10.16.2008

Gordura trans / Colesterol / Ácido graxos ômega-3 / check-up para adolescente

44% das crianças têm colesterol elevado

Uma pesquisa da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) com 1.937 crianças e adolescentes entre dois e 19 anos atendidos no Hospital das Clínicas da universidade constatou que quase metade deles possui índices altos de colesterol e triglicérides.

Segundo o estudo, realizado entre 2000 e 2007, 44% dos pesquisados apresentaram índices elevados de colesterol.

"Eu exagerava nos alimentos ricos em gordura quando tinha 11 anos e meu colesterol estava em 269 mg/dL. Então iniciei o tratamento com dieta e esportes. Hoje meu colesterol é 160 mg/dL", diz a estudante Jéssica Rossi Ruggeri, 17, que ainda precisa diminuir seu índice.

A pesquisadora responsável, Eliana Cotta de Faria, do Departamento de Patologia Clínica da Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp, atribui os altos índices a fatores de risco como sedentarismo, má alimentação, obesidade e diabetes, além da hereditariedade.

De acordo com a pesquisa, 44% das crianças entre dois e nove anos apresentaram valores alterados do colesterol total, 36%, do LDL (colesterol ruim) e 56%, dos triglicérides. Os altos índices de triglicérides estão associados a um risco maior de doença coronariana.

O resultado foi muito similar no grupo dos adolescentes e jovens de dez a 19 anos. "Não é de se estranhar que a população hospitalar tivesse índices um pouco mais altos. Mas não imaginávamos que estes índices seriam tão altos", diz Faria.

Não há dados brasileiros sobre a taxa de colesterol entre crianças e adolescentes, e, segundo Ieda Jatene, presidente do departamento de cardiologia pediátrica da SBC (Sociedade Brasileira de Cardiologia) não é possível extrapolar os números encontrados na Unicamp para o resto do país.

Gordura trans

Para Roseli Sarni, pediatra e presidente do Departamento de Nutrologia da Sociedade Brasileira de Pediatria, uma das explicações para os níveis elevados de colesterol, além de maus hábitos alimentares em geral, é o mau entendimento dos rótulos de produtos com gordura trans. "Quando a mãe lê zero, ela entende que o alimento é livre desse tipo de gordura, o que não é verdade", diz. A legislação admite que o fabricante diga que seu produto tem "0% de gordura trans" quando tem até 0,2 g do elemento por porção. Com isso, a criança é liberada a consumir alimentos com esse tipo de gordura.

A prevenção, segundo Eliana Faria, começa com o estilo de vida da família, que é transposto para a realidade da criança. "Uma criança não pode decidir comer mais legumes se os pais não compram legumes", diz.

Para diminuir os níveis de colesterol no sangue, devem ser priorizados dieta balanceada e exercícios físicos. É preciso estimular o consumo de frutas, verduras, legumes e peixes marinhos, reduzir o consumo de óleos, açúcares e gorduras e preferir alimentos integrais.

As mudanças, no entanto, não devem ser drásticas, pois a criança pode ficar ainda mais resistente em mudar sua alimentação. "Começamos com uma mudança quantitativa, para depois fazer a qualitativa", diz Sarni. Isto é: o recomendado é reduzir alimentos que aumentam o colesterol ruim, para, gradativamente, substituí-los por opções mais saudáveis.

Medicamentos

Em julho, a Academia Americana de Pediatria tomou uma decisão radical em relação às crianças com colesterol alto: orientou que os pequenos acima de oito anos sejam medicados com drogas (estatinas) para prevenir doenças cardíacas.

No Brasil, os pediatras indicam medicamentos a partir dos dez anos, mas apenas para crianças com uma doença genética chamada hipercolesterolemia familiar, que eleva os níveis de colesterol, independentemente do estilo de vida. Para as demais, eles defendem uma dieta equilibrada associada a exercícios físicos.

A cautela tem justificativa. Não há estudos a longo prazo sobre o uso das estatinas em crianças ou que mostrem que, usando a medicação precocemente, elas estarão mais protegidas do que aquelas que iniciaram a terapia na vida adulta.


Ácidos graxos ômega-3 podem reduzir mortalidade em pacientes cardíacos

Uma cápsula diária de ácidos graxos poliinsaturados ômega-3 pode reduzir a mortalidade e as internações devido a doenças vasculares em pacientes com problemas cardíacos, enquanto as estatinas - usadas para combater o colesterol - quase não surtem efeito.

Esta foi a conclusão de dois estudos do Grupo Italiano para o Estudo da Sobrevivência na Insuficiência Cardíaca (Gissi, em italiano), dirigidos pelos professores Luigi Tavazzi e Gianni Tognoni, informa a revista médica "The Lancet".

Os pesquisadores dividiram os pacientes em dois grupos: os do primeiro (3.494 pessoas) receberam uma cápsula diária de ômega-3, enquanto os 3.841 doentes do segundo grupo tomaram placebo.

A maior parte dos pacientes do grupo que recebeu o placebo (2.053, equivalente a 59%) morreu ou teve de ser hospitalizada devido a problemas cardiovasculares. Já no outro grupo, o número foi de 1.981 pessoas (57%), o que equivale a uma redução efetiva de 5%.

Os pesquisadores analisaram os resultados de outro estudo realizado em 357 centros cardiológicos da Itália sobre os efeitos da rosuvastatina em pacientes cardíacos, cuja evolução foi acompanhada durante quatro anos.

Um total de 2.285 pacientes recebeu estatina de dez miligramas diariamente, enquanto outros 2.280 receberam placebo.

No primeiro grupo, 657 pacientes (29% do total) morreram devido a diversas causas no primeiro grupo, frente aos 644 (28%), no segundo.

A proporção de pacientes que morreram ou tiveram de ser hospitalizados devido a algum problema cardiovascular também foi similar em ambos os grupos: 57% no primeiro caso e 56%, no segundo.

O doutor Gregg Fonarow, do Centro de Cardiomiopatia Ahmanson-UCLA, em Los Angeles, comentou os resultados na "Lancet".

"No caso dos suplementos de ácidos graxos ômega-3 foram observados benefícios. No caso das estatinas, infelizmente não",

Hospitais oferecem programa de check-up para adolescente

A estudante angolana Gelcia Dias Inaculo, 15, diz que nunca passou por tantos exames na vida. Ela, que veio com a família de Angola para participar de um check-up do hospital Sírio-Libanês, em São Paulo, diz que acha importante monitorar a saúde para evitar que alguma doença a pegue de surpresa.

Essa é basicamente a idéia dos programas de check-up para adolescentes que ganham espaço em hospitais. Com uma bateria de exames de sangue, de coração, coluna, doenças renais, de pele etc. os jovens são examinados "de cima a baixo" em busca de melhor acompanhar sua saúde, prevenir e detectar doenças em fase inicial.

O serviço, porém, não é unanimidade e é alvo de críticas.

No Sírio-Libanês, onde o programa é oferecido desde agosto, os jovens passam por uma série de exames laboratoriais, de imagem e até um teste de esforço, apontado como importante principalmente para quem freqüenta academia.

O coordenador do núcleo de cardiologista do hospital, Roberto Kalil Filho, diz haver pessoas que não precisam esperar "os 50 anos" para um check-up.

"Se o paciente tem antecedentes familiares importantes, como casos de infarto, deve fazer exames. Em casos de diabetes, hipertensão ou obesidade também, para citar outros exemplos. Há diretrizes médicas que, dependendo da história familiar, recomendam a dosagem de colesterol em crianças", afirma o médico.

Assim como já havia acontecido com executivos, praticantes de esportes e até em comunidades específicas de imigrantes, os adolescentes se tornaram mais um público a receber um check-up personalizado.

O HCor (Hospital do Coração), zona sul de SP, passou a oferecer o produto nos últimos anos. A pediatra Cristiane Ximenes diz que o público jovem veio ao hospital por meio dos próprios executivos que já faziam o check-up. "Eles começaram a trazer os filhos para que pudessem fazer também."

No hospital, onde o preço de um check-up teen está em torno de R$ 2.000, há variações no programa segundo a idade.

Um dos argumentos dos médicos favoráveis ao serviço é o fato de o atendimento ser feito por um hebiatra (especialidade pediátrica que atende adolescente). A consulta clínica é o ponto de partida para encaminhar o jovem a tratamentos específicos além do check-up.

Outro aspecto é o modo de vida do jovem de hoje. Segundo Antonio Foronda, pediatra do Sírio-Libanês --onde o pacote custa R$ 1.600--, manifestações como o isolamento, o sobrepeso e o estresse são exemplos da importância de uma prevenção e um acompanhamento adequados para evitar problemas futuros.

Renato Bertolucci, clínico do Hospital Alemão Oswaldo Cruz (zona sul de SP), afirma que o check-up teen não é novidade nesse hospital. "Fazemos há muitos anos, não sob a ótica do check-up adolescente, mas de europeus que vinham a um país desconhecido e se preocupavam com a prevenção."

Críticas

O check-up para adolescentes enfrenta restrições. Para Antônio Carlos Lopes, presidente da Sociedade Brasileira de Clínica Médica, o programa serve para marcar "sim" ou "não" em uma tabela.

"O adolescente precisa de um clínico ou pediatra que conheça o histórico de saúde do paciente e seu histórico familiar", diz Lopes, segundo o qual a função de hebiatra não é reconhecida como especialidade médica.
O check-up é típico de hospitais particulares. Nos públicos, os exames são mais pontuais.

Apenas 30% dos biscoitos são "zero trans"


Mesmo com as pressões do governo e da sociedade, ainda são encontrados nos supermercados muitos alimentos ricos em gordura trans. Dos biscoitos vendidos no país, por exemplo, apenas 30% são considerados "zero trans", de acordo com a Abia (Associação Brasileira das Indústrias da Alimentação).

No ano passado, representantes das indústrias e dos governos de toda a América se reuniram em Washington, por iniciativa da OMS (Organização Mundial da Saúde), para discutir formas de livrar o continente da gordura trans. Um dos pontos de consenso foi que as medidas voluntárias da indústria não são suficientes. Por isso, os governos devem intervir com "medidas de regulação para proteger de maneira mais rápida e eficaz a saúde da população".

Um ano depois, em junho passado, esse mesmo grupo voltou a se reunir, dessa vez no Rio, e chegou à conclusão de que não se havia avançado muito. O documento final do encontro impôs aos governos que concedam incentivos fiscais aos fabricantes e aos agricultores para que descubram e adotem matérias-primas alternativas.

Tabela nutricional

No Brasil, até agora, a única medida concreta do governo foi a inclusão, em 2006, do item "gordura trans" na tabela nutricional impressa no rótulo dos alimentos. "Isso foi ótimo. Agora temos de perder o hábito de olhar só o preço e a data de validade e ver também a composição dos produtos", diz a médica Maria Cristina Izar, da direção da Sociedade Brasileira de Cardiologia.

O Ministério da Saúde discute com os fabricantes a adoção de prazos para que os supermercados fiquem livres dessa gordura, como ocorre no Canadá e na Dinamarca. O governo espera obter algum compromisso da indústria até o final do ano.

A gordura trans aumenta o LDL (colesterol ruim) e diminui o HDL (colesterol bom) no sangue. Essa combinação causa aterosclerose, um perigoso acúmulo de placas de gordura na parede dos vasos sangüíneos. Isso, em casos extremos, resulta em ataque cardíaco e AVC (acidente vascular cerebral), os males que mais matam no Brasil.

Fonte: Folha de São Paulo

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