jackson Caiafa, angiologista, cirurgião vascular, membro titular da Sociedade Brasileira de Angiologia e Cirurgia Vascular e presidente executivo da Associação Carioca de Diabéticos, diz que é comum os pacientes levarem cinco anos para descobrir que estão com a doença, o que pode comprometer outros órgãos. Ele acredita que metade dos pacientes com diabetes tipo 2 não sabe da existência da doença. Isso ocorre, segundo ele, porque a glicose aumenta muito lentamente, provocando secura na boca, maior necessidade de urinar, de beber água e de comer. Porém, tais sintomas passam despercebidos. Dos pacientes que têm o diagnóstico, a metade, de acordo com Caiafa, não faz o tratamento adequado.

Essa desinformação a respeito da doença é que faz com que uma em cada quatro pessoas, com mais de 65 anos de idade, sofra, sem saber, de diabetes tipo 2. “Eis aqui uma função essencial para a farmácia, bem dentro da concepção de agente de saúde”, alerta Bonini. “Em vez de ficar aguardando a indústria produzir folhetos para os clientes, o próprio farmacista poderia fornecer esse tipo de informação para os seus atendentes, que a repassariam para os idosos, alertando-os sobre a doença.” Bonini lembra ainda que o farmacista pode organizar palestras a respeito do tema para a comunidade em geral. “O que se vê, entretanto, é a atitude passiva de muitos em aguardar que a indústria farmacêutica forneça material de suporte para as vendas do medicamento. Só que o farmacista não percebe que sua clientela de idosos é apenas mais uma para a indústria, ao passo que, para ele, é a única que tem no entorno do seu PDV.”

Segundo dados da IDF, sigla em inglês para Federação Internacional de Diabetes, há, hoje, no mundo mais de 230 milhões de diabéticos, número que pode chegar a 350 milhões nos próximos 20 anos, em um incremento de seis milhões de novos doentes a cada ano, caso nada for feito contra a má alimentação e o sedentarismo. De acordo com dados da Pesquisa de Orçamentos Familiares do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (POF–IBGE), 10,5 milhões de brasileiros com 20 anos ou mais são obesos, ou seja, 8,9% da população masculina e 13,1% das mulheres. Se considerada também a população que está acima do peso ideal, o número salta para 40,6%. Trata-se de um mercado vigoroso que movimenta mais de US$ 18 bilhões no mundo todo, somente contando as vendas de antidiabetogênicos (excluindo, portanto, medidores de glicose, lancetas e correlatos). Até 2011, esse mercado pode chegar a US$ 25 bilhões em todo o planeta.

Fratura exposta

O envelhecimento ainda proporciona o surgimento ou agravamento dos quadros musculoesqueléticos, notadamente a osteoporose. Trata-se de uma doença que afeta em torno de 10 milhões de brasileiros e mata cerca de 40 mil todos os anos. É a principal entre as osteopatias e considerada problema de saúde pública. Tanto é assim que o período entre 2000 a 2010 foi eleito pela OMS como a “Década do Osso e da Articulação”. Segundo a International Osteoporosis Foundation (IOF), a osteoporose hospitaliza, por mais tempo, as mulheres de 45 anos de idade que o diabetes, o infarto do miocárdio e o câncer de mama. Dados da mesma entidade mostram que um terço das mulheres e um quinto dos homens com idade acima de 50 anos apresentarão fratura relacionada à doença ao longo da vida. A fratura de fêmur, considerada a conseqüência mais séria, causa a morte de cerca de um quinto dos pacientes no primeiro ano.

Nos EUA, 10 milhões de pessoas sofrem com algum tipo de osteopatia. Por lá, ocorrem 300 mil fraturas todos os anos – 33% delas entre as mulheres e 20% entre os homens com idade superior aos 50 anos. Estima-se que, na América, indivíduos acima dessa faixa etária experimentarão uma fratura de quadril, espinha ou pulso pelo menos uma vez ao longo da vida. “As fraturas de quadril e suas complicações de curto e de longo prazo, assim como seu tratamento – cirúrgico ou imobilização no leito – são motivo de muita preocupação entre a classe médica, pois, 24% dos pacientes falecem dentro do primeiro de ano”, afirma Armando Miguel Júnior, doutor em Medicina Interna pela Unicamp, professor titular do Departamento de Clínica Médica da Puccamp e professor do curso de pós-graduação em Clínica Médica da mesma instituição.

De acordo com o médico, estudos norte-americanos mostram que, aproximadamente, 50% dos sobreviventes ficam com algum nível de incapacidade, e 25% passaram a requerer cuidados especiais. “Há um crescimento exponencial da incidência de fraturas do fêmur proximal na sétima década de vida nas mulheres e na oitava entre os homens”, alerta. Dadas as graves complicações das fraturas do fêmur, inúmeras campanhas são feitas para conscientizar as mulheres e a classe médica visando à sua prevenção, mas, em relação aos homens, pouco se tem feito a esse respeito, uma vez que se acreditava que a osteoporose tivesse baixa incidência entre esse grupo. “Os novos conhecimentos da fisiopatologia da osteoporose, a disponibilidade crescente de terapêutica eficaz para o tratamento e a redução do risco de fraturas ainda não nos permitem celebrações, pois, lamentavelmente, pouco se tem feito em relação aos pacientes do sexo masculino.”

A urgência do Alzheimer

Mais uma vez o papel da farmácia é o de alertar o consumidor sobre a doença. Ela também quase não provoca dores no início, e seus sintomas são discretos. Mas, com o avançar da idade e a perda da massa óssea, o risco de fraturas cresce. Em mulheres, a fratura vertebral é observada em 16% dos casos; a do fêmur, em 17,5%; e a do pulso está presente em 16% das pacientes. Em 39,7% das pacientes é possível observar um dos três tipos. Prevenção é, como de hábito, o melhor remédio. "Seja em consulta clínica ou pelos exames específicos, a identificação precoce da osteoporose é fundamental para um tratamento preventivo de sua evolução", explica Evelin Goldenberg, mestre e doutora em Reumatologia pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). Medicamentos específicos são bastante resolutivos. Os bisfosfonatos, talvez a principal classe de droga contra as osteopatias, movimentaram US$ 6 bilhões nos EUA em 2007.

Se atentarmos para o envelhecimento da população, cada vez mais se verá a necessidade de novos medicamentos – e cada vez mais específicos – para essa população. A Gerontologia há tempos vem ganhando a companhia de outras especialidades, que a torna mais e mais refinada na busca de soluções para os problemas que afetam a chamada “melhor idade”. É o caso da Neurologia. Tome-se a doença de Alzheimer, por exemplo. Poucas doenças são tão temidas e devastadoras quanto ela na terceira idade. Caracterizada pelo declínio acentuado da capacidade cognitiva, o Alzheimer compromete a memória, o raciocínio e o comportamento de modo geral. Tudo se agrava à medida que o paciente envelhece. Dados do IBGE estimam uma prevalência da doença de Alzheimer que vai de 200 mil a um milhão de pacientes, com a incidência de 100 mil novos casos por ano. Na população acima de 65 anos, acomete, pelo menos, 10% das pessoas e chega a afetar metade dos pacientes com 80 anos ou mais.

Várias são as drogas à disposição, e novas estão a caminho. Uma delas está baseada na droga Dimebon. No mercado russo, a droga atuava contra a rinite alérgica nos anos 80, mas foi retirada do varejo por conta de novos princípios ativos mais novos e eficazes. Entretanto pesquisadores americanos da Universidade da Califórnia descobriram que a droga ajuda na preservação da memória recente, equilibra o comportamento errático do paciente com Alzheimer e devolve-lhe certas habilidades simples como alimentar-se sozinho. Testes com animais mostraram que a droga tem um efeito protetor junto às células do cérebro. Rebecca Wood, chefe executiva do Alzheimer's Research Trust, de Londres, afirma que mais estudos desse tipo são "desesperadamente necessários, se quisermos oferecer ajuda para as pessoas que sofrem com o Alzheimer e outras deficiências mentais".

Mercado de bilhões

A Decision Resources, Inc., uma das principais empresas de consultoria e de pesquisa do mundo para questões farmacêuticas e de atendimento à saúde, divulgou, em 2007, que as drogas anti-Alzheimer Alzhemed® (tramiprosato), da Neurochem, e R-flurbiprofeno (Flurizan®), da Myriad Genetics, ambas não disponíveis no Brasil, responderão por quase 60% do mercado de drogas para tratamento dessa doença até 2015. Ambas as drogas, ainda em fase de estudos, mostraram-se promissoras no desenvolvimento clínico prematuro e serão os primeiros tratamentos para a doença de Alzheimer que modificam o curso da doença. No relatório denominado Doença de Alzheimer, a consultoria afirma que o Alzhemed® e o Flurizan® responderão por 46% e 13% das vendas, respectivamente, nos principais mercados farmacêuticos em 2015. Tais drogas obviamente estarão disponíveis no Brasil, tão logo sejam liberadas nos EUA e aprovadas pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).

Drogas tipo AchEIs, sigla em inglês para inibidores da acetilcolinesterase, e NMDAs (ácido N-metil-D-aspartato), classe das duas drogas em questão, estabilizam ou adiam, por pouco tempo, o declínio cognitivo que os pacientes da doença de Alzheimer sofrem, mas faltam a esses agentes o potencial de real modificação da doença. "A necessidade de drogas mais eficazes para a doença de Alzheimer é tão crítica, que quaisquer agentes que recebam aprovação reguladora obterão participação de mercado; provavelmente, o Alzhemed® e o Flurizan® mostrarão eficácia variável, mas mesmo assim obterão uma parte significativa do mercado de drogas para tratamento da doença de Alzheimer", ressalta Kate Hohenberg, diretora da Decision Resources, Inc. Esses medicamentos estão diretamente direcionados aos 5% da população com mais de 65 anos e a um terço dos maiores de 80 anos que sofrem de Alzheimer, patologia que é a terceira causa de morte no país depois do câncer e das doenças coronárias.

Frank LeFerla, do Departamento de Neurobiologia do Comportamento da Universidade de Irvine, Califórnia, EUA, diretor de uma equipe de pesquisadores que estudam novos tratamentos contra o Alzheimer, afirma que "os cálculos atuais mostram que, até meados deste século, só nos EUA, haverá 20 milhões de portadores da doença". A Decision afirma que só nos sete principais mercados do mundo – EUA, Alemanha, Rússia, Japão, Reino Unido, França e Brasil – serão 6,6 milhões os doentes de Alzheimer. Dimebon®, cujo lançamento está previsto para 2011, pode atingir vendas de US$ 1,5 bilhão, que, somadas às de Flurizan® e de Alzhemed®, podem fazer o mercado chegar potencialmente a US$ 9,5 bilhões (mundo) até 2017. Se a esse mercado forem adicionadas as drogas contra a doença de Parkinson, muito freqüente nas populações acima dos 50 anos, há de se entender por que o idoso deve ser tratado como um rei no ponto-de-venda.

Depressão à vista

Muitos idosos preferem ser atendidos na farmácia na qual, geralmente, sabem que não há todos os medicamentos de que precisam, porque lá eles têm condições de fazer algo que gostam e do qual são constantemente privados pelo corre-corre dos parentes: conversar. Ser atendido com atenção, muitas vezes, faz com que o idoso esqueça, ao menos temporariamente, de uma outra condição que o afeta e que o faz experimentar um sofrimento significativo: a depressão. Segundo pesquisa realizada pelo Departamento de Psicologia Médica da Universidade de Sidney, Austrália, cerca de 10% da população mundial de idosos apresenta quadros depressivos, que necessitam de tratamento, o dobro da prevalência na população em geral. Muitos médicos, porém, têm dificuldade em reconhecer a depressão nos idosos, pois, geralmente, a doença está associada a algum problema físico, doença ou incapacitação.

André Luiz Iório, mestre do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da FMUSP, diz que a depressão pode agravar doenças já existentes e até aumentar o risco de morte entre os pacientes idosos. “A família, portanto, tem o papel fundamental de incentivar a busca por tratamento, quando notar alguns dos sintomas clássicos, como falta de disposição e tristeza.” Para esses pacientes, há inúmeras opções terapêuticas, e, por conta da polifarmacoterapia a que geralmente está submetido, o idoso deve ficar atento e interagir com o médico no que diz respeito à estratégia medicamentosa. “O segmento de antidepressivos movimenta globalmente mais de US$ 20 bilhões de dólares por ano; as vendas nacionais de antipsicóticos chegaram à casa dos US$ 7,2 bilhões em 2007”, ressalta Bonini. “Depressão já é ruim em qualquer faixa etária, em idosos é pior ainda; o farmacista com um planejamento bem estruturado de apoio a esse paciente pode lucrar muito.”

Até porque estamos falando de um cliente dono, no geral, e quando não acometido por uma patologia extremamente debilitante ou limitante no pleno gozo de suas faculdades mentais e físicas. Tanto é assim que estudos comprovam que a vida sexual da pessoa idosa melhorou muito dos anos 70 para cá. Pesquisadores da Universidade de Goteborg, Suécia, dirigidos por Nils Beckman, estudaram os resultados de entrevistas realizadas com septuagenários em vários períodos: 1971-1972, 1976-1977, 1992-1993 e 2000-2001. No total, 1.500 pessoas, heterossexuais, foram entrevistadas sobre sua vida sexual. No geral, constatou-se que as pessoas nessa faixa etária mantiveram relações sexuais mais freqüentemente e com um nível de qualidade, por eles mesmos apontado, como muito bom. "Nosso estudo mostra que os mais velhos consideram a atividade sexual e seus prazeres como uma parte natural da vida idosa", dizem os autores.

Sexo e sexualidade

Para a professora Peggy Kleinplatz, da Universidade de Ottawa, no Canadá, o estudo reforça o papel positivo da vida sexual para as pessoas com mais de 70 anos e é uma contribuição bem-vinda para a limitada literatura sobre o comportamento sexual dos idosos. Ela espera que a pesquisa ressalte a necessidade de os médicos serem treinados a perguntar a todos os pacientes, independente da idade, sobre questões relacionadas ao sexo. Petra Boyton, especialista em psicologia do sexo e relacionamento da University College, em Londres, afirma que é importante lembrar que uma pessoa que fez 70 anos, no ano 2000, teria sido influenciada pelas atitudes sexuais mais livres das décadas de 1960 e 1970. Além disso, ela sugere que esses idosos poderiam ser mais saudáveis e em forma que aqueles que completaram 70 anos em períodos anteriores a 2000. "Ainda temos o estereótipo dos idosos com suas bengalas, que não poderiam ter uma vida sexual ativa. Mas esse não é o caso", afirma a especialista.

A pesquisa, publicada no British Medical Journal, aponta também que o número de homens com problemas de ereção diminuiu. E isso se deve muito à revolução que as drogas contra a disfunção erétil (DE) – da qual o Viagra® foi o grande pioneiro – proporcionou. Líder incontestável de mercado até 2007, o produto da Pfizer chegou a ser vendido a uma taxa de 700 mil comprimidos/mês em 2005. Chegou a responder por 74% das vendas e 43% das prescrições médicas, ultrapassando em vendas marcas consagradas como o analgésico Dorflex®, por exemplo. Aproveitou bem o reinado até o ano passado, quando foi destronado pelo Cialis®. Com uma ação de até 36 horas sobre a função erétil (contra durações de 4 a 8 horas oferecidas pelos seus concorrentes), o Cialis®, da Elli Lilly, avançou sobre o concorrente e hoje abocanha 43,85% do mercado contra 38,3% do Viagra®. Levitra® (Bayer), com 11,48%, e Vivanza® (Medley), com 6,28%, vem a seguir.

Cerca de 150 milhões de homens em todo o mundo sofrem de impotência sexual, e metade dos homens acima de 40 anos tem alguma dificuldade de ereção. Estima-se em cerca de 11 milhões o número de brasileiros que sofrem de DE, mas apenas 10% procuram tratamento. “O medo de procurar tratamento para DE é o mesmo que o homem tem em procurar o urologista para tratamento da próstata; e tem a ver com a ‘macheza’ que ele acha precisa exibir sempre”, dispara Leandra Folgossi, psicoterapeuta paulistana. “É importante salientar que há um lado negativo nessa redescoberta da sexualidade do idoso, que é a falta de proteção nos relacionamentos sexuais, com a conseqüente contaminação dos parceiros por DSTs, principalmente Aids.” E isso é fato. Contrariando os números em descenso de casos de Aids no Brasil em diversos estratos populacionais, o número de casos de Aids entre os idosos vem crescendo.

Proteção contra Aids

De acordo com o relatório, em 1994, do Programa Nacional de DST/Aids do Ministério da Saúde, os idosos com mais de 60 anos representaram 2% do total de casos de HIV notificados no país. Proporcionalmente, até junho de 2004, o percentual de casos foi 3,1%. Em números absolutos houve um crescimento de 6,9%. Hoje, 8.339 pessoas com mais de 60 anos sofrem com a doença. Juvêncio José Duaillibi Furtado, primeiro secretário da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), chefe do Serviço de Infectologia do Hospital Heliópolis de São Paulo e professor da Faculdade de Medicina do ABC de Santo André, diz que já existem programas de adesão específicos para idoso. “O idoso precisa de um programa de incentivo de adesão ao tratamento. Às vezes, é difícil para ele falar do problema; o médico deve estar atento para, talvez, prolongar um pouco mais a consulta. Temos uma população crescente de infectados nessa faixa etária, que demanda atitudes de urgência.”

Uso de medicação entre pacientes idosos e diagnósticos psiquiátricos mais comuns

Transtornos do humor 52,7%
Demência 20,6%
Transtornos de ansiedades 10,3%
Esquizofrenia e transtornos delirantes 5,4%
Dependência de benzodiazepínicos 4,3%

Diagnósticos clínicos mais freqüentes entre os pacientes idosos em uso de medicação

Doenças cardiovasculares 41,8%
Diabetes 10,9%
Transtornos neurológicos 8,7%
Neoplasias 4,9%

Medicamentos mais prováveis de iatrogenia

Drogas ........... %

Quimioterápicos 22,2
Digitálicos 16,7
Neurolépticos 11,1
Antiinflamatórios 11,1
Benzodiazepínico 5,6
Corticosteróide 5,6
Antidepressivo 5,6
Hipotensor 5,6
Sulfato ferroso 5,6
Warfarin® 5,6

Medicamentos mais usados por idosos*

Drogas............. %

Vitaminas 8,4
Analgésicos 8,4
Psicolépticos 6,1
Anti-hipertensivos 5,8
Antinflamatórios 5,6
Diuréticos 4,8
Antiulcerosos 3,7
Betabloqueadores 2,9
Suplementos minerais 2,7
IECA** 2,5

Fonte: BALLONE GJ. O uso de medicamentos nos idosos e a iatrogenia

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